A alegada agressão de um atleta do SC Salgueiros a um árbitro, num jogo de futebol do Campeonato de Portugal realizado este domingo (5), lançou de novo o debate sobre a violência no desporto. O JPN esteve à conversa com elementos das direções do clube e da APAF para entender o posicionamento destas entidades.

SC Salgueiros, Conselho de Arbitragem e APAF já reagiram ao incidente Foto: BOOM/ Pexels

No passado domingo (5), o jogo entre o SC Salgueiros e o Marítimo “B” ficou manchado por um incidente que envolveu o atleta Amadu Turé e o árbitro João Loureiro. A partida a contar para a 17.ª jornada da série B do Campeonato de Portugal terminou ao minuto 87 por conta de uma alegada agressão por parte de Turé.

No mesmo minuto, o avançado de 29 anos foi expulso, com vermelho direto, pelo árbitro de Viana do Castelo. Na sequência, Amadu encostou a cabeça ao árbitro João Loureiro que acabou por cair no chão. O jogo foi prontamente interrompido e dado como terminado por não estarem reunidas as condições necessárias para a sua retoma.

Em comunicado oficial, lançado no dia do jogo, o Sport Comércio Salgueiros garante não ter assistido “a qualquer agressão a algum interveniente, assistente ou agente da partida”. O clube referiu ainda que “não compactua com atitudes antidesportivas, condicionadoras do normal desenvolvimento de um jogo de futebol”.

Através de comunicado oficial, o Conselho de Arbitragem (CA) da FPF reagiu também ao sucedido, condenando “veementemente a agressão de que foi vítima o árbitro João Loureiro no decorrer do jogo”. O CA lamenta “que uma vez mais um árbitro tenha sido vítima de um ato indigno e cobarde”. O JPN tentou contactar com o atleta para tentar averiguar o seu parecer sobre o caso, mas sem sucesso.

 

 
 
 
 
 
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Miguel Salvador, diretor desportivo do SC Salgueiros, afirma, em declarações ao JPN, que o clube “é totalmente contra qualquer tipo de violência”. O dirigente reconhece que a atitude do futebolista é “totalmente condenável”, mas acrescenta que “em momento algum o Turé deu uma cabeçada ao árbitro”. O dirigente reitera que não pactua com comportamento violento e que caso tivesse existido uma cabeçada, o atleta “deixaria de ser jogador do Salgueiros no mesmo dia”.

Miguel Salvador assegura que Amadu Turé nunca foi indisciplinado, tendo sido sempre “uma pessoa tranquila e um bom profissional”. Aliás, o guineense já havia passado pelo clube portuense na época transata, deixando claro “o seu perfil enquanto jogador”.

O Salgueiros lamenta que o clube esteja a ser “falado por outros assuntos mais adjacentes à sua história centenária” e espera que a decisão seja tomada o mais breve possível, até porque “faltam nove jogos para o final desta fase da competição”. Contudo, o caso permanece sob instrução no Conselho de Disciplina e o seu desfecho pode estar longínquo. A acumulação de casos por resolver é algo recorrente no CD. A 3 de fevereiro de 2023, o órgão da FPF possuía 22 casos pendentes.

O flagelo da violência no desporto

Na época 2021/22, diz o o relatório oficial do Ponto Nacional de Informações sobre Desporto (PNID), foram registados 4.135 incidentes, a grande maioria associados ao futebol (cerca de 92% dos casos). Além de agressões, estão também em causa a pirotecnia, danos causados, injúrias, incitações à violência e racismo. Isto representa um crescimento relativamente à época 2019/20, em que ocorreram 1.719 casos (86% associados ao futebol). A época 2020/21 não contou com a presença de adeptos nos recintos desportivos, por conta da pandemia Covid-19.

O JPN esteve à conversa com Luciano Gonçalves, presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), de forma a perceber qual a perspetiva que a entidade tem sobre estes casos. O dirigente dos árbitros afirmou não existir “nenhuma fórmula mágica” para resolver estes problemas, mas uma das soluções passa por “condenar e procurar punir de forma exemplar e célere estes casos”.

No entanto, a associação “apenas pode sugerir formas de sancionar e punir” quem afeta o bom funcionamento da conduta desportiva: “Se fossemos nós que mandássemos, era muito mais fácil de resolver. Era colocarmos regimento obrigatório em todos e sempre que estas situações acontecessem, eram pura e simplesmente expulsos”, afirmou o presidente.

Luciano Gonçalves acredita que uma forma de erradicar este flagelo “é exigir aos Conselhos de Disciplina, tanto da FPF como das Associações de Futebol, que cumpram o regulamento, não pelos mínimos, mas por penas, efetivamente, pesadas”.

O dirigente máximo da APAF, afirma que “este é um problema da sociedade” e sublinha que este caso particular se tornou mediático muito por conta da divisão em que o jogo foi disputado e dos clubes em questão. No entanto, Gonçalves deixa claro que “existem situações parecidas a que a Comunicação Social não dá tanto destaque”, incluído “no futebol de formação e com outro tipo de agentes desportivos (pais, treinadores, árbitros, etc.)”.