Tina Turner morreu aos 83 anos, vítima de doença prolongada. A “Rainha do Rock & Roll” deixa-nos uma obra musical eterna e um exemplo de persistência e ousadia.

Rosto de Tina Turner enquanto atua em palco.

A artista ficou conhecida como “Miss Hot Legs”. Foto: Les Zg/ WikimediaAttribution-Share Alike 4.0 International

A “Rainha do Rock & Roll” morreu esta quarta-feira, aos 83 anos, na sua casa em Kusnacht, perto de Zurique, na Suíça, onde morava com o marido Erwin Bach.

De acordo com um comunicado da família, citado pela revista Rolling Stone, Tina Turner faleceu vítima de doença prolongada. Em 2016 foi-lhe diagnosticado um cancro nos intestinos e, nos últimos anos, a cantora debatia-se com outras complicações de saúde.

A família da artista avança que com a sua morte se perde uma “lenda da música e um modelo a seguir”. A sua presença em palco, a performance icónica e a voz inconfundível, tornaram Tina Turner numa estrela eterna e numa inspiração para muitos artistas, desde David Bowie a Janis Jopplin.

Muitas personalidades já lamentaram a morte da cantora, nomeadamente Mick Jagger ,que escreveu nas redes sociais: “ajudou-me tanto quando era jovem, nunca a irei esquecer”.

Primeiros anos de carreira e relacionamento com Ike Turner

Nascida Anna Mae Bullock, no estado do Tennesse, a 26 de novembro de 1939, deu os primeiros passos na indústria da música com apenas 17 anos.

Nessa altura, conhece Ike Turner, um nome respeitado do rhythm’n’blues, quando este atua com o seu grupo Kings of Rhythm, num clube em St. Louis. Anna Mae começa então a acompanhar os Kings of Rhythm. Ike Turner reconhece o seu talento e assume o papel de seu conselheiro e guia na indústria musical. A transformação de Anna Mae em Tina Turner começava.

Ike Turner regista o nome artístico “Tina Turner” enquanto sua propriedade e, nas décadas de 1960 e 1970, os dois, juntamente com os Kings of Rhythm, tornam-se dos nomes mais requisitados e bem-sucedidos no cenário musical americano.

A carreira de Ike e Tina disparava. Temas como “A Fool in Love”, “River Deep- Mountain High”, “It’s Gonna Work Out Fine”, são um legado dos seus tempos áureos. Segundo a Reuters, o Rock & Roll Hall of Fame introduz Ike e Tina Turner como “uma das melhores performances ao vivo da história”.

Contudo, longe dos holofotes, o relacionamento era tumultuoso, ficando marcado na história como um dos casamentos mais polémicos da indústria musical.

Com problemas de dependência de substâncias- acabando por morrer de overdose em 2007-, Ike era agressivo e infiel. Os abusos foram confirmados por ambas as partes e eram de tal forma violentos que, em 1968, Tina Turner tenta o suicídio. Em 1976, a artista decide pôr fim aos maus-tratos e, após o final de um concerto, foge do hotel em Dallas onde estava alojada com o ex-marido.

O divórcio chega um par de anos depois. Tina ficou com alguns bens, mas, acima de tudo, garantiu o direito a manter o seu nome artístico.

“Simply, the best”

O início da sua carreira a solo não foi fácil. A “Rainha do Rock” viu-se a braços com dívidas e processos por quebras contratuais com editoras, visto já não trabalhar com o ex-marido. É já com mais de 40 anos que Tina regressa ao estrelato.

O lançamento do seu álbum Private Dancer, de 1984, torna-se um sucesso de vendas- aliás, o maior sucesso da sua carreira– e traz-nos temas icónicos como What’s love got to do with it e Private Dancer.

Ao longo da sua carreira, “Miss Hot Legs” venceu oito Grammys, incluindo o prémio carreira, em 2018. Integra, em 2021, o Rock & Roll Hall of Fame em nome próprio, sendo a terceira mulher a receber a distinção duas vezes (a primeira em 1991 juntamente com Ike, a segunda a solo).

Foi também a primeira mulher e artista negra a aparecer na capa da Rolling Stone, estando posicionada como a 63ª melhor artista de todos os tempos na publicação americana. Janet Jackson descreve o seu percurso dizendo que Tina representa “um símbolo heroico para muitos devido à sua força tremenda” e que a sua história “não é a história de uma vítima, mas o exemplo de um triunfo incrível”.

Nos anos noventa, tocou duas vezes em Portugal. Em 1990, apresentou-se no Estádio de Alvalade e seis anos depois fez um concerto memorável no estádio do Belenenses. Pouco depois, em 2000, no final de mais uma digressão, a artista retira-se dos palcos.

Regressa em 2008, ao lado de Beyoncé, na cerimónia dos Grammys desse ano. De seguida, embarca na sua última digressão, comemorando os 50 anos de carreira. Foi a despedida definitiva dos palcos.

Artigo editado por Miguel Marques Ribeiro