Eduardo Vítor Rodrigues foi também constituído arguido, mas no âmbito de outro processo. Presidente da Câmara de Gaia considera "desprezível" a "tentativa de juntar os dois assuntos". Detidos da Operação Babel são esta quarta-feira presentes a um juiz.

O Skyline Gaia, do grupo Frontera, inclui uma torre de 30 andares que será “o maior arranha-céus do país” Imagem virtual: Frontera

O vice-presidente da Câmara Municipal de Gaia, Patrocínio Azevedo, é suspeito de ter recebido contrapartidas financeiras, de pelo menos 100 mil euros, para facilitar e acelerar o processo de licenciamento de grandes empreendimentos imobiliários que o grupo Fortera quer construir em Gaia, relata a Imprensa portuguesa desta quarta-feira.

O grupo Fortera, que já manifestou, em comunicado, vontade de colaborar com as autoridades, tem no seu portefólio 20 projetos imobiliários de envergadura anunciados para as cidades de Gaia, Porto, Braga e Espinho, num investimento total estimado em 750 milhões de euros.

Em Gaia, sobressaem dois projetos que estarão na mira das autoridades: o Alive Riverside, junto à Ponte da Arrábida, e o Skyline Gaia, perto de General Torres, o anunciado maior arranha-céus do país: uma torre de 30 andares, com apartamentos, hotel 5 estrelas e piscina infinita, num complexo que incluirá também o Centro de Congressos de Gaia.  

O primeiro projeto, um condomínio de apartamentos de luxo, está avaliado em 110 milhões de euros, ao passo que o segundo deverá representar um investimento de 150 milhões de euros, de acordo com números da empresa.

A investigação que esta terça-feira envolveu 55 buscas, batizada de Operação Babel, levada a cabo pela Diretoria do Norte da Polícia Judiciária (PJ), que culminou com a detenção do autarca e de outras seis pessoas, conhece esta quarta-feira desenvolvimentos, uma vez que os detidos vão ser presentes a um juiz do Tribunal de Instrução Criminal do Porto para primeiro interrogatório judicial e definição das medidas de coação a aplicar.

Além do vice de Gaia foram detidos dois empresários, um advogado, dois funcionários do Urbanismo do Porto – um deles terá entretanto saído deste serviço – e um funcionário da Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN).

“Aumento da área de construção, licenciamento à revelia das regras urbanísticas e aceleração dos processos nas câmaras para poder avançar o quanto antes” estarão entre as suspeitas que levaram ao desencadear da investigação, refere o “Jornal de Notícias”. O “Público” adianta que terão sido pagos a Patrocínio Azevedo, alegadamente, 120 mil euros em “luvas” pelos dois empresários detidos, pagamentos esses realizados em dois momentos distintos, em 2021, através de um advogado – também detido – que as autoridades acreditam ter feito a ponte entre os investidores e o autarca. 

Um dos empresários detidos é Paulo Malafaia que seria o elo de ligação ao o líder do grupo Fortera – o israelita Elad Dror, o segundo empresário detido pela PJ. Paulo Malafaia é suspeito noutra investigação da PJ, a Operação Vortex, que envolveu autarcas de Espinho.

Além da Câmara de Gaia, da Gaiurb – a empresa municipal de urbanismo do município -, e da Divisão de Urbanismo da Câmara do Porto, também a Metro do Porto foi alvo da visita dos inspetores. A empresa não é diretamente visada na investigação, mas a PJ quis “cruzar informação”, de acordo com o JN. A proximidade da futura Linha Rubi a estes empreendimentos poderá ser o motivo. 

Eduardo Vítor entre os arguidos, mas noutro caso

O presidente da Câmara Municipal de Gaia, o socialista Eduardo Vítor Rodrigues, também faz parte da lista de 12 arguidos ontem constituídos pela Polícia Judiciária, como avançou o jornal Observador. Numa curta nota por escrito, enviada ao JPN, o autarca frisa, contudo, que esse facto nada tem a ver com a Operação Babel: “O processo 1/22, conhecido por processo Babel, não inclui como arguido o Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia. No mesmo dia em que foram realizadas as buscas no âmbito do processo acima referido, foram feitas diligências sobre o processo 399/23, cingido a questões de contratação pública e de pessoal, cujos documentos foram entregues. A tentativa de juntar os dois assuntos num só contexto é desprezível”, concluiu o autarca que está desde 2013 à frente do município.

O socialista saiu também em defesa de Patrocínio Azevedo na sua página pessoal de Facebook: “O que é da Justiça pertence à Justiça. Mas há valores que prevalecem sempre. Conheço o Patrocínio há muitos anos e sempre o vi como uma pessoa correta e justa, um profissional sempre dedicado à causa pública, amigo de longa data, pai, filho e marido. Aguardo com serenidade todo o desenrolar do processo, confiando na Justiça e na presunção da inocência”, escreveu.