A plataforma foi criada por um casal de psicólogos e permite ter acesso a acompanhamento por canais digitais - e até mesmo sem mostrar a cara, se assim se desejar. Em conversa com o JPN, Gonçalo Neves, um dos criadores, explica que se pretendem quebrar os estigmas da psicologia. Nestes moldes, a ideia é ouvir, da forma que deixar o paciente mais confortável, e só depois tentar ajudar.

Gonçalo Neves e Filipa Canêlo Neves já têm 14 anos de experiência no ramo da psicologia Foto: BlindTalk

A BlindTalk nasceu em 2020, logo depois do começo da pandemia. Criada por Gonçalo Neves e Filipa Canêlo Neves, a plataforma permite aos pacientes terem sessões anónimas com diferentes psicólogos – cuja especialidade vá de encontro ao tipo de sintomas que sentem.

As sessões têm um custo de 25 euros, podendo ser guiadas por um dos 19 profissionais à escolha – todos eles registados na Ordem dos Psicólogos. A aplicação acompanhou o crescimento do acompanhamento psicológico online, “mas já existia antes mesmo da crise pandémica e de sequer ser algo usual”, afirma Gonçalo Neves, um dos fundadores.

Na BlindTalk é possível escolher uma consulta na modalidade anónima, tratando-se, porém, da mais curta das opções, com a duração de meia hora. A mais longa, de 50 minutos, exige que os dois intervenientes, psicólogo e paciente, estejam com a câmara ligada.

À conversa com o JPN, o fundador explica que esta estrutura permite que o “primeiro contacto” deixe os utilizadores mais confortáveis. Refere ainda que, nessas sessões, “apenas os psicólogos têm a câmara ligada” do princípio ao fim da consulta.

O psicólogo esclarece que a criação da plataforma surge como resposta aos casos de pacientes que contactavam para marcação de consultas, “mas que nunca chegavam a aparecer”. Desta forma, o casal encontrou, inclusive, um meio de “quebrar o estigma de ir ao psicólogo”, esclarecer dúvidas acerca do que é o acompanhamento psicológico, de como recorrer ao mesmo e facilitar a abertura das pessoas sobre os seus problemas.

Segundo Gonçalo Neves, cria-se uma nova perspetiva acerca de “como lidar com a psicologia e de que maneira esta pode ajudar as pessoas”, sendo esta uma das razões para o uso do anonimato.  Os profissionais encontram-se a “meio caminho” com os pacientes, simplificando o processo para “pessoas que têm dificuldades em pedir ajuda”. 

Estes moldes de trabalho não são novidade para Gonçalo e Filipa Neves – já faziam consultas por via digital antes. Foi exatamente numa dessas sessões que o casal percebeu que a criação da BlindTalk seria uma mais valia. Na altura, um dos pacientes pediu para não mostrar a cara antes de expor os seus problemas, conta o criador da plataforma. O momento abriu a porta da compreensão dos psicólogos e encaminhou-os para um novo formato: primeiro ouvir sobre a situação e depois tentar ajudar.

Para além de explicar as questões de acompanhamento, o psicólogo deixou claro que não é obrigatório haver um problema específico para uma pessoa recorrer às consultas. A missão é normalizar este tipo de intervenção e olhar para a forma como a pessoa “pensa em si” e “na ajuda que necessita” para o exercício mental.

Gonçalo Neves confessou ainda que o acompanhamento online pode, em parte, ser um problema. Por falta de uma legislação mais séria sob os profissionais de psicoterapia, “qualquer pessoa pode dar acompanhamento psicológico, mesmo sem formação”. Na sua opinião, este fator “pode descredibilizar esta função”. Com o formato digital em constante crescendo, o psicólogo acredita que o surgimento de “pessoas não qualificadas para executar o acompanhamento” também continua a aumentar.

No entanto, o apoio online é “semelhante ao presencial quando o objetivo é o mesmo”. Além disso, este tipo de formato ajuda pessoas de zonas mais deslocadas, ou até mesmo emigradas noutros países, a terem o apoio do foro psicológico “na sua língua materna”, completa o profissional.

Uma nova versão da BlindTalk foi recentemente lançada e, além de conceder a oportunidade de uma consulta inicial anónima e posteriores consultas de acompanhamento, surge a possibilidade da oferta de sessões gratuitas. O agendamento de consultas é feito através do site da plataforma, podendo ainda ser consultadas todas as informações sobre o trabalho desenvolvido.

Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira