É em momentos de conflito que o jornalismo revela a importância do seu papel. Na impotência de fotografar uma realidade que não pode mudar, Adriano Miranda aliou-se à “esperança” para retratar a guerra vivida entre a Ucrânia e a Rússia

Ao longo de 15 dias, o fotojornalista aveirense, que ingressou no Público em 1994, acompanhou a história de homens, mulheres e crianças do povo ucraniano. Um ano depois do início da invasão, recorda com apreensão as histórias que ouviu, contou e fotografou nesse período. 

A imprevisibilidade e a incerteza que caracterizam o dia a dia de quem acompanha uma guerra, não deixam margem para preparação. “Não se pode fazer planos, cada minuto é um minuto e nunca se sabe o que vem a seguir”, conta Adriano, em entrevista ao JPN. “A única arma que temos é uma máquina fotográfica”, acrescenta. 

Focado em “alertar a consciência e a opinião pública”, o fotojornalista acredita que o seu trabalho é “uma pequena ajuda” para o fim da guerra. O cenário percecionado pelos seus olhos e pela lente da câmara que carregou consigo eterniza histórias que “só um alzheimer consegue destruir, porque nunca mais saem da nossa memória”, explica Adriano. 

A profissão é desafiante, mas, em contexto de cobertura de guerra, os obstáculos que se impõem ultrapassam os limites e marcam os profissionais da área para sempre: “Há muitas fotografias que eu não fiz mas que tenho aqui registadas na cabeça”, diz o jornalista. 

Uma simbiose entre a escrita e a imagem

Desde jovem que Adriano Miranda possui uma paixão pela escrita. Além de fotografar para o jornal Público, na redação do Porto, o jornalista nunca abdicou dessa vocação. Nas cidades de Lviv e Stryi, recorreu às palavras para dizer o que as fotografias não conseguiam: “Ali, na Ucrânia, senti mesmo necessidade de escrever, além de fotografar, que era a minha tarefa principal”. 

O autor afirma que o momento mais esperado do dia era aquele em que se dedicava à escrita das crónicas: “Era quase pôr as minhas mágoas cá para fora, como uma catarse”, descreve. A necessidade de escrever sobre o seu dia, na hora do recolher obrigatório, era caracterizada, em especial, pela “solidão”. “Era quase como se eu estivesse a falar comigo mesmo”, explica Adriano. 

O processo de escrita, de acordo com o jornalista, passava pela deambulação no terreno, em busca de uma história para contar. “Ter um gancho”, como refere Adriano, isto é, ter algo para se agarrar, tornava-se fundamental para a construção dos textos

A experiência de guerra é, para Adriano Miranda, um ponto transformador na vida de qualquer um, alterando a “maneira de pensar, de viver, de estar, de conhecer os outros e de ser mais tolerante”.

Artigo editado por Miguel Marques Ribeiro