Várias universidades nos Estados Unidos têm sido palco de protestos pró-Palestina. A Universidade de Columbia já começou a suspender os alunos que não abandonaram as manifestações. Esta segunda-feira, na Universidade da Sorbonne, em França, os estudantes montaram tendas no recinto universitário como forma de protesto.

Os protestos pró-Palestina nas universidades intensificaram-se em abril.. Foto: Quotidien Arts/ Pixabay

Os protestos de estudantes pró-Palestina que têm sido frequentes nos recintos universitários norte-americanos estão a chegar à Europa. O caso mais recente aconteceu esta segunda-feira (29) na Universidade da Sorbonne, em França.

Em forma de protesto contra o conflito na Faixa de Gaza, dezenas de estudantes montaram tendas no recinto universitário e apelaram à instituição para que condenasse Israel. “Montamos tendas, tal como fizeram em várias universidades dos EUA“, afirmou Louis Maziere, estudante da instituição, de acordo com a Reuters. “Estamos a fazer tudo o que podemos para aumentar a consciencialização sobre o que está a acontecer na Palestina, sobre o genocídio em curso em Gaza”, acrescentou.

A Universidade da Sorbonne suspendeu as aulas e fechou os edifícios durante a tarde de segunda-feira, na sequência dos protestos. As autoridades francesas entraram no recinto para expulsar cerca de 50 ativistas.

Na sexta-feira (26), protestos semelhantes aconteceram na escola de elite Sciences Po, em Paris.

Tensão aumenta em universidades norte-americanas

Estes episódios seguem o mesmo modelo adotado pelos estudantes pró-Palestina nas universidades norte-americanas. A tensão nos recintos universitários dos EUA tem vindo a aumentar com os estudantes a exigirem à instituição que recuse apoio financeiro de qualquer empresa ou instituição que apoie o esforço de guerra israelita e apelam também a um “boicote académico“, interrompendo programas de estudo celebrados com universidades israelitas.

A situação tem sido particularmente crítica na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, mas os protestos ocorrem em várias instituições dos EUA. Já ocorreram manifestações em Yale, Universidade de Nova Iorque, Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, Universidade de Miami em Ohio, entre outras. Em resultado dos protestos, já se registaram várias intervenções policiais em diversas universidades dos Estados Unidos e vários estudantes foram detidos.

Na manhã desta segunda-feira, a Universidade Columbia emitiu um aviso, no qual afirmava que ia suspender todos os alunos que não abandonassem os acampamentos até às 14h00 (19h00, em Lisboa). Tendo em conta que alguns ignoraram o aviso, “começamos a suspender os alunos como parte da próxima fase dos nossos esforços para garantir a segurança nos nossos recintos”, pode ler-se numa nota

À Lusa, uma das estudantes que lidera o movimento estudantil disse que os alunos “vão resistir”. “Somos resilientes, vamos resistir pelo tempo que for necessário”, disse Sueda Polat. A estudante apelou aos alunos europeus para que sigam o mesmo modelo: “Olhem para nós e façam o mesmo”.

Na terça-feira, os alunos entraram num dos edifícios da Universidade de Columbia e bloquearam as entradas. Os protestos nesta instituição têm sido recorrentes.

Os protestos pró-Palestina nas universidades intensificaram-se em abril. Na Universidade de Columbia, as tensões aumentaram a partir de 17 de abril, quando os estudantes desta universidade montaram mais de 50 tendas dentro do recinto em forma de protesto. Poucos dias depois, as manifestações chegaram a outras universidades dos Estados Unidos. A 22 de abril, houve manifestações na Universidade de Yale, Universidade de Nova Iorque e no Emerson College, em Boston. Dois dias depois, a 24 de abril, houve protestos na Universidade da Carolina do Sul.

Após o agravamento da situação, a presidente da Universidade de Columbia, Minouche Shafik, foi acusada num comité do Congresso dos Estados Unidos de não proteger os estudantes judeus da instituição. Na audiência, segundo a agência Reuters, Shafik afirmou que a universidade está a enfrentar uma “crise moral” com uma onda de antissemitismo no campus e que já tomou medidas contra este comportamento, nomeadamente ao suspender estudantes que participaram em protestos não-autorizados e ao demitir um professor que apoiou o ataque de 7 de outubro.

“Tentar conciliar os direitos de liberdade de expressão daqueles que querem protestar e os direitos dos estudantes judeus de estarem num ambiente livre de discriminação e assédio tem sido o desafio principal no nosso campus e em muitos outros em todo o país”, disse Shafik, que foi igualmente criticada por chamar forças policiais ao campus, área tradicionalmente vedada à polícia.

A discussão sobre a presença de antissemitismo nas universidades, em especial desde o agravamento do conflito em Gaza, não é recente. Em março, estudantes de universidades como Harvard e Stanford foram ouvidos por membros do Comité de Educação e Força de Trabalho da Câmara dos Representantes numa mesa redonda.

“É temporada de caça aos judeus no nosso campus e a inação contínua é inaceitável”, disse Noah Rubin, da Universidade da Pensilvânia, segundo a ABC News. “É hora de acordar, América. Esta é a história dos judeus no campus da U-Penn e dos estudantes em todo o país. Estamos a viver um clima de ódio e medo”, acrescentou.

Em dezembro de 2023, as presidentes de Harvard, do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT, na sigla inglesa) e da Universidade da Pensilvânia foram convocadas para uma audiência no Congresso sobre antissemitismo nos campus das universidades. Na audiência, quando lhes foi questionado se os apelos ao genocídio dos judeus constituiriam uma violação das políticas de conduta das universidades, nenhuma deu uma resposta clara. Após a audiência e a controvérsia gerada pela falta de respostas, a presidente da Universidade da Pensilvânia, Liz Magill, demitiu-se do cargo em dezembro e Claudine Gay deixou o cargo de presidente de Harvard em janeiro, também a braços com acusações de plágio.

O Presidente norte-americano, Joe Biden, já se pronunciou sobre os protestos. “Este antissemitismo flagrante é repreensível e perigoso e não tem lugar nos recintos universitários ou em qualquer lugar do nosso país”, disse num comunidade de imprensa, publicado a 21 de abril. Também o presidente da câmara de Nova Iorque, Eric Adams, disse estar “horrorizado com o antissemitismo que está a ser espalhado dentro e em torno do recinto da Universidade de Columbia”.

Em resposta às acusações de antissemitismo, o grupo Columbia Students for Justice in Palestine, disse, num comunicado publicado na rede social X , sentir-se “frustrado” com “as distrações dos media focadas em indivíduos inflamatórios que não os representam”. 

Rejeitamos firmemente qualquer forma de ódio ou intolerância e posicionamo-nos contra os não-estudantes que tentam perturbar a nossa solidariedade”, lê-se no comunicado.

Editado por Inês Pinto Pereira