Assinala-se hoje a segunda semifinal, tendo a primeira ocorrido no passado sábado. À conversa com o JPN, Mimicat e Pedro Branco (YCWCB), já finalistas e Edmundo Inácio, que concorre esta noite, explicam o processo de criação de músicas e a relevância do evento como porta para uma maior visibilidade de novos artistas. A final está marcada para 11 de março.

No sábado passado (25 de fevereiro), decorreu a primeira semifinal do Festival da Canção, onde foram escolhidos os primeiros sete finalistas. Neste lote de classificados estão inseridos a artista Mimicat e o grupo You Can’t Win, Charlie Brown (YCWCB). A segunda semifinal, que será transmitida na RTP, está marcada para este sábado (4) e conta com a presença do algarvio Edmundo Inácio.

No final desta noite serão anunciados mais seis nomes para a final do concurso, com vista à escolha do representante português para a 67.º edição da Eurovisão. Mimicat, Edmundo Inácio e Pedro Branco, dos You Can’t Win, Charlie Brown, em conversa com o JPN, ressalvaram a importância da competição como palco para o reconhecimento.

Uma plataforma para o sucesso

Marisa Mena, conhecida no mundo da música como Mimicat, apresenta o tema “Ai Coração”. Nas palavras da cantora, a composição musical retrata “um sentimento contraditório” entre a tristeza e a felicidade, diz ao JPN. 

Para além da “exposição total” que o Festival da Canção oferece aos artistas portugueses, Mimicat acredita que, a nível de competitividade, o concurso distingue-se pela equidade. “As pessoas que realmente gostam do festival estão alheias a quem é ou não conhecido. Entram todos no mesmo pé de igualdade, independentemente do número de fãs”, indica.

Mimicat qualificou-se para a final com “Ai Coração”. Foto: Pedro Pina - RTP / FlickrCC BY-NC-SA 2.0

Na mesma linha, Pedro Branco, guitarrista dos You Can’t Win, Charlie Brown, destacou o Festival da Canção como uma plataforma para “chegar a um público que não seria possível [alcançar] através de concertos ou festivais”. A banda indie rock foi convidada por Nuno Galopim, consultor do Festival, para participar nesta edição.

O artista lisboeta valorizou a cobertura de diferentes estilos musicais: “Este ano temos do jazz ao indie, do rock ao pop – sem esquecer o rap. Há música para todos os gostos”, salienta.

Pedro Branco fez ainda referência às quotas obrigatórias de música portuguesa nas rádios (correspondentes a uma percentagem de 25% e que, em 2021, por causa da pandemia, passaram para 30%). Para o guitarrista há muita música portuguesa, variada, à disposição, sendo o Festival da Canção um bom exemplo disso. “Como se pode ver por esta competição, há muita gente a fazer boa música. Estamos a passar por uma fase muito interessante de criação e de inovação musical em Portugal e, portanto, custa um bocado levar com estas rasteiras”, confessa.

Já Edmundo Inácio, enaltece o festival por direcionar o “holofote” para os mais variados músicos, sejam grandes ou pequenos, dando-lhes uma voz, independentemente do estilo. Nesse sentido, destaca a possibilidade de livre submissão como uma via de oportunidades para novos artistas.

Depois da participação no programa “The Voice”, em 2021, acredita que “não havia melhor lugar” para se afirmar como “autor intérprete” do que o Festival da Canção. O cantor de 23 anos acredita que, neste palco, os portugueses dão valor a quem “está a representar o próprio tema”.

Diferentes abordagens com um objetivo comum: mostrar o valor da música portuguesa

Segundo Pedro Branco, o tema “Contraste Mudo” foi elaborado “propositadamente para o Festival”, através de um processo de criação especial. “Maior parte das vezes, um de nós vem com uma ideia já quase acabada. Nesta música, em específico, vimos em conjunto todos os pormenores”, partilha. Para o músico, o objetivo passava por mostrar “a visão musical” de cada elemento – desde “a voz do Afonso” ao “teclado do David”.

O músico admitiu que a base da composição passou por “uma ideia do Salvador [Menezes] com a guitarra“. Essa sequência melódica foi “o único elemento que está ao longo de todo o tema“, rematou.

You Can’ t Win, Charlie Brown é composta por Afonso Cabral (voz), David Santos (teclado), João Gil (teclados e baixo), Pedro Branco (guitarra), Salvador Menezes (guitarra e baixo) e Tomás Sousa (bateria). Foto: Pedro Pina - RTP / FlickrCC BY-NC-SA 2.0

Por outro lado, “Ai Coração” já estava guardada na gaveta de Mimicat há dez anos e “participar no Festival da Canção era um sonho antigo”. Apesar do objetivo estar há muito tempo traçado, foi apanhada desprevenida ao saber que tinha sido uma das selecionadas – uma vez que se tinha esquecido que havia enviado a demo no último dia da livre submissão de canções.

O tema aborda o período de incerteza entre a potencial rejeição ou reciprocidade amorosa – uma “ansiedade feliz”. Para a artista de 33 anos, proveniente de Coimbra, o termo “comédia dramática” é “a melhor maneira de descrever a canção”. Admite, porém, estar “insatisfeita” com a demo submetida a concurso. Numa primeira instância, não considerou a música adequada para o seu registo, pensando em Ana Bacalhau para dar voz à composição. Por esse motivo, quando soube que foi selecionada, a atenção focou-se em “novos arranjos”, até à criação do produto final.

Devido a uma laringite aguda, Mimicat ficou “completamente afónica” dias antes de pisar o palco da RTP. Confessa que os ensaios não correram como esperado, o que originou um nervosismo acrescido: “Meia hora antes de atuar estava a entrar em pânico. A preparação foi um bocadinho aflitiva”. Confessa não estar “100% recuperada”, mas garante que vai fazer os possíveis para apresentar a sua melhor versão na final.

Por sua vez, Edmundo Inácio, através do tema “A Festa”, que tem influências tradicionais portuguesas, espanholas e do Médio Oriente, pretende dar destaque a duas problemáticas sociais: a marginalização de comunidades e a dificuldade dos jovens em inserir-se nas diferentes indústrias. Nesse sentido, o cantor algarvio destaca o talento presente nesta edição do festival e a importância da competição na transmissão de valores individuais.

Sobre a composição musical, o ex-concorrente do “The Voice” salientou que já tinha as ideias definidas antes de iniciar o processo de produção. Contudo, só depois da elaboração de “todo o instrumental”, é que o foco passou a ser “o desenvolvimento de uma linha narrativa“.

Uma corrida uniforme, amplificada pelos meios digitais

Num mundo em constante crescimento digital, o apoio nas redes sociais não passa despercebido. Pedro Branco confessa, nessa linha, ter instalado Twitter de forma a ver as reações do público sobre o tema apresentado. O guitarrista garante que o feedback à canção tem sido “muito positivo”, tendo mesmo recebido mensagens de pessoas desconhecidas a congratular a prestação nas semifinais. 

Também Edmundo Inácio revelou ter recebido “mais apoio do que esperava”. O jovem algarvio, selecionado através da livre submissão, assume não ter o mesmo background profissional que outros candidatos, nomeadamente “Cláudia Pascoal, Ivandro e Bárbara Tinoco”. Apesar disso, diz sentir-se “na corrida, ao mesmo nível que eles”, no que toca a exposição.

Esta noite a RTP vai transmitir, em direto, a segunda semifinal do Festival da Canção. Aí, Edmundo Inácio pretende juntar-se a Mimicat e You Can’t Win, Charlie Brown na grande final, que vai decorrer no próximo dia 11 de março.

Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira