Em 2021, segundo um estudo realizado a pedido de Conselho Económico e Social (CES), os portugueses gastaram  1515,2 milhões de euros nas lotarias instantâneas. Este número representa, em média, um consumo de 4,1 milhões de euros por dia, partilha o Jornal de Notícias. 

Este ano, as raspadinhas vão deixar de ser vendidas nas lojas CTT, no seguimento de uma proposta feita pelo Livre que pretende combater o “vício negligenciado”.  Em relação a esta decisão, Rui Alves, psicólogo clínico da instituição Recuperação de Alcoólicos e Narcóticos (RAN), opina, ao JPN, que se devem “reduzir ao máximo os incentivos à adição”. Completa que a proibição da venda nos serviços de correio não resolve o problema, mas admite ser uma “medida preventiva“.

O problema não é novo. Já em 2020, um relatório publicado na revista internacional “The Lancet Psychiatry” apurou que Portugal é o país da Europa onde se gasta mais dinheiro em raspadinhas. Nesse ano, devido ao ao início da pandemia, as vendas desceram comparativamente a 2019 – mas os valores têm voltado gradualmente a subir, de ano para ano, desde então. 

Atualmente, devido à inflação dos preços, existe uma “contradição”, de acordo com Rui Alves, na vida destas pessoas. Apesar de não possuírem tanto dinheiro para gastar, sentem uma necessidade maior de o fazer, pela falta de opções. “Para perceber o desespero dos que jogam, temos que perceber o desespero com que vivem no dia-a-dia”, explica. 

O vício pelo jogo insere-se nos comportamentos aditivos e é considerado, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), uma doença, sublinha o psicólogo. Semelhante à do uso de substâncias, esta adição exige que “o consumo seja cada vez maior, para satisfazer a sensação de prazer”, reitera.

Sobre a anatomia do esquema, o especialista esclarece que estes jogos de sorte estão pensados para que o viciado “esqueça a lei das probabilidades” e a racionalidade. Alguns sintomas do vício passam pela perda de interesse noutras atividades, irritabilidade e agressividade aquando da impossibilidade de gastar, abdicação de outros compromissos pelo jogo e dificuldade em parar de apostar. 

Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira