O Governo do presidente francês Emmanuel Macron tomou a decisão de aumentar a idade da reforma de 62 para 64 anos. A medida gerou uma grande instabilidade e convulsão social, com uma série de manifestações a desenrolarem-se durante a semana. Em entrevista à TF1 e à France2 esta quarta-feira (22), Macron disse, porém, que se trata de “uma medida necessária”, ainda que a decisão de a aplicar não o deixe “feliz”.
Além disso, o chefe de Estado referiu que “a lei vai continuar o seu caminho democrático” e que é para entrar em vigor “no final deste ano” – ainda que lhe custe a “popularidade”. “Esta reforma é necessária. Não me agrada e gostaria de não a ter feito, mas é necessária e por isso me comprometi a fazê-la”, reiterou.
O objetivo da medida imposta pelo atual governo francês é, segundo o presidente francês, “tentar não aumentar o défice e fazer as crianças pagarem” pelos erros cometidos no passado.
A proposta é ainda suportada pelo facto da França ter uma das idades de reforma mais baixas na União Europeia, segundo revela um estudo feito pelo Le Parisien, estando o número de reformados a aproximar-se rapidamente do número de trabalhadores no ativo. Macron sublinha inclusive que “parte da oposição apoia esta decisão de mudança”.
O líder francês assumiu ter confiança em Elisabeth Borne, primeira-ministra francesa, para liderar a equipa governamental e sublinhou que não tem ideia de fazer qualquer remodelação de ministros no atual executivo. Além disso, referiu que não anda à procura de uma reeleição e a sua preocupação é “o interesse geral do país”. Garantiu, portanto, que “a reforma depende agora do parecer do Conselho Constitucional”.
Apesar da entrevista de meia hora ser quase exclusivamente dedicada às reformas, o presidente francês criticou ainda o “cinismo” de algumas grandes empresas que “obtêm receitas tão excecionais e superlucros e que acabam a usar esse dinheiro para recomprar as suas próprias ações” na bolsa de valores. Apelou, então, ao Governo para que se encontre uma solução para uma “contribuição excecional”. Com isto, diz não pretender impor uma taxa sobre os lucros excessivos mas criar um mecanismo que incite as firmas a distribuir lucros “pelos seus assalariados”.
Quanto às manifestações e bloqueios não autorizados que se têm vindo a alastrar por toda a França, o chefe de Estado assumiu que estas “devem ser respeitadas quando são pacíficas, mas não quando recorrem à violência extrema”. Acrescenta que os franceses têm o “direito de estarem cansados e desejarem uma vida normal” e que o Governo tem “todo o gosto em ouvir o povo – se as manifestações não forem feitas assim”. Macron reiterou ainda que não vão aceitar “facciosos, nem fações” e que quer “ordem” na sua república.
A entrevista ocorreu na véspera de mais um dia de mobilização sindical. No final, o presidente francês deixou a garantia de uma futura França mais desenvolvida nas componentes tecnológicas e industriais, bem como nas questões de ecologia.
Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira