Arrancou, hoje (17), o primeiro momento de um ciclo que expõe a obra da emblemática personalidade. Prémios, documentos, cartas e artigos retratam as várias décadas da sua carreira. Em exibição até setembro, na Casa do Cinema Manoel de Oliveira, em Serralves.

Exposição da obra de Manoel de Oliveira é aberta na Casa do Cinema do Parque Serralves. Foto: Guilherme Amaral

A exposição “A Bem da Nação”, realizada na Casa do Cinema Manoel de Oliveira, em Serralves, é a primeira de três apresentações que contam o caminho de Manoel de Oliveira – desde seus dias como atleta, até à carreira como cineasta. Através do ciclo que agora arranca, intitulado de “Manoel de Oliveira e o Cinema Português”, a ideia é apresentar todo o arquivo do realizador, resultante de mais de 8o anos de trabalho. Com abertura ao público esta sexta-feira (17), vai estar patente até 17 de setembro.

António Preto, diretor da Casa do Cinema e um dos curadores, explica que a exibição inaugural contém os primeiros 40 anos da obra do realizador, de 1929 a 1969 – período que abrange tanto a sua estreia no cinema como figurante, no filme “Fátima Milagrosa” (1929), como a realização do seu primeiro filme (documental), “Douro, Faina Fluvial” (1931). “Toda a biblioteca, prémios, uma variedade de objetos arquivados pelo próprio Manoel de Oliveira, estarão na exposição”, diz. 

João Mário Grilo, realizador e co-curador, partilha que ficou surpreendido com o material recebido – e que foi desta surpresa que “nasceu a exposição”. Evidencia que o acervo de Manoel de Oliveira trata toda “a obra de um cineasta”, homenageando a memória daquela que é uma figura histórica da cultura nacional. Reitera ainda a admiração em “descobrir que o cinema não é só filmes”.

O nome da exposição é uma expressão conhecida do fascismo português. O batismo com tal frase tem carácter irónico, mas também literal, por ser encontrada em “centenas de documentos oficiais” que o cineasta, à semelhança de milhões de outros portugueses, recebeu durante o período da ditadura de Oliveira Salazar. 

No final das três partes da exposição será ainda realizado um colóquio com universitários, inclusive estrangeiros, para discutir o trabalho de Manoel de Oliveira.  

Manoel de Oliveira – um ícone e pioneiro do cinema nacional

Nascido no Porto em 1908, Manoel de Oliveira foi um dos principais cineastas da história de Portugal. Ficou no ativo durante 88 anos, tendo lançado, em 1931,  uma curta-metragem chamada “Douro, Faina Fluvial”. Este assinalou o seu primeiro trabalho como realizador e explora o papel da ribeira na vida económica do Porto. À época, a região era ponto de descarga de materiais como carvão e vinho.

Manoel de Oliveira fez a sua primeira longa-metra em 1942 – “Aniki-Bóbó”. O filme, que recebeu imensas críticas dos conservadores, conta a história de dois meninos que gostavam da mesma menina. A película demonstra um Porto repressivo e com constante presença da polícia, o que foi visto como uma crítica ao fascismo português por ser uma representação do regime instituído no Estado Novo.

Em 2014 estreou “O Velho do Restelo”, a 11 de dezembro, dia que completou 106 anos – sendo este o último filme que lançou. Em 2015, a EDP lançou ainda a fita “1 Século de Energia” como “uma realização de Manoel de Oliveira”; no entanto, esta foi terminada já depois da sua morte, servindo acima de tudo como uma homenagem.

Na juventude foi atleta pelo Sport Club do Porto, onde foi campeão nacional de salto com vara. Apaixonado por automobilismo, ficou em 3.º lugar do “Grande Prémio do Rio de Janeiro”, em 1938. A paixão por carros foi inclusive o que o fez criar o filme “Portugal Já Faz Automóveis” (1938).

Manoel de Oliveira faleceu aos 106 anos, em 2015, vítima de uma paragem cardíaca. 

Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira