“Nada de especial” é uma expressão a que Darren Aronofsky não nos habituou. No entanto, é essa a sensação com que nos deixa “The Whale”, filme de 2022 e agora em exibição nos cinemas portugueses, que poderá vencer as categorias de Melhor Ator, Melhor Atriz Secundária e Melhor Maquilhagem dos Óscares, este fim-de-semana.
Na verdade, o título é sugestivo e original mas, por si só, transmite um certo desconforto – que parece ser a única réstia que se mantém ao longo do filme da (ex-?) genialidade do realizador. Recorde-se que Aronofsky produziu obras admiradas por toda a comunidade cinéfila, às quais raramente se tecem críticas – como “Black Swan” e “Requiem for a Dream”.
A “baleia” não é mais do que Brendan Fraser, o homem que voltou ao grande ecrã depois de já ninguém se lembrar dos blockbusters dos anos 90. E veio para impressionar os curiosos. Charlie, a personagem que interpreta, tem obesidade mórbida. Numa tentativa de recordar os bons velhos tempos, o realizador apresenta-nos uma panóplia de momentos desagradáveis que envolvem comida, masturbação e vómitos, que só não nos fazem abandonar a sala devido à surpreendente interpretação do ator.
Como Charlie é muito triste, tinha de ter uma relação conturbada com a família e consigo próprio. Como Charlie é mesmo muito triste, tinha ainda de lhe ter acontecido uma desgraça. E como Charlie é o homem mais triste do mundo, tinha de ter muitos azares na vida e tinha de ser muito altruísta: só lhe interessa a relação com a filha que, como ele é mesmo absurdamente triste, o detesta.
Na realidade, faço mea culpa. Com as expectativas demasiado elevadas, o filme surge pior do que aquilo que verdadeiramente é. Uma filmografia simples, com atores de qualidade mas um guião que não impressiona – nem para o bom, nem para o mau, e que se vai tornando mais e mais expectável e óbvio.
O cenário é propositadamente claustrofóbico: a narrativa desenrola-se sempre dentro da mesma casa, o que provoca um efeito bem conseguido de aprisionamento, um quase abandono da vida e entrega à morte que é, no fundo, a ideia por trás do argumento.
Há uma certa cadência aborrecida, que parece querer deixar o espectador digerir uma grande quantidade de emoções que, afinal, não chegam. Mais uma vez, este não é um filme mau, nem tão pouco sem sentido, mas sim um cliché que só de raspão consegue fazer-nos pensar na solidão e na morte, de uma forma pouco assoladora.
Todas as réstias de esperança de felicidade para Charlie se esvaem de forma dramática e definitiva. Tudo é repugnante e exagerado, e ver “The Whale” torna-se verdadeiramente penoso para o espectador – que espera uma redenção ou lição de humanidade que, no fim, fica muito aquém do esperado e prometido por aquele que foi, em tempos não distantes, um dos maiores nomes do cinema americano. Aguardemos o surrealismo inquietante de Aronofsky para a próxima.
Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira