Na passada terça-feira (14), o primeiro-ministro assumiu o papel de professor na aula inaugural do semestre, na Faculdade de Direito da Universidade Católica, no Porto. Durante a palestra, António Costa destacou a importância das boas relações internacionais, com vista à satisfação dos interesses do país.

António Costa ministrou a aula inaugural do semestre, na Faculdade de Direito da Universidade Católica, no Porto. Foto: Pedro Pimparel Serafim

O primeiro-ministro António Costa deslocou-se ao Porto esta terça-feira (14), para uma intervenção na Faculdade de Direto da Universidade Católica Portuguesa intitulada Novos Desafios e Constantes da Geopolítica Portuguesa. Licenciado em ciências jurídico-políticas, o chefe do Executivo inaugurou o semestre, numa aula aberta a todos os estudantes.

Falando no auditório Ilídio Pinho, Costa salientou a importância de Portugal ser “ativo nas Nações Unidas, na NATO, na União Europeia e na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa”, tendo em conta a “dimensão territorial e populacional” do país.

Federação Russa “nunca integrará a União Europeia

O primeiro-ministro não descartou uma retoma de relações com a Federação Russa no futuro, fazendo referência à História para justificar o seu posicionamento: “A vontade que todos temos que ter é que, virada a página da guerra, seja possível estabelecer uma relação pelo menos tão normal como os beligerantes da I.ª Guerra e da II.ª Guerra Mundial conseguiram estabelecer entre si, passados uns anos. Se não for assim, o mundo viverá permanentemente em guerra”.

Contudo, o primeiro-ministro acredita que a Federação Russa “nunca integrará a União Europeia”, mas espera que o país liderado por Vladimir Putin passe por um processo de democratização pós-guerra.

António Costa debruçou-se sobre temas de relações Internacionais, na palestra que deu no Porto. Foto: Pedro Pimparel Serafim

Portugal como exemplo a seguir

O primeiro-ministro sublinhou o apoio que o país tem assegurado, não só à Ucrânia, mas também às nações que fazem fronteira com o país invadido pela Rússia: “Nós recebemos desde o inicio da guerra 56 mil refugiados ucranianos em Portugal, algo que deve orgulhar a sociedade portuguesa, mas também temos apoiado materialmente os países vizinhos da Ucrânia, como a Polónia”, salientou o líder do PS.

António Costa admite que estar na “linha da frente de um processo e de uma crise” localizada no outro extremo da Europa, é um exemplo de que “Portugal, quando se senta no Conselho [Europeu], não se senta só para tratar da sua agenda própria”.

Duas visões, um enorme respeito mútuo

Um dos temas em destaque durante a palestra, foi a boa relação entre Portugal e a Alemanha. “As empresas alemãs são dos maiores e mais antigos investidores em Portugal”, garantiu o primeiro-ministro. Uma união que permite associar “as diferentes técnicas de gestão da Alemanha com a grande criatividade dos trabalhadores portugueses”.

Costa elogiou ainda a postura da Alemanha no Conselho Europeu: “Temos pontos de vista praticamente idênticos sobre quase todas as matérias em discussão na União Europeia. A Alemanha faz um enorme esforço para procurar compreender a posição dos outros países e ajustar os seus interesses à sua própria maneira de viver o mundo”.

A Europa tem que compreender que se quer ter aliados tem que trabalhar todos os dias para criar amizades

O primeiro-ministro recordou o voto de confiança da ex-chanceler da Alemanha, Angela Merkel, quando poucos confiavam no sucesso da política económica do governo socialista. Referiu também o título de “Ronaldo das Finanças” atribuído a Mário Centeno por parte do ex-ministro das finanças alemão, Wolfgang Schäuble.

“Os muros não são solução”

Costa garante que existe uma preocupação acrescida por um constante desenvolvimento das relações com as ex-colónias. O primeiro-ministro assume que o tratamento de Portugal é “incomparavelmente diferente a qualquer tipo de relação que qualquer potência colonial tem com os seus antigos países colonizados”.

António Costa assegurou que este afastamento das relações com territórios fora do continente leva a uma diminuição de apoio recíproco: “Os outros povos olham para uma guerra no continente europeu da mesma forma que a generalidade dos europeus olham para uma guerra que decorre no território da África ou no Médio Oriente. A Europa tem que compreender que se quer ter aliados tem que trabalhar todos os dias para criar amizades.”

A Guerra na Ucrânia não foi esquecida, na apresentação do primeiro-ministro. Foto: Pedro Pimparel Serafim

No que diz respeito à economia, o chefe do governo assume que “a maior tragédia para a Europa” passaria pela “construção de um muro de proteção ao comércio internacional”.

Ajustes necessários no modelo de funcionamento do Conselho Europeu

A figura principal do Partido Socialista não deixou passar em claro um dos tópicos em destaque nos últimos meses: o alargamento do número de países vinculados à União Europeia. Para o primeiro-ministro é necessário que o modelo seja reformulado para garantir o normal funcionamento do Conselho Europeu: “Estamos 16 horas para discutir 3 pontos da ordem de trabalhos a 27. Quantas horas vamos dedicar se passarmos a discutir a 36? Como é que reforçamos a solidariedade orçamental a 36?”, questiona Costa.

Artigo editado por Miguel Marques Ribeiro