O Encontro Nacional da Juventude (ENJ) decorreu entre os dias 24 e 26 de fevereiro, no Multiusos de Guimarães. Depois de uma interrupção de quatro anos, o evento, organizado pelo Conselho Nacional da Juventude (CNJ), alcançou um recorde de inscrições, reunindo mais de 800 jovens de todo o país. 

Nas palavras do presidente do CNJ, Rui Oliveira, o objetivo foi inverter a lógica anterior do evento, ao dar “voz” aos jovens e fazê-los “construir as suas ideias”. O modelo implementado este ano procurou fazer com que “as vozes da plateia e do palco se confundam”, para que os participantes possam ser “os principais atores“. Ao longo dos três dias, “os jovens estão à volta daquilo que acreditam que é o melhor para o futuro do país”, explicou o presidente, em entrevista ao JPN. 

O primeiro dia arrancou com os “Desafios da Juventude”. Os jovens foram divididos em grupos, cujas cores viraram temas de debate: o azul para a educação, o amarelo para a saúde, o vermelho para o trabalho, o verde para o ambiente, o laranja para a habitação e o lilás para a igualdade

A 17ª edição foi desenvolvida em parceria com a Câmara Municipal de Guimarães e com o Instituto Português do Desporto e da Juventude – IPDJ. A cerimónia oficial de abertura contou com a presença do Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, o secretário de Estado do Desporto e Juventude, João Paulo Correia, e a ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes. 

Em discurso à camada jovem e entidades presentes, no primeiro dia do encontro, Augusto Santos Silva relembrou o movimento levado a cabo por Salgueiro Maia, na altura com 30 anos, que culminou no fim do regime de ditadura, em Portugal: nós devemos o 25 de Abril, a nossa democracia, a nossa liberdade, o nosso desenvolvimento e a reconciliação com os povos colonizados à juventude”.

O presidente da Assembleia da República encerrou o seu discurso com um apelo para que os jovens não fiquem somente pela identificação de problemas, mas que proponham também soluções: A juventude é ação! Mexam-se!”, afirmou Augusta Santos Silva.

Participação cívica: o ambiente e a educação foram dois temas em debate

Entre os jovens que marcaram presença em Guimarães esteve Rita Fernandes, de 18 anos, que decidiu participar pela primeira vez, por gostar de iniciativas “que dão voz aos jovens” e que os “fazem sentir parte da sociedade”. “Afinal de contas somos nós que construímos o futuro”, explicou a estudante de Coimbra. 

Da mesma cidade veio Ema Felgueiras, da Faculdade de Medicina e da Faculdade de Letras, que viu no encontro uma “oportunidade” de ouvir e ser ouvida, já que “os temas discutidos são do interesse geral” e, por isso, ”muito transversais”. 

Educação, principais conclusões:

  • Existência de barreiras no acesso ao ensino superior
  • Falta de investimento na escola pública
  • Atribuição insuficiente e demorada de bolsas de estudo
  • Falta de docentes e psicólogos nas instituições de ensino

Segundo Vasco Rodrigues, que veio de Aveiro, o novo modelo permite “criar uma sinergia de ideias, que pode ser proveitosa para um fim comum”. Em especial, marcou presença para discutir a desertificação do interior, já que considera importante “trazer para a ordem do dia experiências vividas na própria pele”.  E mais: para reinvidicar a forma “pré-concebida” do sistema educativo em Portugal. 

Andreia Fonseca, ex-dirigente associativa de uma escola do Porto, acrescentou que a educação é “a chave” para o desenvolvimento do país. Os jovens, na opinião da estudante, não devem somente interferir nos temas que lhes dizem respeito, mas também abordar os assuntos que têm implicações na sociedade em geral, no caso, o analfabetismo

Ambiente , conclusões finais:

  • Uso excessivo do transporte individual
  • Gestão inadequada das florestas e consequente desertificação dos solos, degradação dos recursos hídricos e perda da biodiversidade
  • Baixa eficiência energética
  • Desinformação relativa ao ambiente
  • Abundância de plantas não-autóctones

As sugestões que constam nas conclusões finais para a área educativa (ver caixa) incluem o fim dos exames nacionais para o ingresso no ensino superior, a maior aposta na avaliação contínua, o aumento da verba pública, o descongelamento da progressão de carreira docente e o fim das propinas.

Hugo Oliveira viajou da Madeira até à cidade-berço de Portugal, na qual dedicou duas horas às preocupações ambientais que o inquietam. Com 17 anos, sabe que lidar com opiniões opostas é parte do desafio da vida política: “Nada na vida se faz sem atrito e sem oposição” e “se não houvesse discussão não havia democracia”, explicou, em conversa com o JPN. 

O debate permitiu também identificar alguns obstáculos na área ambiental, que urge ultrapassar (ver caixa). As soluções propostas passam por facilitar o acesso das populações às alternativas de mobilidade sustentável, investir na prevenção e sensibilização, reabilitar e proteger as florestas, defender as áreas protegidas, entre outras. 

Há espaço para o associativismo juvenil

O programa incluiu ainda, em simultâneo, atividades lúdicas para os participantes, bancas das organizações do CNJ, uma Feira de Oportunidades, o encerramento oficial do Ano Europeu da Juventude, no domingo (26), e a presença de algumas das associações políticas juvenis do país. 

Entre elas, esteve a Juventude Socialista (JS), da qual faz parte António Salazar. O jovem afirmou que, apesar de cada associação representar uma visão e lutar por causas distintas, os problemas são comuns. “Unir forças”, “captar jovens” de acordo com as suas escolhas e fazer ver que “o mundo associativo não é tão fechado como parece” é uma das vantagens do evento.

Além de defender a “propina zero”, apoios habitacionais e o maior apoio à saúde mental no SNS, a JS considera essencial alocar a atenção e os recursos disponíveis na “emergência climática” que o globo atravessa, pelo que o evento se revela importante na transmissão dessa mensagem

Em declarações ao JPN, António Joaquim Pereira, da Juventude Comunista Portuguesa (JCP), realça que “nos últimos anos há largas provas do interesse da juventude em participar” no debate dos temas da atualidade.  

A Juventude Social Democrata (JSD) marcou igualmente presença no ENJ. Em representação da associação, Beatriz Santos refere que é fundamental “ouvirmos os jovens e as ideias que eles têm”. Na educação, por exemplo, a estudante de 20 anos diz que é importante que a camada jovem aponte o que devia ou não mudar no sistema, de forma a melhorar a sua prestação. 

Vasco Rodrigues, um dos participantes do Encontro Nacional da Juventude, reconheceu a importância de “desmistificar os organismos associativos por parte do seio académico, universitário e das juventudes partidárias”. O jovem apontou como um dos destaques do evento, o confronto de diferentes ideologias, no mesmo painel. 

O presidente do CNJ encerrou o encontro, no domingo (26), relembrando que “é na diversidade de vozes que se atinge a harmonia“. Rui Oliveira terminou, felicitando todos os participantes: “Nós jovens soubemos ser parte da solução. Desafiamo-nos a encontrar soluções de futuro para resolver problemas do presente”. 

Artigo editado por Miguel Marques Ribeiro