A Cooperativa Árvore, localizada junto ao Jardim das Virtudes, completa, este ano, 60 anos de existência.  Para celebrar o aniversário, a “Árvore” – fundada por artistas, arquitetos e intelectuais em 1963, com o intuito de promover e divulgar a cultura -, edificou programação especial, de entrada livre, que se vai prolongar até ao final do ano.

As atividades comemorativas incluem exposições, encontros e leilões. O primeiro evento aberto ao público, marcado para o dia 15 de abril, é a exposição “60 de 60”, composta por obras de 60 autores, realizadas na década de 1960. Entre os autores representados contam-se os nomes de Alberto Carneiro, Álvaro Siza, Maria Antónia Siza e Sá Nogueira.

Já os encontros, criados para conversar sobre a história, o legado e o futuro da cooperativa, trazem os convidados José Pacheco Pereira, Mário Cláudio e Germano Silva nos dias 13 de maio, 16 de setembro e 7 de outubro (respetivamente). Ainda no âmbito de retratar o percurso da entidade, será realizada uma exposição do acervo documental da Árvore, no dia 5 de agosto, e apresentado, a 14 outubro, o livro “Árvore das Virtudes” – cuja edição evoca a atividade da cooperativa entre 2001 e 2023.

Soma-se à programação a exposição “Todos Tondos”, agendada para o dia 7 de outubro, com as obras de artistas associados feitas em suporte redondo (tondo). Os trabalhos serão posteriormente leiloados naquele que será o último evento das celebrações do 60.º aniversário, no 21 de outubro.

A “Árvore ” em retrospetiva

Fundada em 1963, em pleno Estado Novo,  a “Árvore” tem resistido às dificuldades, mudanças e desafios que a vivência de seis décadas implica. Esta começou por ser “uma casa de resistência, onde se procurava pôr em causa o regime e divulgar ideias de luta pela liberdade”, segundo o presidente José Emídio da Silva, que se tornou associado em janeiro de 1978.

Recorrendo ao “arquivo da memória” de vivências e relatos de associados antigos, José Emídio da Silva explica que a base ideológica da entidade fez com que fosse perseguida pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE). Inclusivamente, segundo relata ao JPN, em 1969 a PIDE interrompeu e interrogou as pessoas que estavam presentes num concerto na cooperativa, que contou com nomes como Zeca Afonso e Mário Viegas.

Mas a instituição sexagenária atravessou outros  episódios marcantes na sua jornada pela liberdade criativa. “Em janeiro de 1976, a Cooperativa Árvore – por ter ligações fortes à «esquerda», apesar de ser uma casa de liberdade [ideológica]-, foi alvo de um atentado bombista executado pela extrema-direita”, conta o presidente, salientando o incidente, ocorrido após o 25 de Abril, como “um momento-chave na história da «Árvore»”.

A Cooperativa Árvore celebra, este ano, os 60 anos de existência. Foto: Cooperativa Árvore

O ataque veio no seguimento de um dos períodos políticos mais conturbados em Portugal – o Verão Quente ou Processo Revolucionário Em Curso (PREC), uma fase marcada pelo confronto entre forças da esquerda apoiantes da via revolucionária e forças de centro e direita defensoras de uma democracia eleitoral.

No entanto, o episódio acabou por ter um efeito contrário ao pretendido pelos bombistas. Segundo o presidente, o ataque deu visibilidade à instituição e fê-la obter um maior reconhecimento pelo “serviço cultural” que prestava à sociedade. Além disso, a Fundação Calouste Gulbenkian auxiliou na reconstrução da casa. “Foi aí que nasceu a «Árvore moderna»”, aponta.

O ano de 1999 foi igualmente especial para a instituição, já que se procedeu à compra do edifício-sede. Como pontos de referência na história da entidade, o presidente destaca duas exposições realizadas pela cooperativa: “Portugal de Relance”, em São Paulo (2003) e “Olhar Picasso” (2009), em Portimão.

Em tom de balanço, o representante salienta que foram, e continuam a ser, várias as dificuldades a pautar o percurso da cooperativa sexagenária. “Os mercados de arte [em Portugal] são pequenos e condicionados e quando há uma crise económica, a cultura sofre imediatamente”, afirma.

No que toca ao futuro, tendo em conta que a média de idades dos associados ronda os 70 anos, refere que “é difícil prever o que aí vem”. Mas garante que, no presente, vão manter uma “grande atenção às novas gerações” e investir na divulgação. José Emídio da Silva acredita que os jovens podem “encontrar interesse e encanto neste tipo de associativismo”.

Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira