São meses de planeamento e vários dias de montagem (que o JPN acompanhou). Articulando uma grande logística, cerca de 150 alunos estão envolvidos, no decorrer de todo o processo, para trazer o festival da FAUP. Começou por ser de alunos para alunos - agora, já na 7ª, edição, continua a ser organizado no seio estudantil, mas quer integrar a agenda cultural da cidade.

Foi a partir da última quinta-feira (17) que, nos jardins da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP), os preparativos finais começaram para a 7.ª edição do FAUP Fest. Organizado na íntegra por estudantes (nomeadamente pelo seu órgão representativo em contexto institucional), o festival, que decorreu na passada sexta-feira (19), tem vindo a crescer nos últimos anos, aspirando ser um marco cultural da cidade. Aliás, a edição deste ano contou com três palcos distintos (“Árvore”, “Carlos Ramos” e “Toca”) e juntou cerca de três mil pessoas.

Os preparativos intensivos decorrem nos dois dias que antecedem o festival e prolongam-se até ao início da tarde do final da semana, onde se assinala o arranque oficial da festa estudantil. Há muito a fazer: desde coordenar equipas e horários, imprimir senhas, sinais e cartazes, montar os palcos, articular e receber a restauração, decorar o recinto e até testar o equipamento de som.

Apesar disso, assuntos como fornecedores de comida, bebida, segurança e disposição do recinto têm vindo a ser falados desde em janeiro. O planeamento, no seu todo, começou bem mais cedo, integrando a agenda dos alunos desde outubro do ano passado.

Considerando a proximidade com a Queima das Fitas do Porto, é necessária uma organização devidamente antecipada. “A Associação de Estudantes (AE) trabalha toda em conjunto para que este evento corra o melhor possível”, assegura Eugénia Cadeia, presidente da AE, ao JPN. Assim, no total, há cerca de 150 pessoas envolvidas na logística, no decorrer de todo o processo, sendo os departamentos recreativo, cultural, de comunicação e relações externas e internacionais os principais responsáveis.

O esqueleto de um festival que quer dar mais vida aos espaços de ensino

O cartaz trouxe por nomes como Solar Corona, Sensible Soccers, Silentide, Meta, Pibxis, Baleia Baleia Baleia, Kurtis Klaus Ensemble, Maquina, Moira Encantada, Bia Maria, Marquise, Helena Guedes e Ana Pacheco. Para os receber, foram montados três palcos na quinta-feira (18) de manhã.

Para a AE, o objetivo do festival é a apropriação de diferentes espaços da faculdade que costumam ser usados exclusivamente para o ensino. “Tomamos partido de palcos com características muito diferentes e fazemos uma curadoria de música muito específica para cada um deles”, explica Bárbara Rodrigues, coordenadora do departamento cultural. Assim, as estruturas foram dispersas em pontos específicos: o palco “Árvore”, junto ao edifício principal; o “Carlos Ramos”, no jardim do pavilhão com o mesmo nome; e a “Toca”, situada na parte exterior da torre E, junto ao bar.

A gestão destas estruturas exige um esforço coletivo. “Há muitos departamentos que não deviam necessariamente estar a trabalhar. Mas, quando é necessário, ajudam-nos, principalmente nas montagens”, revela Eugénia Cadeia.

Este dia é essencialmente dedicado a montar o esqueleto do festival: isto é, as estruturas globais e a respetiva disposição pelo recinto, incluindo as bancas para as senhas e as decorações principais (longas cordas instaladas por pontos diversos).

A cara, o corpo e alma da festa edificam-se na véspera

Já no próprio dia, sexta-feira, a manhã é marcada por uma grande azáfama – trata-se do momento em que a equipa dá corpo, e cara, ao festival, afinando os detalhes finais. Para assegurar que tudo se mantém intacto até ao final do evento, só no dia é que se completam as decorações, imprimem e colam cartazes. Mas não é só: neste período de tempo, chegam as empresas contratadas para restauração e os distribuidores entregam os consumíveis, nomeadamente as bebidas.

Um pouco por todo o lado, a equipa, distribuída por grupos, aproveita as características do espaço para lhes conferir uma identidade. A “Toca”, por exemplo, contou com uma personalização à base de papel de alumínio, evidenciado por iluminação decorativa. Já o “Carlos Ramos” fundiu-se com a vegetação local, complementado por decorações coloridas e flutuantes.

A manhã serviu igualmente para verificar a vertente musical, com soundchecks a decorrer pelos três palcos. Em colaboração com equipa técnica, bandas e alunos organizam um mar de cabos, dispondo instrumentos e verificando afinação, volumes e estado do material.

