O Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI) está de volta entre os dias 10 e 21 de maio, com um total de 14 espetáculos. A 46.ª edição do evento é acolhida por várias cidades da região norte do país, como Porto, Matosinhos, Vila Nova de Gaia e Viana do Castelo. No programa, contabilizam-se quatro estreias nacionais e três absolutas, para além de sete coproduções do Festival com companhias convidadas.
Este ano, o FITEI inspira-se no mote “Trauma e bravura”. O teatro permite evocar a violência, memória e política, conceitos que são intrínsecos nas comunidades afro-ibero-americanas. É por meio do contacto dos artistas com essa realidade que as obras devem ser representadas.
A série de apresentações arranca dia 10 de maio no subpalco do Rivoli, com “Bochizami”, da artista Flávia Gusmão, abordando uma viagem pelas memórias que utiliza o luto como dispositivo de paragem no tempo.
Em destaque, vai estar também “Hamlet”, que sobe ao palco no Teatro Nacional de São João. O elenco conta com um grupo de pessoas com síndrome de Down. Inspirada no texto de Shakespeare e na vida dos atores, a versão de Chela Ferrari questiona o que é o “ser ou não ser?” para pessoas que não conseguem encontrar espaço na sociedade atual.
Em “Cosmos”, o percurso é outro. Cleo Diára, Isabél Zuaa e Nádia Yracema propõem uma obra interplanetária, afro-futurista, percorrendo a humanidade e os caminhos que deram origem aos dias de hoje. O espetáculo estará em cena no Teatro Carlos Alberto (TECA).
“Una Isla“, é assegurada pelos catalães Agrupación Señor Serrano, que estão de volta à cidade, mais concretamente ao palco do Teatro do Campo Alegre, depois da passagem pelo FITEI, em 2018. A tecnologia e a manipulação de objetos em cena trazem a reflexão sobre a “bolha de ódio” construída dentro das redes sociais, explica o programa.
Já o “O Sistema”, de Cristina Leitão, surge para tentar representar a urgência em escapar de um loop que já não serve mais. Vai estar patente na CRL – Central Elétrica, em sessão dupla.
O programa, porém, não se fica por aqui. A colaboração entre os portugueses Má-Criação e os brasileiros Foguetes Maravilha e Dimenti deu origem ao “Subterrâneo, Um Musical Obscuro“. O espetáculo retrata o acidente onde 33 homens ficaram soterrados num desabamento no Chile.
Limbo, de Victor Oliveira, é um mosaico narrativo que toca em temas como a diáspora luso-moçambicana. Traz à tona questões como o negacionismo histórico.
“Moria”, do autor espanhol Mario Vega, realiza uma experiência imersiva, a qual tenta recontar a história da fuga de duas refugiadas e suas famílias, forçadas a sair do seu país.
“Piloto” é uma obra que funciona como um simulacro formado por um grupo multidisciplinar de profissionais como curadores, arquitetos, programadores, marketeers, que se reúne com o objetivo de projetar um parque de diversões temático.
Uma referência ainda a “Ibérica Sector 5” que traz um mergulho aos intermináveis arquivos que levam o mesmo nome. É trazido ao palco pela companhia Visões Úteis, por meio do “reenactment” (a recriação de momentos históricos emblemáticos).
Proveniente da pandemia, “Se Eu Fosse Nina” explora, através de um exercício a solo, as barreiras entre a ficção teatral e a realidade. Dizendo por outras palavras, a relação de uma personagem que está presa no teatro e uma atriz que a quer salvar.
“Condomínio”, de Nuno Nunes e “Que Não se Fale dos Velhos Tempos”, de Grua Crua, são duas das obras que estiveram em residência em 2022 e agora aparecem no setlist.
Teatro Bombón Gesell propõe uma série de espetáculos curtos seguidos de uma mesa redonda, além de uma “provocação cénica para refletir sobre a violência e a justiça na América Latina”, lê-se no programa a que o JPN teve acesso.
Atividades extracurriculares e acessibilidade
Para além dos destaques principais, também fazem parte do evento atividades extracurriculares como “FITEI PRO” e “Isto não é uma Escola FITEI”. O festival tem uma programação musical e apresenta projetos com várias escolas do Porto. Este conjunto de atividades formativas e workshops têm acesso gratuito, mas requerem inscrição prévia.
Para mais informações relativas aos locais e datas dos espetáculos, pode aceder ao site da organização.
Artigo editado por Miguel Marques Ribeiro