Desde o início do conflito que muitos atletas chegaram a Portugal na condição de refugiados. O Guimagym acolheu um grupo de seis ginastas. Em conversa com o JPN, a treinadora Adriana Castro fala da processo de integração e adaptação destas jovens fugidas da guerra.

As atletas já competem em competições regionais e nacionais em representação do clube. Foto: Guimagym - Clube de Ginástica de Guimarães

A invasão da Ucrânia afetou a população em vários aspetos, incluindo o desporto. Desde 24 de fevereiro de 2022, milhares de pessoas chegaram a Portugal na condição de refugiados, entre elas muitos atletas.

Em Guimarães, o Clube de Ginástica Guimagym acolheu seis ginastas que chegaram a Portugal entre 13 de março e 18 de abril. À conversa com o JPN, Adriana Castro, treinadora de ginástica rítmica do clube, sublinha que a adaptação destas jovens foi algo que pôs à prova o Guimagym.

Adriana fala russo por já ter vivido na Ucrânia e serviu como interlocutora. No entanto, admite que a comunicação das ucranianas com as colegas “não é um problema”, até porque não permite que as suas ginastas falem durante os treinos. Adriana acrescenta ainda que “as seis foram-se ajudando mutuamente”. 

Apesar dos hábitos de treino diferentes, a treinadora refere que “as atletas integraram muito bem os trabalhos desenvolvidos pela academia”.  Uma das ginastas “integra o nível sénior, e foi campeã nacional no ano de 2022”. Adriana afirma ainda que “o clube está a tentar naturalizar a atleta para que possa competir por Portugal”. 

Contudo, a inclusão destas jovens exigiu um esforço financeiro da parte do clube. Assim, o Guimagym conta com “o apoio de empresas e de particulares”, refere Adriana Castro. A treinadora garante que as jovens “não têm gastos com o alojamento, água e luz”, graças a esse apoio.

“O governo também fornece às atletas ajuda por meio do subsídio de inserção social, o que lhes possibilita aceder às necessidades como comida, roupas, serviços de saúde e educação, alguns desses também suportados pelo clube”, refere Adriana.

O impacto psicológico nas atletas

Longe da sua terra natal e a viver somente com as suas mães, as atletas também passaram por um processo de adaptação psicológica às suas novas vidas. Adriana Castro confessa que essa integração “teve impacto na performance das ginastas”. A treinadora diz que “as atletas iam muito abaixo quando viam notícias de forma constante, ou quando recebiam notícias de familiares que se encontram na Ucrânia”. 

Com o passar do tempo, “as jovens acabaram por se concentrar mais noutras coisas e só veem de forma muito geral o que se vai passando no seu país”. A própria treinadora “deixou de consumir tanto as notícias sobre a guerra”, de modo a não concentrar a sua atenção no assunto. Assim, a ginástica serviu como mote para “ultrapassar períodos menos bons para as atletas” e ocupar grande parte do tempo

Quanto a perspetivas de futuro, a treinadora garante que é tudo “uma questão de tempo e de como se vai desenrolar a situação da guerra”. Só o tempo dirá se as atletas continuam no clube: “Nós quando as recebemos, não sabíamos que iria ser por um ano. Pensávamos que eram dois, três meses e que depois acabava. Já cá estão há um ano e tudo se torna imprevisível”, explica a treinadora.

Na ponte entre o momento atual e a incógnita do amanhã, o desporto tem servido como caminho para a integração de jovens refugiados. Para Adriana Castro “este é um exemplo para situações que podem vir a acontecer no futuro”.

Artigo editado por Miguel Marques Ribeiro