FAUPFest é música e é arte, dando palco ao talento emergente

No início da tarde, horas antes do arranque, chegam as mesas, e respetivos donos, para a tradicional “feirinha” no pátio central da faculdade. O festival acaba por ser, também, uma oportunidade para dar visibilidade a pequenos e jovens artistas, que esperam encontrar nova clientela. Disponível das 17h00 às 20h00, o pequeno ponto de comércio traz tipos de arte variados para os demais públicos: gravuras, stickers, bijuteria, roupa, e outras peças handmade .

Apesar de todo o planeamento, percalços acontecem, e um ligeiro atraso adiou o arranque oficial do FAUP Fest para as 17h00 (uma hora mais tarde que o inicialmente previsto).

Devido a problemas técnicos no palco “Árvore”, “alheios aos artistas”, Sensible Soccers e Silentide tiveram de cancelar a sua atuação. Contudo, a AE está, de momento, a negociar um reagendamento do concerto, disponibilizando ao público um possível pedido de reembolso do bilhete. “Pedimos desculpa pela informação tardia, mas foram feitos todos os esforços por parte das equipas para que a situação fosse ultrapassada, não tendo, no entanto, sido possível”, avança a organização num comunicado partilhado no Instagram.

O recinto começou a encher a partir das 16h00, com primeira atuação, dos Marquise, às 17h50, no palco “Carlos Ramos”. O FAUPFest foi criado não só para proporcionar um momento de relaxamento no seio de Arquitetura, mas também para promover projetos e artistas, locais e nacionais, emergentes – cuja música se conecte à identidade da faculdade e de quem a frequenta. Segundo Bárbara Rodrigues, é importante proporcionar contacto com novos artistas e permitir que alunos demonstrem as suas demais vocações.

É o caso de Mafalda Rodrigues, vocalista dos Marquise, que é estudante da FAUP. A banda é composta por mais três jovens portuenses: Miguel Pereira, Matias Ferreira e Miguel Azevedo. Existem há cerca de um ano e meio e assinalaram no festival o seu quarto concerto.

O grupo reconhece que a área não é fácil para todos, dependendo muito da sorte e das condições de trabalho. Nesse sentido, Mafalda Rodrigues salienta que “o que pagam aos artistas por um concerto é importante – é valorizar o trabalho deles”.

Os também tripeiros Kurtis Klaus Ensemble, com pouco mais de um ano, atuaram às 22h30. José Miguel Silva, membro da banda, na mesma linha que os Marquise, confessa que, para artistas emergentes, o sucesso vem por ondas. “No mínimo, uma vez por mês, arranjamos palco. O que às vezes complica tudo é a falta de condições e de sítios num circuito independente“, revela. Para que o público destas bandas cresça, é necessário inclui-las mais regularmente na agenda cultural, evidencia o artista.

Com um olho no futuro

Das 17h00 às 4h00 da madrugada, a Faculdade de Arquitetura vibrou com boa música e boa energia. “Este festival não acontecia se não houvessem pessoas que o querem e se não valorizassem a cultura“, afirma Mafalda Rodrigues, vocalista dos Marquise. E completa: “A FAUP é um sítio que emerge bastante nessa área e toda a gente tenta mesmo dar o litro. É uma coisa mesmo muito bonita”.

Inicialmente, o evento era destinado apenas aos alunos da faculdade mas, passadas sete edições, ganhou uma dimensão significativa. Atualmente, pretende ocupar um espaço na agenda cultural do Porto, trazer mais artistas e maiores, promovendo-se e à arte. No ano passado, já tinha reunido cerca de duas mil pessoas nos jardins da instituição – este ano, o número cresceu, esgotando a capacidade do recinto.

Começou como um evento gratuito – mas, ao longo do tempo, o seu crescimento levou à necessidade de implementar bilhetes pagos, que são a maior fonte de sustento e rendimento para o festival. “Em todos os eventos que organizamos, o nosso propósito não é fazer lucro. Como somos uma organização sem fins lucrativos, [só] pretendemos não ter prejuízo. O FAUPFest é coberto por si próprio”, explica Eugénia Cadeia.

Segundo a presidente da AE, grande parte dos ganhos devem-se, também, ao consumo dentro do recinto. Nesse sentido, para que o controlo da saída e entrada de dinheiro das bancas fosse mais monitorizado e o seu manuseamento mais cuidadoso, nesta edição foi implementado um sistema de senhas.

O orçamento para o festival é feito o mais cedo possível, contando com a estimativa de bilhetes disponibilizados para venda. Por usarem os jardins da faculdade e um dos palcos gratuitamente (a “Toca”), é possível poupar certas despesas.

Terminada a edição do FAUPFest, os estudantes voltam ao trabalho, prestes a enfrentar mais uma época de avaliações. Esperam, ainda assim, que a essência da faculdade se tenha destacado e que, para o ano que vem, haja ainda mais adesão. “Há uma magia neste dia. Acho que só quem vem a consegue perceber. Se chegasse a mais pessoas, acho que era de aproveitar. É mesmo esse o objetivo”, conclui Eugénia Cadeia.