O JPN visitou o recinto poucos dias do arranque da 10.ª edição do Primavera Sound Porto. O recinto foi alargado e reconfigurado para responder às necessidades do público, explica Catarina Soares, diretora de comunicação do festival. De 7 a 10 de junho, sobem 76 artistas aos cinco palcos.

Desde o início de maio, enquanto os estudantes se reuniam no Queimódromo, junto ao Parque da Cidade do Porto, para a festa da Queima das Fitas, o Primavera Sound montava já um dos cinco palcos que, este ano, recebem artistas como Rosalía, Kendrick Lamar ou Blur, entre 7 e 10 de junho. A dias do arranque do evento – o JPN visitou o recinto na última sexta-feira (2) -, ainda há muita logística para tratar –  sobretudo quando se avizinha a maior edição de sempre.

“Demoramos um mês para montar. O festival dura quatro dias e depois ainda são [precisas] três semanas para desmontar tudo”, adianta Catarina Soares, diretora de comunicação do Primavera Sound, ao JPN.

No âmbito das dez edições, o cartaz traz um dia extra, a par de uma expansão significativa de espaço, recursos, investimento e lotação.  O recinto, que se estende por mais cerca de cinco hectares do que o habitual, pode agora receber, por dia, 45 mil espectadores – um número que se torna cada vez mais real, já que os passes gerais (170 euros) e o bilhete diário (70 euros) de quarta-feira estão perto de esgotar, avança Catarina Soares.

Um Primavera Sound que se funde com a cidade que o acolhe 

Para receber esta massa humana é necessária uma reconfiguração do espaço,  já que “a essência deste festival é o público e o seu conforto”, diz. Nesse sentido, para dar resposta a alguns comentários negativos de edições passadas, em relação a “filas para casas de banho, bar e restauração”, os serviços foram também adaptados. O ponto-chave foi a reorganização, uma vez que “uma coisa é esquematizar tudo numa folha, e outra é perceber a fluidez do público”, explica a diretora de comunicação. 

Os palcos acompanham os limites laterais do recinto, parque adentro, formando um trajeto em meia-lua. São eles os palcos Vodafone – novo parceiro oficial que, ressalta Catarina Soares, não é name sponsor, não substituindo, por isso, a marca NOS no nome do festival -, Super Bock, Bits Plenitude. Já o palco principal, até aqui designado de palco NOS, localiza-se junto à extremidade mais próxima do mar e surge no contexto da extensão do perímetro do festival. Responde atualmente pelo nome de palco Porto –  uma alteração pensada para homenagear a cidade anfitriã, por ter uma presença forte na identidade do evento

Na data em que celebra uma década, o festival está igualmente “a lutar pela afirmação do nome Primavera Sound Porto”, reforça Catarina Soares. Na mesma linha, o apoio da Câmara Municipal do Porto triplicou este ano, atingindo os 650 mil euros. “É sempre bom sermos bem recebidos na casa onde estamos”, comenta Catarina Soares, já que o festival também “traz um grande input para a cidade”.

Ainda a pensar na movimentação das multidões, o mercado e zona de alimentação estão dispostos de forma central no recinto, mais perto das entradas. As casas de banho estão espalhadas pela área – em pontos lógicos de rota entre palcos. Há também equipamentos específicos preparados para receber pessoas com mobilidade reduzida ou necessidades especiais.

Até se “mudam árvores de sítio”

Quanto à identidade do evento, o Primavera tem registado um aumento da quantidade de público estrangeiro ao longo das suas nove edições. Mesmo espectadores espanhóis, que têm “o festival de Barcelona à porta”, também passam pela cidade Invicta, onde podem “aproveitar aquilo que o Parque da Cidade tem para oferecer, com mais conforto” do que na casa-mãe do Primavera Sound – que “é muito grande e tem poucas zonas de relva”, diz Catarina Soares.

Em matéria de sustentabilidade, valor que o festival garante valorizar – foi “o primeiro no país a implementar o copo reutilizável” -, e para preservar este cenário verde, está na agenda a limpeza e recuperação do espaço pós-evento, incluindo tratamento da vegetação do Parque da Cidade. Mesmo durante a montagem, a ordem é respeitar ao máximo a natureza, tentando não interferir, garante a representante da organização. Se for necessário, até se “mudam árvores de sítio”. 

Soma-se, este ano, uma inovação: “casas de banho que consomem muito menos água”, trazidas de Madrid. Para garantir a redução da pegada ecológica, são estabelecidas parcerias com a Selo Verde e a Plenitude – que dá, inclusivamente, nome a um dos palcos, alimentado as energias renováveis.

Um festival que acompanha o ritmo dos gostos e da cultura

A programação portuguesa acaba por acompanhar os artistas e géneros da espanhola (isto é, do Primavera Sound Barcelona). Apesar disso, de forma global, a ambiência musical tem vindo a alterar-se. “O que o Primavera sempre fez foi acompanhar a evolução da música, nos seus géneros, formatos e formas de consumo”, explica Catarina Soares.

Deste modo, o cartaz, que outrora se compunha num registo mais direcionado para o indie rock, tem vindo a tornar-se cada vez mais eclético para responder aos interesses da audiência. “O que fazia sentido há dez anos em Barcelona era promover o indie rock, porque era a novidade. Neste momento, já existe e está bem instalado”, completa a diretora de comunicação. A aposta cai então em novas sonoridades, “como o trap e o reggaeton, que agora fazem todo o sentido”.

A inclusão de nomes mais underground, em ascensão, é também característica do festival – que recebeu, em edições passadas, artistas como The Weekend e Rosalía (também cabeça de cartaz este ano), antes de se tornarem os fenómenos que são atualmente. “É esse o nível de atenção que a equipa do booking de Barcelona [responsável pelo cartaz das várias localizações do festival] tem”, comenta a diretora de comunicação.

Também o talento português tem representação no alinhamento, que inclui 11 nomes nacionais. Catarina Soares garante que, apesar da intenção de aliar a cidade ao festival, a escolha dos artistas não é feita com base na origem, pois isso seria “rotular as coisas de forma errada”. O fator em causa é apenas a qualidade musical: “A banda tem de fazer sentido por aquilo que ela é”, reitera.

A par dos últimos preparativos para a maior edição de sempre do Primavera Sound no Porto, com um orçamento de 13 milhões de euros, a organização garante “espetáculos maravilhosos” e até “algumas surpresas [como] ao associar certas músicas a alguns artistas”. O evento arranca já esta quarta-feira (7), com Kendrick Lamar a encabeçar um cartaz que conta, este ano, com 76 artistas e quatro dias de “momentos únicos”.