No final do mês, Portugal vai enviar três tanques Leopard 2A6 para a Ucrânia, em conjunto com 18 carros cedidos pela Alemanha.

Segundo o Major-General Isidro Pereira, antigo representante de Portugal na NATO, a Ucrânia está a “preparar uma contraofensiva a ter lugar na Primavera” e, por isso, é “fundamental ter poder de fogo”. Assim, o envio destes tanques para o exército ucraniano é vantajoso. “São sistemas muito avançados comparando com outros carros de combate que estão a ser utilizados pela Rússia, e até, pela Ucrânia”, explica o general, em declarações ao JPN.

Contudo, “a decisão de fornecimento de equipamento deveria ter sido tomada meses antes”, considera o general Isidro Pereira. “O Ocidente atrasou-se, devíamos ter reagido mais cedo”, afirma.

Para o oficial do exército, se a ajuda tivesse sido enviada com mais antecedência, a Ucrânia “podia estar a defender-se de forma mais eficaz das ofensivas russas” e “podia ter reconquistado muito mais terreno que foi usurpado pelo invasor”.

Leopard 2A6 é superior a outros carros de combate utilizados no conflito

Nesta fase, os Leopard foram transferidos para a Alemanha, pois necessitam de ajustes, apesar de estarem operacionais, esclareceu a ministra da Defesa Nacional em entrevista à CNN Portugal.

O general considera que os ajustes podem passar por fazer atualizações do software “ligado à parte de controlo automático de tiro e do sistema de visão noturna”.

“Estes carros de combate, juntamente com os da Alemanha, vão formar um batalhão e é necessário que os carros de combate estejam todos equipados com o mesmo software e recebam todas as atualizações necessárias”, explica o oficial do exército.

Além dos Leopard 2A6 dispararem “com precisão contra ameaças em movimento”, no campo de batalha, “podem atingir velocidades de 75km/h”, o que é “notável”, quando comparado com outras gerações de carros de combate, esclarece Isidro Pereira.

No entanto, para o general, o fator mais importante é o alcance prático dos tanques. Pode destruir outros carros de combate de forma eficaz a 4.5 km, ainda que “o alcance máximo da peça” possa ir “quase até 7.5 km”. Neste conflito, os tanques utilizados pela Rússia são, na sua maioria, T72. De acordo com Isidro Pereira, o alcance prático mais reduzido, de 1.5 km, é o que os distingue dos Leopard.

“Enquanto um carro de combate destes tiver munições consegue destruir todos os outros carros de combate”, revela o general. Por esse motivo, as forças ucranianas “fizeram tanta pressão para que este tipo de carros fosse fornecido”.

O oficial do exército considera que um dos grandes problemas dos T72 e de outros tanques que estão no teatro de operações é “que as munições estão dentro do próprio habitat de combate”. Desta forma, quando os carros são atingidos “ficam completamente desventrados”. Enquanto nos Leopard e noutros carros de combate modernos as munições são armazenadas fora do compartimento de produção, o que impede que “rebentem por simpatia”.

No que diz respeito à formação necessária para operar com os carros de combate, o general Isidro Pereira explica que as guarnições ucranianas estão treinadas para operar carros de combate T72, T80 e até os T90, capturados do exército russo, e por isso o processo de adaptação aos tanques a ser enviados é “relativamente rápido”. Quatro ou seis semanas são o necessário para tornar as guarnições proficientes na utilização de um Leopard.

O perigo de captura

O envio destes modelos de tecnologia militar avançada pode levantar questões relacionadas com a captura de equipamento.

“Quando se abandona um equipamento a regra é destruí-lo”, no entanto, isso não significa que “não possa cair nas mãos russas”, refere o general.

“O perigo existe”, no entanto, apesar dos A26 serem dotados de um sistema avançado, “não é tecnologia objeto de segredo nos dias de hoje”.  Já existem tanques mais capacitados, como a nova versão do Leopard, os 2A7, ou os carros de combate KSP Panther.

Além disso, de acordo com Isidro Pereira, a Rússia já tem um projeto de construção de uma nova família de viaturas T14-Armada, que “tecnologicamente não são muito diferentes deste tipo de carro de combate”.

Contudo, no que diz respeito ao envio de apoio aéreo a situação é um pouco diferente. Para o general a captura de caças como o F-16 americano ou drones de combate seria “uma perda considerável” a nível de tecnologia militar.

O reforço aéreo

Atualmente, a Ucrânia tem solicitado o fornecimento de aviões de quarta geração. “Essa é outra questão cuja decisão ainda vai ter que ser tomada e, mais uma vez, vamos andar a correr atrás do prejuízo”.

De acordo com o general, é muito difícil para o exército ucraniano “conduzir uma operação ofensiva em grande escala para libertar o seu território da ocupação do invasor sem uma força aérea eficiente e capaz”.

Ontem (quinta-feira), a Polónia prometeu o envio de 4 caças MiG-29 para o exército ucraniano, tornando-se o primeiro país da NATO a fazê-lo. Hoje (sexta-feira), a Eslováquia anunciou o envio de 13 caças da mesma tipologia além de sistema de defesa antiaérea Kub.

Segundo Diário de Notícias, os EUA ainda não mudaram a decisão de não enviar os F-16 e o ministro da Defesa alemão afirmou que “até agora, toda a gente concordou que não é altura de enviar caças”.

No momento, a frente de combate mais intensa da guerra encontra-se em Bakhmut, após a captura russa de Soledar, uma cidade vizinha. Este é um ponto importante para as forças ucranianas reconquistarem regiões em Donetsk.

Artigo editado por Miguel Marques Ribeiro