Este ano, a Federação Académica do Porto, em colaboração com a Porto Ambiente, apostou num sistema de gestão de resíduos inédito na maior festa de estudantes do país. Resultado: 68% dos resíduos produzidos no Queimódromo foram reciclados.

A gestão de resíduos no Queimódromo fez-se sob o mote “Não dês barraca, recicla!” Foto: Íris Silva

No ano em que a Federação Académica do Porto (FAP) apresentou, pela primeira vez, o Pacto da Queima das Fitas do Porto para o Clima, a organização estudantil juntou-se à Porto Ambiente num projeto-piloto que teve como objetivo aumentar os números de reciclagem na maior festa de estudantes do país.

Para o efeito, foi montada no recinto o que mais parecia uma “mini” Lipor, um espaço dedicado em exclusivo à reciclagem, por onde passaram este ano toneladas de resíduos.

Foi neste recinto, onde a frase de ordem era “Não dês barraca, recicla”, que o JPN encontrou alguns dos 14 estudantes voluntários que este ano formaram a Comissão Ambiental da Queima. A par deles, 32 operacionais da Porto Ambiente estiveram a trabalhar por turnos no Queimódromo para garantir a sensibilização dos estudantes, a gestão de resíduos e a limpeza do espaço.

“O ano passado a taxa de reciclagem foi muito abaixo do esperado”, conta ao JPN uma das voluntárias, que pediu para não ser identificada. Para contrariar a tendência, “a medida que a Lipor e a Porto Ambiente pensaram foi ter compactadores” no recinto.

A estudante de Ciências e Tecnologia do Ambiente explicou como funciona o sistema: “À medida que [nas barracas] vão enchendo os sacos [da reciclagem] vêm cá trazer tudo separado. Se as coisas não estiverem bem separadas, têm que fazer a separação aqui à nossa frente. Depois, [os resíduos] vão para o compactador.” 

Pedro Cardoso, trabalhador do lixo, completou a ideia: “Depois disto, mal esteja o compactador cheio, vem um camião e descarrega na Lipor, o centro da reciclagem do Porto.”

Parece simples, mas o processo não se faz sem dificuldades: “Da parte das barracas, até estou surpreendida, porque têm feito bem a separação, mas em termos de concessionários, muitos sacos que demos ainda não voltaram”, garantia outra voluntária à reportagem do JPN.

A aposta na gestão de resíduos no Queimódromo acabou por ser ganha, de acordo com a Porto Ambiente, que esta quarta-feira (17), Dia Mundial da Reciclagem, apresentou o balanço final da operação: 68% dos resíduos produzidos no Queimódromo foram reciclados, o que resulta num “balanço entremamente positivo”, segundo a empresa.

Sem surpresas, numa festa tradicionalmente bem “regada”, o vidro foi o material mais recolhido: mais de 17 toneladas no total, representando, sozinho, mais de metade de todos os resíduos recolhidos.

Dos transportes 100% elétricos à “desmaterialização” dos bilhetes

Além da aposta na gestão de resíduos no recinto, a FAP assumiu, no Pacto da Queima das Fitas do Porto para o Clima, alguns compromissos para melhorar o impacto ambiental do evento, por onde passam dezenas de milhares de estudantes todos os anos.

Pelo recinto, foram espalhadas mensagens de sensibilização ambiental. Foto: Íris Silva

Entre os objetivos gerais enumerados no documento estão, por exemplo, a redução de gases com efeitos de estufa, a redução do consumo de água, energia, materiais e recursos, além da já referida gestão de resíduos no local.

Para alcançar os objetivos, a FAP apontou medidas em várias frentes. A começar pela já tradicional disponibilização de transportes públicos gratuitos, dando prioridade aos “100% elétricos ou a gás natural” para as deslocações de e para o Queimódromo, ou ainda através da supressão do parque de estacionamento para “desincentivar o uso do carro individual”, lê-se no documento.

Este ano, a organização priorizou também as casas de banho com ligação ao saneamento, no lugar das menos ecológicas casas de banho móveis.

A federação apostou também este ano na desmaterialização da bilhética, com a implementação de um sistema cashless através de pulseiras – que gerou muita confusão na primeira noite, obrigando a FAP a rever a medida.

Resultados concretos não são ainda conhecidos, mas a estrutura compromete-se a comunicar resultados “para que seja efetuada uma avaliação real” dos resultados.

Concursos pela responsabilidade social e ambiental

Noutra frente, a Federação Académica do Porto voltou a organizar o concurso de reciclagem, que este ano teve como vencedor a Associação de Estudantes do Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto (AEISCAP), que juntou duas toneladas de cartão para reciclagem.

Graças às duas toneladas de cartão recolhidas, a AEISCAP ganhou o concurso de reciclagem da FAP deste ano. Foto: Íris Silva

O prémio do concurso foi a concessão do espaço da barraca. Um prémio para o qual a associação trabalhou durante meses, como explicou ao JPN Carolina Moreira, presidente da AEISCAP: “Nós participamos todos os anos. Todos [os alunos da faculdade] envolvem-se para conseguir angariar o máximo de cartão possível. Este ano, conseguimos mais de duas toneladas. Estamos meses a trabalhar nisto, mas compensa.”

Cartazes de sensibilização, ecopontos, cinzeiros: à medida que se percorre o recinto é notória a tentativa das barracas de transformar o Queimódromo num espaço mais verde. O concurso “Barraquinha mais friendly” promove isso mesmo. Ao longo da Queima das Fitas do Porto, a barraca que demonstrar maior responsabilidade social e ambiental receberá o valor que pagou pela concessão do espaço. O JPN questionou algumas barraquinhas quanto às medidas que estão a ser tomadas. A reciclagem na barraquinha, a disponibilização de caixotes do lixo e de cinzeiros, ou ainda campanhas de sensibilização nas redes sociais são as principais apostas.

A 101.ª edição da Queima das Fitas do Porto terminou no sábado, 13 de maio, depois de oito noites de diversão e muita música. Pelo palco principal do Queimódromo do Porto passaram, entre outros, os portuenses Ornatos Violeta e os norte-irlandeses Two Door Cinema Club.

Artigo editado por Filipa Silva