Rui Moreira fala de uma "revolução" na parte oriental da cidade. Em causa estão 55 km2 com grande potencial de construção urbanística. Autarquia não se compromete com prazo para a conclusão do projeto.
O Plano Urbanístico da Campanhã (PUC) foi apresentado esta terça-feira (17), na Câmara Municipal do Porto. Rui Moreira pretende aproveitar o investimento na Alta Velocidade (AV) para operar uma verdadeira “revolução urbanística” na zona oriental da cidade.
A nova linha de alta velocidade Porto-Lisboa irá ligar as duas cidades em 1h15, a partir de 2030. Para acolher o novo comboio será feita uma remodelação da estação atualmente existente na Campanhã.
O município pretende aproveitar o impulso resultante deste investimento para proceder a uma “vasta operação de requalificação urbana”, expandindo a cidade para oriente, zona onde existe a “maior área disponível para construção e reabilitação imobiliária”, diz Rui Moreira.
Os 55 mil km2 abrangidos pelo PUC ocupam a freguesia da Campanhã e uma pequena parte da freguesia do Bonfim. Para a autarquia, grande parte do potencial de desenvolvimento do Porto para os próximos anos reside neste território. Deste modo, é necessário “regular o seu crescimento”, explica Pedro Baganha, responsável pelo urbanismo no executivo municipal. O objetivo é elaborar um “pequeno Plano Diretor Municipal” específico para a Campanhã.
Anel híbrido a ligar a zona oriental ao centro da cidade
No desenho proposto por Joan Busquets, arquiteto responsável pelo PUC, a estação de Campanhã passará a ter “duas faces”. Para além do edifício existente, virado a poente, será acrescentado um novo prolongamento, orientado para nascente.
A intervenção prevê a construção de uma gare que passe por cima da linha férrea e faça a ponte entre as partes da cidade, até aqui divididas pela linha férrea. Com estas alterações, a autarquia espera ajudar a resolver o efeito barreira que a linha ferroviária desempenha na freguesia mais oriental da cidade.
Em simultâneo, vai ser construído um anel híbrido a partir de “arruamentos existentes” e outros que sejam “propostos”. A intenção é aproveitar o túnel já existente na Rua do Freixo e fazer um novo na Rua do Godinho, passando por baixo da linha férrea. Com estas alterações, reorganiza-se o tráfico automóvel e pedonal à volta da gare da Campanhã.
Para já, o PUC é um primeiro esboço que “ainda não está fechado”, diz Pedro Baganha. A previsão é que, cumpridos todos os trâmites, o plano demore entre 12 a 24 meses a terminar.
Projeto pode ser comparado ao da Expo 98, em Lisboa
Rui Moreira relembra que Campanhã foi sujeita a “décadas de abandono, decadência e descaracterização”. Para o presidente da Câmara chegou a hora de encarar a freguesia como “um território de futuro”, a partir da qual o Porto “pode expandir-se e modernizar-se”.
A chegada da Alta Velocidade, elemento-chave para todo o projeto de intervenção, está prevista para 2030, mas “depende da Infraestruturas de Portugal”, pelo que a Câmara não se compromete com prazos. Pedro Baganha encara o plano numa perspetiva de “médio e longo prazo” e dá mesmo o exemplo da intervenção iniciada pela Expo 98, em Lisboa, que demorou “20 anos a terminar”.
O JPN tentou saber se existe uma previsão da área que se espera poder vir a ser utilizada para efeitos de construção urbanística ou da população que se poderá fixar nesta zona da cidade, por via da implementação do PUC, mas o vereador do urbanismo afirma que ainda “não é possível” avançar com esses dados.
Construção vai começar em breve no Matadouro
À construção do Terminal Intermodal da Campanhã, inaugurado a 20 de julho, seguem-se as obras no Antigo Matadouro Municipal e na Praça Corujeira, com investimentos anunciados de 40 milhões e quatro milhões de euros, respetivamente.
Está ainda prevista a construção de uma nova ligação alternativa ao tabuleiro inferior da Ponte Dom Luís, já batizada Ponte D. António Francisco dos Santos.
Pedro Baganha, vereador do urbanismo, garante que “terminaram as demolições” do edificado antigo do Matadouro e que irão iniciar-se “agora as construções novas”. Quanto à reabilitação da Praça da Corujeira, continua “em fase de anteprojeto”.
Sintonia entre Rui Moreira e João Galamba
Nos últimos anos, a relação de Rui Moreira com o governo viveu alguns momentos de tensão, por causa da TAP. Desta vez, o discurso do presidente da câmara coincidiu, mais que divergiu, do de João Galamba, que fez a sua estreia em eventos públicos enquanto ministro das Infraestruturas, depois de ter substituído Pedro Nuno Santos.
No seu discurso, o membro do governo assegurou que iremos assistir a uma “mudança de paradigma” na ferrovia nos próximos anos, depois de “décadas de desinvestimento”. Minutos antes, Moreira tinha classificado o projeto de alta velocidade como a obra pública mais relevante para o desenvolvimento do país “nos próximos vinte anos”.
Este acerto de agulhas estendeu-se às considerações sobre o PUC, que ambos designaram como uma “revolução”. No final, escaparam juntos por uma porta de acesso à zona reservada dos Paços do Concelho, sem responder a perguntas dos jornalistas.
Artigo editado por Paulo Frias