Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão (GECP) alerta que não existem alternativas comparticipadas ao Champix, medicamento que foi retirado do mercado em 2021. Custos com fármacos chegam aos 100 euros por mês.
Em setembro de 2021, o Champix começou a ser recolhido das farmácias. A Pfizer, empresa produtora do medicamento de desabituação tabágica, detetou a presença de nitrosaminas, um agente com potencial cancerígeno, e ordenou a sua retirada do mercado.
Era, à data, o único fármaco com comparticipação financeira e desde então o Estado não incluiu um medicamento alternativo na lista de produtos comparticipados.
Ana Figueiredo, médica pneumologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e membro da direção do GECP, alerta que os outros medicamentos equivalentes “são muito caros”. O custo mensal deste tipo de fármacos pode atingir os 100 euros mensais, um valor elevado para muitos fumadores que procuram os serviços de desabituação tabágica.
Com o aumento do custo de vida verificado nos últimos meses, o seu esforço pode encontrar uma barreira intransponível, até porque, adianta Ana Figueiredo, “não sabemos ainda se [o Champix] vai ser reposto ou não” .
A médica pneumologista garante que o Ministério da Saúde está “completamente a par das dificuldades” criadas pela saída do mercado do Champix, admitindo que, tal como está, o sistema de apoio aos fumadores “não funciona”. Questionado pelo JPN, o Ministério da Saúde optou por não comentar.
Utilização de fármacos é decisiva para o sucesso das terapias de desabituação tabágica
No Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, a adição ao tabaco é tratada como “uma toxicodependência”. “Todos os ensaios feitos até à data mostram que se o fumador fica sem a nicotina vai ter uma síndrome de privação”, explica Ana Figueiredo.
Passado algum tempo sobre o último cigarro, os efeitos indesejados não demoram a surgir: a pessoa “fica mais nervosa, mais irritada, mais ansiosa, com dificuldade em se concentrar, com insónia, com uma vontade imensa de fumar”.
Medicamentos como o Champix impedem que a síndrome de privação se manifeste. O acompanhamento psicológico também “é fundamental”, mas com o recurso à medicamentação, o fumador deixará de estar em “privação, o que facilita imenso”. “Duplica, pelo menos, a taxa de sucesso”, garante a médica pneumologista.
Segundo a especialista, “em qualquer toxicodependência, os fármacos normalmente são gratuitos”, pelo que, acentua, não se justifica que o mesmo não aconteça no caso da nicotina. Aliás, “as consultas de desabituação tabágica não pagam taxa moderadora precisamente porque são consideradas consultas de toxicodependência”, refere ainda.
Portugal cai nos índices internacionais de combate ao tabagismo
Em dezembro, o Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão (GECP) divulgou o ranking atualizado da Escala de Controlo Tabágico. Portugal caiu dez posições, encontrando-se agora na 30.º posição, entre os 37 países analisados. O grupo médico-científico diz mesmo que Portugal é um “mau exemplo de políticas públicas para travar hábitos tabágicos”.
Ana Figueiredo dá o exemplo da nova portaria que regulamenta o consumo de tabaco em espaços públicos fechados e que entrou em vigor a 1 de janeiro.
Continua a ser possível fumar nos restaurantes, bares e discotecas que tenham uma área destinada aos clientes igual ou superior a 100m2 e um pé direito mínimo de 3m, desde que sejam cumpridos certos requisitos.
Ou seja, a lei continua “a ter exceções”, o que contraria o espírito da diretiva europeia e “não faz sentido nenhum, quando comparamos com as leis aplicadas nos outros países”.
A especialista ressalva, contudo, que “tem havido um esforço grande” das diversas instituições, nos últimos anos, tanto em “aumento de consultas como em termos de prevenção”. Isso tem permitido diminuir o “consumo de tabaco” e a “prevalência do tabagismo”, sobretudo “entre os homens”.
Artigo editado por Paulo Frias