A Xylella fastidiosa já obrigou à criação de sete Zonas Demarcadas no Norte de Portugal. Em conversa com o JPN, Joana Costa, Diretora do Laboratório de Fitossanidade Florestal, explica que, ainda que radical, o abate é “a medida mais eficaz para a erradicação da bactéria”.
Desde 2020, já foram abatidas, no Porto, 10 mil espécies vegetais infetadas com a bactéria Xylella fastidiosa.
Foi detetada pela primeira vez em 2019, em Vila Nova de Gaia, em plantas de lavanda. Desde então, a região norte do país tem sido fortemente afetada, obrigando à criação de sete Zonas Demarcadas. Entre elas estão a Área Metropolitana do Porto (AMP), Alijó, Baião, Bougado, Mirandela e Mirandela II, e Sabrosa.
As Zonas Demarcadas surgem de acordo com parâmetros estabelecidos pela União Europeia em 2013, data que marcou a primeira deteção da bactéria na Europa. Nessa altura, foi imposto aos estados-membros que executassem planos de contingência, de modo a controlar a sua propagação. Compreendem as “Zonas Infetadas”, áreas com um raio de 50 metros e que incluem todas as plantas infetadas, e a “Zona Tampão”, uma área de 2,5km que circunda toda a zona infetada.
Em Portugal, a execução dos planos de contingência é controlada pela Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV)
Como conter o risco?
A presença da bactéria representa um risco para o património arbóreo que, só no Porto, se traduz em mais de 65 mil árvores públicas. Em declarações à Agência Lusa, Filipe Araújo, vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, garantiu que o município está disponível para “aumentar a frequência e quantidade de testagem” de modo a detetar e a abater “os exemplares que se encontrarem positivos à presença da bactéria”.
O vice-presidente da autarquia considera “urgente” que se adotem medidas de erradicação da bactéria e afirma que é “fundamental haver investimento neste combate”, salientando que é “igualmente importante” a “preservação do património histórico da cidade, dos seus jardins e parques”.
Filipe Araújo espera ainda uma “ação mais assertiva” da DGAV, bem como “recursos que ajudem a encontrar solução para o problema”.
Quanto às plantas infetadas, o uso de inseticidas, o abate e a queima das raízes, são, para já, a medida mais usual para eliminar a bactéria. Ao JPN, Joana Costa, Diretora do Laboratório de Fitossanidade Florestal e Investigadora na Universidade de Coimbra, justifica o abate como algo “imposto por lei” e “a medida mais eficaz para a erradicação da bactéria” – ainda que, na sua consideração, se trate de uma “medida bastante penosa”.
Contudo, a investigadora refere que noutros casos, a relação entre bactéria e o hospedeiro “não prossupõe a morte declarada da planta”. Nesse sentido, aguarda-se uma possibilidade de “mudança de medidas por parte da União Europeia”, disse a Diretora do Laboratório de Fitossanidade Florestal.
Para Joana Costa, apesar de o abate ser uma medida radical, é feito “a pensar no bom interesse de todo o país e não só de uma região” e procura “a defesa de outros pontos de património biológico do país, bem como de zonas importantes para a economia nacional”.
O foco infecioso encontra-se mais a norte, mas a investigadora afirma que “não tem a ver com condições favoráveis específicas”. A investigadora acredita que o motivo “se prende ao facto de ter sido cá plantada uma planta já infetada”. No entanto, acredita que “as plantas infetadas não foram cá deixadas no passado recente e devem ter, pelo menos, dez anos.”
Afinal, o que é a Xylella fastidiosa?
Em conversa com o JPN, Joana Costa, explica que se trata de uma “bactéria fitopatogénica”, (isto é, que provoca doença em organismos vegetais). Recebe o nome de “Xylella” por “atuar nos xilemas (vasos condutores de substâncias) das plantas” e de “fastidiosa” por “demorar muito a desenvolver-se” e por ser “muito difícil de recuperar em meio de laboratório”.
Foi classificada pela Organização Europeia para a Proteção das Plantas (EPPO) como “bactéria de quarentena” porque, como refere Joana Costa, “possui um impacto gravoso sob as plantas” e “está associado a um plano de contenção e erradicação promovido pela EPPO”.
A propagação pode surgir por consequência “do transporte e plantação de plantas já contaminadas”, por via da atividade humana. No entanto, o contágio de plantas não infetadas pode partir das cigarrinhas-das-espumas, inseto portador da bactéria.
Surgiu na Califórnia, no final do século XIX e destruiu milhares de hectares de vinha. Ficou conhecida como a “doença de Pierce”, exatamente por afetar plantações vinícolas. A Xylella fastidiosa afetou também o Brasil e, aí, recebeu a nomenclatura de “doença da clorose variegada dos citrinos”.
Já na Europa, foi detetada pela primeira vez em 2013, na região de Apúlia, Itália, e afetou, em grande maioria, oliveiras.
Em todos os casos, esta bactéria provocou fortes danos nas mais diversas plantações, afetando questões ambientais e também económicas nos países.
Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira