O Plano Municipal de Arborização do Porto (PMAP) propõe tornar a cidade mais verde, fornecendo orientações sobre como e onde plantar as espécies adequadas de árvores. Para já, apenas 30% dos quilómetros de arruamentos estão arborizados.
O Plano Municipal de Arborização do Porto (PMAP) foi apresentado esta quarta-feira (17), na Biblioteca Almeida Garret. Este “guia” de arborização tem como objetivo melhorar a presença e plantação de árvores no espaço público. O documento define uma estratégia a pensar no futuro e em formas de dotar a cidade de ferramentas que combatam as alterações climáticas.
De acordo com o vice-presidente e vereador do Ambiente da Câmara Municipal do Porto, Filipe Araújo, as “árvores são a parte mais inteligente de uma cidade”. Contudo, para traçar um plano de arborização é necessário ter em conta vários aspetos, desde a segurança ao espaço pedonal e, por isso, a elaboração do PMAP foi feita com base numa equipa multidisciplinar e assente em extensa investigação científica.
O Plano de Arborização identifica as ruas da autarquia passíveis de serem arborizadas, a forma de o fazer e quais as espécies adequadas em cada situação. Além disso, o documento deverá ser consultado sempre que for necessário realizar qualquer intervenção, por entidades públicas ou privadas, no espaço público.
Tendo em conta a morfologia das ruas e o contexto bioclimático, o Porto passa a dispor de um guia para tornar a cidade mais verde. Apesar de estar virado para o futuro, para os próximos 20 a 30 anos, Filipe Araújo avança que o PMAP “já está em execução”, pois “as intervenções no espaço público já têm em conta o plano de arborização”.
A sessão contou com uma introdução por parte de Filipe Araújo, seguindo-se a apresentação do PMAP pelo coordenador da equipa de Arquitetura Paisagista da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, Paulo Farinha Marques, e pela coordenadora da equipa de Bioclimatologia Urbana da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Ana Monteiro.
200 quilómetros de ruas “passíveis de serem arborizadas”
Antes da elaboração da estratégia de arborização foi necessário fazer um diagnóstico da floresta urbana. Desse levantamento apurou-se que o Porto tem 156 quilómetros de ruas arborizadas, mas cerca de 377 quilómetros de arruamentos não-arborizados.
Todavia, nem todas as ruas cumprem os critérios de arborização. Muitas das artérias da cidade são muito estreitas e foi necessário perceber “onde cabem as árvores”, declara Paulo Farinha Marques. Para isso, as ruas foram divididas entre várias categorias: muito estreitas, estreitas, médias, largas e muito largas.
As ruas estreitas seguirão uma arborização unilateral, contendo árvores apenas de um lado da rua. No caso das ruas médias, será adotada uma arborização bilateral e, nas ruas largas, dependendo da morfologia do arruamento, será feito um alinhamento bilateral ou um “corredor verde na parte central”. Para o caso das ruas muito largas, como a Damião de Góis, propõe-se a criação de “ruas-jardim”.
No que diz respeito às espécies de árvores, o diagnóstico concluiu que 23,9% dos arruamentos arborizados possuem espécies inadequadas à sua morfologia e 7% das espécies são infestantes ou exóticas. A escolha das árvores a serem plantadas terá por base as características das espécies e das ruas a que melhor se adequam, “apostando na diversidade” , “trabalhando com as árvores já existentes e plantando novas”, aponta Paulo Farinha.
A arborização vai para além do seu “potencial estético”
Ana Monteiro avançou que durante muitas décadas a arborização era encarada apenas olhando para o seu “potencial estético”. Todavia, a floresta urbana traz valências que vão muito para além desta característica.
No que concerne às alterações climáticas, “iminentes, emergentes e incontornáveis”, como realça a coordenadora da equipa de Bioclimatologia, as árvores podem ajudar a mitigar certos problemas com que a cidade se debate.
Escolhendo a espécie certa de japoneira [podemos] resolver o problema de poluição do ar.
No caso das cheias durante o inverno, a arborização influência o ciclo hidrológico diminuindo a quantidade e velocidade do escoamento, atenuando as suas consequências. Para além disso, Ana Moreira salienta o potencial das árvores enquanto barreiras de proteção do vento. “Não precisávamos de tantos acrílicos”, repara. Já no que diz respeito à poluição do ar, os benefícios de árvores saudáveis nas cidades são conhecidos, mas a investigadora salientou que “escolhendo a espécie certa de japoneira”, por exemplo, podemos “resolver o problema de poluição do ar”.
Artigo editado por Miguel Marques Ribeiro