Imigrar sempre é um desafio, mas a dificuldade aumenta quando se quer abrir um negócio no novo país. Especialmente se é um empreendimento de uma cultura diferente. Dois dos restaurantes coreanos da Invicta, o Sweet Korea e o SIKTAK, sentiram isto na pele.
O Porto continua a crescer como um dos pontos turísticos mais desejados no mundo, tendo sido inclusivamente declarado como o melhor destino turístico da Europa em 2022. À medida que mais imigrantes identificam o Porto como o lugar perfeito para construir uma nova vida longe do país natal, a cidade torna-se mais multicultural do que nunca. Ainda assim, não é fácil começar do zero e adaptar-se a um país com costumes e tradições diferentes.
Os proprietários de dois restaurantes coreanos do Porto, Jenah Sung, dona de SIKTAK e Hoon e Sangmin, donos do Sweet Korea, experimentaram a dificuldade destas adaptações na pele. Não só tiveram que se reajustar como indivíduos, mas também tiveram que encontrar a forma de abrir os seus restaurantes num ambiente totalmente diferente do que estavam acostumados.
O SIKTAK, por exemplo, teve que atravessar por um processo de adaptação ao público português. “No começo, servíamos acompanhamentos num estilo muito coreano”, conta Jenah Sung, a proprietária do restaurante. Na Coreia do Sul, é comum que os pratos sempre sejam servidos com sopa, arroz e vários Banchan (반찬), isto é, pratos pequenos que servem como complemento. Por exemplo, pratos como Kimchi (col fermentada, ingrediente tradicional da Coreia), vegetais, tofu, entre outros.
Não obstante, no Porto, o conceito dos Banchan era completamente novo. “Quando servíamos desta forma (o prato principal servido com acompanhamentos) ficava muito para trás. É fornecido gratuitamente, mas como sempre sobrou muita comida, mudei o nome para ‘Entrada’, um conceito familiar aos portugueses. Dessa forma, as pessoas começaram a entender e a comê-lo facilmente.”, afirma Jenah.
Antes de experimentar a culinária coreana é necessário lembrar que os seus pratos estão longe das práticas ocidentais portuguesas. A essência da culinária está marcada por uma valorização da comida, desde o seu preparo até o consumo.
“A comida coreana é muito diversificada em termos de ingredientes e métodos”, explica Jenah Sung. Quase todos os pratos estão baseados numa dieta principalmente vegetariana, caracterizada principalmente por arroz, sopa, e vegetais temperados, denominados em coreano como Namul (나물). Os molhos também são protagonistas na preparação da comida. Os mais usados são o Gochujang (고추장), uma pasta de pimenta, o Doenjang (된장), uma pasta de soja fermentada e o molho de soja ao estilo coreano.
Os mesmos ingredientes que tornam a comida coreana tão especial, tornam difícil manter os preços nos restaurantes. A maioria não é vendida na Europa. Portanto, muitos têm que ser importados da Coreia. Com o aumento dos preços dos ingredientes e do preço da distribuição, por causa da inflação, obter ganhos torna-se cada vez mais difícil.
Ainda assim, tanto para o Sweet Korea como para o SIKTAK, os clientes continuam a ser prioridade. “Para obter lucro, o preço deve ser aumentado, mas isso aumenta o fardo para os nossos clientes. Os preços continuam iguais, mas é muito difícil”, afirma a proprietária do SIKTAK. Os donos do Sweet Korea partilham o mesmo princípio: “Os preços subiram, mas tentamos manter os preços atuais o máximo possível para os nossos clientes.”
Por outro lado, no que respeita a comida, Hoon e Sangmin não estão muito preocupados com as diferenças entre a cozinha do seu país e a cozinha portuguesa. “Eu não acho que seja um grande problema porque a cultura coreana é tão espalhada”, afirmam.
A atual popularidade da cultura coreana é inegável. O termo usado para descrever o recente sucesso comercial dos elementos culturais do país asiático é Hallyu, palavra que vêm da junção de Han, coreano e Ryu, fluxo. Os exemplos mais famosos são o K-pop (música pop coreana) , a K-Beauty (maquilhagem e produtos para a pele) e os K- dramas (termo usado para denominar as séries sul-coreanas). A fama crescente de tudo o que é proveniente da Coreia do Sul também incrementa, inevitavelmente, o interesse na culinária sul-coreana.
Os restaurantes incorporam elementos que permitem aos clientes sentir-se imersos na cultura do país asiático. Por exemplo, a música que toca nos locais é K-pop. No Sweet Korea, há inclusive um sorteio para ganhar produtos da famosa banda sul-coreana BTS. A decoração dos restaurantes, como os quadros, também alude à cultura coreana.
Para os restaurantes, é essencial manter a conexão com a Coreia do Sul. Contudo, a nível pessoal, para Jenah Sung, conectar com as suas raízes também continua a ser uma prioridade, apesar do grande amor que sente pelo Porto.
O seu restaurante realiza com regularidade workshops e participa em eventos para promover a cultura asiática. Sung também orienta coreanos que visitam a cidade e dirige uma agência de viagens no Porto. Sobre as suas motivações, Jenah afirma que a agência de viagens “é divertida e gratificante. Conhecer pessoas e viajar é uma forma de expandir o meu mundo.” Ainda assim, o SIKTAK continua a ser uma das suas principais prioridades.
Desde a sua apertura, o Sweek Korea e o SIKTAK estiveram caracterizados pelo adaptação dos seus proprietários ao Porto. No entanto, este processo nunca diminuiu a qualidade do serviço oferecido. Os pratos dos dois restaurantes mantém um nível elevado e transmitem com orgulho a cultura coreana.
Artigo editado por Miguel Marques Ribeiro
Este artigo foi realizado no âmbito da disciplina TEJ II – Online