A última parte do tríptico "Paisagens, Máquinas e Animais" é uma metáfora sobre o "corpo-máquina" e um manifesto de ética antiguerra.
A peça “Distante” vai ser apresentada esta sexta-feira (17) e sábado (18), às 19h30, no teatro Rivoli, no Porto. Coreografado por Né Barros, o espetáculo completa a trilogia “Paisagens, Máquinas e Animais”. A série iniciou-se em 2019 com “IO”, teve como sequência “NEVE” em 2022, e completa-se agora com “Distante”.
“Do ponto de vista coreográfico a peça é formada pelo jogo de esgrima”, explica Né Barros, em declarações aos jornalistas. Além dos ensaios coreográficos, os bailarinos tiveram aulas de esgrima e as regras da modalidade são aplicadas no espetáculo. “Essa arte de esgrima acaba por contaminar também a movimentação que se cria de uma forma mais subjetiva na parte coreográfica”, revela a artista nascida no Porto.
Cada uma das performances de “Paisagens, Máquinas e Animais” tem um foco particular numa das temáticas contidas no título. No caso de ‘Distante’, a obra foca-se na proposta de um corpo-máquina. É da sua associação com o conceito de técnica que surge a ideia da esgrima: “A possibilidade de evolução através de uma técnica interessa-me”, explica Né Barros.
A esgrima surge como uma modalidade com caráter transformativo: uma forma de combate que “evolui para a dimensão de jogo com imenso respeito pelo corpo do outro”. Né Barros refere como esse respeito confere uma dimensão ética de antiguerra à peça, uma vez que trata de uma evolução “de algo que vem de uma certa carnificina para algo de alta sofisticação”.
No final, “’Distante’ é uma palavra que pode ser convocada por diferentes lados e ao longo da peça. Para mim, é aquela medida que nos permite olhar, por exemplo, a técnica”.
A coreógrafa revela que, apesar dos diferentes espetáculos pertencerem à mesma trilogia, eles são autónomos. “De alguma forma” todos “atravessam estas três dimensões” (“Paisagens, Máquinas e Animais”).
Contudo, foram criados “como objetos que vivem isoladamente”, e por isso podem ser compreendidos mesmo sem serem vistos os restantes. “Mas quem vir as três peças provavelmente cria uma leitura mais abrangente daquilo que estou a tentar explorar”, explica a artista e cofundadora do balleteatro.
O espetáculo é uma coprodução do Teatro Municipal do Porto e do balleteatro. A música é da autoria de Alexandre Soares e ao palco sobem Afonso Cunha, Beatriz Valentim, Bruno Senune e Vivien Ingrams.
Artigo editado por Miguel Marques Ribeiro