O terceiro dia do certame (16) manteve a garagem da Rua Latino Coelho como palco principal, perpetuando a quebra do conceito convencional de “passarela”. Tirando o máximo partido do cenário de arte urbana, a dupla Marques’Almeida traz de volta o streetwear numa explosão de cores vivas.

De uma forma geral, denota-se a atenção numa produção consciente que combata as lacunas da indústria. Entre os destaques do dia surge também Susana Bettencourt, desconstruindo o perfecionismo da moda, Nuno Miguel Ramos, que explora e toma partido da sua zona de conforto, e mais uma apresentação da CANEX: Katungulu Mwendwa.

O revival dos anos 2000 com Marques’Almeida

O desfile da dupla provou que o streetwear pode ser elevado à “passarela”. Numa ode à cultura pop, surgiu “interesse em fazer um revivalismo dos [anos] 2000” com corsets, cabedal e ganga – que são “o ADN da marca”, conta Paulo Almeida ao JPN.

O objetivo é maximizar o conceito de moda através de cores vivas e frescas, como o verde e o rosa: recorrendo a um modo consciente de produção que incite à mudança do paradigma associado à indústria.

Uma das novidades do dia é a Marques’Almeida Kids, uma linha criada para expandir a marca à perspetiva do universo infantil (dando seguimento ao que já haviam iniciado na edição anterior do certame). Ao JPN, os designers afirmam que “é importante mostrar o máximo de variedade possível”, trabalhando a marca para ser mais inclusiva e familiar, celebrando estes valores.

A infância azul de Susana Bettencourt

“Pechisbeque” é o nome da nova coleção da designer, que admite que o conceito de estação está num horizonte cada vez mais longínquo. Assim, traz uma exibição de cores e padrões que querem desafiar a realidade da moda. “Decidimos brincar com a ironia deste conceito de pechisbeque. É uma desconstrução do perfeito: a malha que não é malha, o pelo que não é pelo, o ouro que não é ouro”, avança Susana Bettencourt ao JPN, acerca do mote da coleção.

Azul, laranja, vermelho, terracota, preto e branco foram os tons escolhidos pela artista. Sobre a escolha cromática, admite uma conexão com a sua infância: “O azul são as minhas memórias e não consigo criar sem ele”.

Na coleção não descurou os acessórios; e, na sua produção , consta o pensamento local e consciente. As peças feitas à mão, junto com as malas de crochet, foram criadas em parceria com artesãs locais.

Nuno Miguel Ramos e o número 88

Entre franjas, lantejoulas e folhos, Nuno Miguel Ramos voltou à sua zona de conforto – o preto e o branco. Além disso, também as transparências e os tons crus marcam presença na mais recente coleção do artista. Mas da segurança surge a glória: a sua imagem de marca, que este ano é tendência, provou, novamente, ser a fórmula de sucesso do designer.

“88” é o nome da proposta apresentada – que partiu da estabilidade, segurança e abundância a que o número remete.  No fundo, 88 acaba por ser um número da sorte, justificando a utilização de elementos festivos nas suas roupas, que fazem lembrar coisas positivas.

Canex apresenta Katungulu Mwendwa

Chama-se “Katush” a coleção da designer que, através de uma moda consciente, apresentou estampas personalizadas e completamente originais. Transformou filosofias artísticas em vestuário quotidiano, fazendo parecer que o glamour da “passarela” pode ser usado por todos, todos os dias.

Trabalhou com pessoas na cena artística de Nairobi, no Quénia, de onde a designer é natural. Assim, caminhou pela garagem uma mistura entre as técnicas modernas e a beleza do “fazer” tradicional – numa apresentação colmatada com música alusiva à cultura africana. O desfile foi promovido pela Canex, que dá atenção à produção têxtil africana em Portugal e na Europa.

Passaram também pela “passarela” da semana da moda os desfiles de Nopin, com a coleção “OLYMPIA”,  e de Eric Raisina, outro artista apresentado pela Canex, com a coleção “The Art of Giving”.

O terceiro dia da 52.ª edição do Portugal Fashion contou ainda com um showroom no El Corte Inglés Gaia Porto e um almoço no hotel Hilton Gaia Porto. O evento continua até sábado, trazendo mais nomes emblemáticos como Pedro Pedro, Pé de Chumbo, Estelita Mendonça, Maria Gambina e Alexandra Moura.

Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira