Ana Gabriela Cabilhas explica que o projeto de criação de uma semana de quatro dias no ensino superior pretende diminuir a carga horária dos estudantes e melhorar o aproveitamento do tempo despendido com os professores. Bem-estar e saúde mental dos alunos são os grandes focos do projeto.

Sala de aula vista da mesa do professor, com alunos nas carteiras.

FAP defende adaptação dos métodos educativos no ensino superior Foto: Zafer/ Wikicommons

A Federação Académica do Porto (FAP) apresentou nesta segunda-feira (13) um projeto-piloto para a implementação da semana de quatro dias no ensino superior. A ideia é reduzir a carga semanal de aulas de cinco para quatro dias semanais.

Em declarações ao JPN, a presidente da FAP, Ana Gabriela Cabilhas, explica que a proposta surge no contexto pós-pandemia e pretende aproveitar os ensinamentos que o período de aulas a distância trouxe. “Recebemos relatos por parte de trabalhadores-estudantes que destacaram as vantagens que tinham com o ensino a distância”, diz a dirigente, recentemente reeleita para um novo mandato à frente da instituição académica.

Entre os benefícios, a presidente citou a capacidade dos alunos acederem a recursos de aprendizagem fora do ambiente de sala de aula, e ainda a possibilidade de terem videochamadas com os docentes.

No documento publicado no site da organização e que foi enviado para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), a FAP sublinha que Portugal está acima da média europeia em termos de horas semanais de aulas ministradas em contexto universitário.

Assim, o objetivo é “uma reorganização da jornada de aulas, acompanhada da redução da carga horária”. De acordo com o documento, o volume de aulas atinge, em média, em Portugal, as 21 horas de semanais. Em países como a Bélgica, França e Países Baixos é de 16 a 18 horas, no Reino Unido e Irlanda, de 14 a 15, enquanto na Suécia o número cai para 10 horas.

Assim, a diminuição de carga horária permitiria a existência de mais horas de contacto com os docentes e também facilitaria o estudo autónomo dos alunos. “É uma forma de conseguirmos chamar a atenção para os modelos de ensino”, diz a presidente da FAP. 

De acordo com a proposta, um dia a menos de aulas garantiria aos estudantes mais tempo para atividades extralectivas, que podiam ter caráter formal ou não, como a participação em atividades desportivas, culturais e serviços voluntários. 

Isto beneficiaria o bem-estar e a saúde mental dos estudantes. O relatório da FAP explica que o excesso de horas, juntamente com a pressão para a obtenção de boas notas e a incerteza do futuro profissional a que os alunos estão submetidos, são fatores que “motivam o aumento dos níveis de ansiedade e exaustão“.

No projeto, porém, apontam para um possível “impacto negativo no bem-estar e saúde mental [dos alunos], em caso de inadaptação”. Gabriela Cabilhas, no entanto, está convencida que o projeto acabará por ter “um impacto positivo”.

Fase experimental pode começar já neste verão

Antes de ser tornado público e partilhada com o MCTES, o projeto foi discutido pela federação com as associações de estudantes das faculdades, na sua maioria do distrito do Porto

A FAP aguarda agora por uma reunião com o ministério onde poderão ser discutidos os próximos passos. Caso o projeto-piloto seja aprovado, a FAP pretende que o mesmo possa ser posto em prática já no ano lectivo de 2023/2024.

Nesta primeira fase, as universidades que queiram participar devem voluntariar-se. Para pôr em prática a introdução de mais um dia livre semanal e a diminuição da carga horária, as instituições terão de promover novos métodos de ensino, incentivando o uso da tecnologia. É essencial, também, dar formação ao corpo docente para a implementação da metodologia do projeto.

No final do período de testes, uma autoavaliação será feita para verificar as condições para avançar. Este balanço, defende a organização estudantil, deve ter participação da Direção-Geral de Ensino Superior.

Artigo editado por Miguel Marques Ribeiro