Se rir é o melhor remédio, no caso dos idosos a risoterapia pode contribuir para uma melhoria no seu estado físico e mental. André Rodrigues, médico, Carolina Vilano, mentora de Yoga do Riso e Sandra Ferreira, animadora sociocultural, partilham os seus testemunhos sobre a aplicação da técnica.

O envelhecimento traz consigo, geralmente, mais problemas de saúde. Mais que isso, o isolamento e a solidão são problemas presentes na realidade de muitos idosos, sejam aqueles que moram sozinhos ou em lares. Nesse sentido, várias instituições têm vindo a desenvolver (ou a abrir portas a) formas de dinamizar, e manter ativa, a vida na terceira idade. Entre elas está a terapia do riso.

A técnica envolve exercícios de respiração e que promovam a gargalhada voluntária – até que se torne contagiante e saia naturalmente. Nos seus vários formatos, seja a cantar, dançar, a fazer teatro, a contar anedotas ou com simples ato de rir, traz um vasto leque de benefícios. 

André Rodrigues, médico coordenador das Residências ORPEA em Portugal, explica: “Quando rimos, são libertadas várias hormonas. É o caso das endorfinas, que ativam as áreas de prazer do cérebro e bloqueiam a dor. São secretadas também outras hormonas importantes: dopamina, que melhora o estado de alerta mental, e serotonina, que tem efeito analgésico e regula o sono“.

Para o médico, o riso e a gargalha são “um antídoto perfeito”. “As pessoas que riem mais e encaram a vida com sentido de humor têm níveis mais baixos de cortisol no sangue“, completa, explicando que a sua libertação combate stress, ansiedade e sintomas depressivos. Mas há mais: “Funciona como um exercício respiratório”,  o que leva ao “aumento dos níveis de oxigénio no sangue”. Nos idosos, isto traduz-se também numa melhoria da psicomotricidade e na aprimoração das capacidades intelectuais.

Carolina Vilano, mentora do projeto portuense de Yoga do Riso “Rir Agora”, refere ainda que a prática promove a socialização. “Mesmo estando em instituições, acabam por estar um bocadinho cada um para seu lado e as relações interpessoais podem não ser muito leves. O riso ajuda muito na leveza dessas relações e a que as pessoas não se sintam tão sozinhas”, diz.

Utentes de lares e residências são quem mais beneficia deste tipo de intervenção. Foto: Paraíso dos Avós

Atividades risonhas para alegrar dias cinzentos

Sandra Ferreira, animadora sociocultural no Centro Social da Paróquia da Areosa, põe em prática regularmente atividades de dinamização e técnicas relacionadas com a terapia do riso. “Ajuda-os a esquecer os problemas que estão presentes na consciência deles. E passam melhor o tempo, sem dúvida”, sublinha.

Uma vez que trabalha com utentes num centro de dia, denota uma “evolução” desde o momento em que chegam ao que precede as atividades relacionadas com o riso. “Chegam aqui tristes, ou mais cansados, seja porque tiveram uma discussão em casa ou porque não dormiram bem, e o riso e a alegria fazem com que eles a seguir já se levantem, tenham entusiasmo e se animem“, conta.

A animadora explica que os benefícios não se cingem à da terapia do riso em si, mas aos efeitos que provoca. Se o utente andar “alegre e satisfeito”, vai mostrar predisposição para participar em outras atividades estimulantes. “Pedimos para fazer outro determinado exercício e faz. Esse exercício vai permitir não só que desenvolva as suas competências a nível mental, mas também motor”, explica.

No que toca a produzir resultados visíveis, salienta a importância da preparação dos técnicos. Nesse sentido, sublinha que se “a forma como se aplica” a técnica incluir clareza, empatia e dinamismo, a reação é mais positiva e há mais recetividade. “A pessoa nem se dá conta que está a viver a terapia. E quando o fazem, é porque se consciencializam de que o que estão a fazer é bom”, diz.

Uma prática com mérito, mas que ainda não chega a todos

 André Rodrigues indica que os idosos em lares “são os que mais beneficiam com a terapia do riso”, pois é nestas instituições que se encontra uma “população muito envelhecida e frágil, com grande prevalência de síndromes geriátricos, nomeadamente demência, quedas e sarcopenia”.

Nesse sentido, a ORPEA promove este tipo de intervenção em todas as suas residências.  “O riso tem muitos benefícios nos seniores, uma vez que ajuda a trazê-los novamente ao momento presente“, diz. Havendo “muita tendência [nos idosos] a evadir-se devido à solidão”, as técnicas de terapia do riso são uma “boa maneira de lutar” contra a mesma e de “ter atividades que estimulem toda a componente cognitiva”, completa o médico.

Mas a realidade não é a mesma em todo o lado. Carolina Vilano explica que, apesar do “avanço grande na abertura para a atividade”, muitas vezes, devido à falta de recursos financeiros, não é possível implementar sessões com a “regularidade” necessária – ou de todo. Idealmente, refere que deveria haver “uma prática semanal, no mínimo” – porém, o mais comum são sessões quinzenais ou mensais.

No entanto, confirma o potencial da técnica pela experiência que tem. Na zona do Porto, tem dinamizado o Centro Comunitário da Sé e o Paraíso do Avós há cerca de dois anos e a Vila Sénior há um, com sessões quinzenais.

“Na sessão em si nota-se que há resposta. Mesmo as pessoas que estão mais paradas, ou que às vezes parece que estão noutro mundo, acabam por responder. Sorriem ou estão atentas”, conta. “Sem dúvida que há uma energia curativa muito forte“, e qualquer pessoa que esteja a assistir “acaba por ser afetada de forma positiva”, diz.

A mentora do Yoga do Riso realça ainda que Portugal está atrasado, em relação a outros países, na difusão destas práticas. Como tal, há ainda reticência na sua aceitação – e com a falta de periodicidade, torna-se mais difícil provar a influência no bem-estar, nomeadamente no físico.

“Em termos de resultados, infelizmente ainda não temos, na maior parte dos locais, a prática de fazermos sessões com a regularidade necessária para que alguns perfis sejam notórios. Para termos estes benefícios evidenciados, como a imunidade principalmente, precisamos que a prática seja mais constante”, reitera. 

Artigo editado por Paulo Frias