O dia de ontem (16) foi marcado pela primeira paralisação na hospitalização privada. A greve, levada a cabo por enfermeiros de 75 unidades de saúde privada, estendeu-se aos turnos da manhã e da tarde (das 8 horas às 24 horas), mas foram garantidos serviços mínimos. Além disso, foram organizadas manifestações junto a algumas das instalações abrangidas.
Os 4200 enfermeiros do setor privado pretendem a renegociação do contrato coletivo de trabalho assinado com a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP). O descontentamento deve-se ao facto de nada ter mudado depois de várias reuniões com a associação – que representa 90% dos hospitais privados.
Estes profissionais da saúde pedem um aumento salarial de 10% e a subida do subsídio de alimentação para os 8,10 euros, além de uma melhoria geral das condições de trabalho. A aplicação das 35 horas semanais, à semelhança do que sucede na saúde pública, em vez de 40, é igualmente uma das exigências do grupo profissional. Mais ainda, pedem um aumento na compensação de trabalho por turnos, as chamadas “horas penosas” – trabalhadas à noite, fins de semana e feriados -, o pagamento do regime de prevenção e o alargamento do período de férias para os 25 dias úteis.
Contactado pelo JPN, o presidente da APHP, Óscar Gaspar, começou por referir que esta greve foi “uma surpresa” para a associação. “É verdade que ainda não chegamos a acordo, mas o processo negocial está aberto desde outubro e tem avançado. Não há nenhum bloqueio nas negociações”, aponta.
“Nós conhecemos as preocupações do sindicato e eles sabem aquilo que está em cima da mesa do nosso lado. A nossa proposta é muito clara: passa por um aumento de ingressos de 6%, um aumento mínimo de 55 euros por mês para cada enfermeiro e um subsídio de alimentação de 6 euros”, atesta o diretor da APHP ao JPN. “Há outras variáveis em discussão, como a aplicação das chamadas «horas de qualidade» ou «penosas» e a compensação por horários desfasados” acrescenta, reiterando que são esses fatores que “podem levar a um acordo”.
O presidente da APHP reconhece que “a greve é um direito dos trabalhadores”. Contudo, admite que “não é por haver greve que nós faremos propostas diferentes daquelas que têm sido feitas e do que é a nossa orientação em termos negociais”.
O presidente salienta também que “a greve é sempre um transtorno para os serviço e para as pessoas”, mas garante que serão feitos “esforços para recuperar a atividade que não terá sido feita esta quinta-feira e garantir que os doentes que não tiveram as suas consultas, ou os seus exames de diagnóstico, o possam fazer nas próximas semana”.
Apesar da dissonância das condições propostas pelas duas partes, o diretor da associação menciona a “longa relação do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) com a APHP”. Menciona que sempre chegaram a acordo nos últimos anos, não havendo, por isso, “nenhuma razão” para não chegarem a acordo também agora, em 2023.
“Há condições para, no início da próxima semana, nos voltarmos a sentar e chegarmos a acordo nas próximas semanas”, remata o Óscar Gaspar. “Não vejo que haja nenhum tipo de obstáculo para que não consigamos por isto em prática e aumentar os enfermeiros – como é a nossa vontade”, completa.
Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira