É portuense e presidente da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde. Em entrevista ao JPN, Tiago Mayan diz estar satisfeito com o trabalho desenvolvido até agora, mas reconhece haver ainda obra por concluir.

Tiago Mayan nasceu e cresceu na cidade do Porto durante os anos 80. É advogado e licenciado em Direito pela Universidade Católica do Porto. Faz parte do movimento independente de Rui Moreira, “Porto, o Nosso Partido”, desde 2013, tendo sido eleito em 2017 deputado suplente na Assembleia da União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde.

Em 2017, ajudou também a fundar a Iniciativa Liberal (IL) e foi presidente do conselho de jurisdição do partido até ao final de 2020. E foi pela IL que se evidenciou no espaço público quando, em janeiro de 2021, se apresentou como candidato presidencial. Desconhecido do grande público, Mayan obteve então 3% dos votos, ficando a uma distância curta de dois candidatos muito mais experimentados nas lides eleitorais: Marisa Matias (BE) e João Ferreira (CDU).

Em setembro desse ano, voltou a ser candidato desta vez à presidência da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde. Concorreu pelo movimento de Rui Moreira num contexto sensível: o de ser o sucessor de Nuno Ortigão que liderava a união de freguesias desde 2013 e que faleceu nesse ano aos 57 anos vítima de cancro. Mayan venceu as eleições com 45% dos votos.  

Em entrevista ao JPN a pouco mais de um ano de terminar o mandato, Tiago Mayan está satisfeito com o trabalho desenvolvido na união de freguesias. O Centro Nuno Ortigão, que diz estar prestes a inaugurar, a expansão do Mercado da Foz ou o investimento nas Festas de São Bartolomeu, que quer vir a candidatar a património imaterial da humanidade, são alguns dos destaques no plano das concretizações. 

O autarca promete ainda investir no Cemitério de Aldoar e na zona do campus da Universidade Lusíada e assume ainda o compromisso de “devolver à cidade” o Teatro da Vilarinha.

Quanto ao futuro político, apesar de crítico da estratégia da atual direção da IL, Tiago Mayan garante que quer cumprir o mandato de presidente da junta “até ao fim”.

JPN – Foi candidato a Presidente da República e, logo de seguida, a presidente da União de Freguesias. Como é que foi passar da escala nacional para a de freguesia?

Tiago Mayan (TM) –  Os meus primeiros momentos de participação política ativa foram ainda no contexto local, com o Movimento de Cidadãos que em 2013 elegeu, pela primeira vez, um independente para a Câmara Municipal do Porto, o Rui Moreira.  

Depois de me ter envolvido na fundação do partido, a Iniciativa Liberal, achámos que era necessário haver um candidato liberal à Presidência da República, acima de tudo para poder representar os nossos pontos de vista, as ideias e o posicionamento liberal no contexto político-partidário. 

A candidatura à União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde vem de uma forma muito natural, porque, de novo, repito, estava já envolvido desde o início com o Movimento de Cidadãos. 

JPN – O que é que o levou a tomar esta decisão? 

TM – Uma candidatura à Presidência da República é uma candidatura de âmbito nacional e até com caráter internacional também, porque apela a todos os portugueses, independentemente de estarem ou não em Portugal.  

Consigo encontrar algumas similitudes sobre o que é a posição de cada um [Presidente da República e presidente de junta]. Um presidente de uma união de freguesias é também um responsável político eleito diretamente pelos cidadãos. Tem legitimidade democrática própria, atribuída por esse mandato e tem, também, um conjunto de responsabilidades e competências muito variado.  

A posição do local só traz, do meu ponto de vista, um caráter de desafio muito interessante, que eu gosto particularmente e tenho gostado no desempenho destas funções, que é o da proximidade e o contacto direto com os cidadãos.  

JPN – Assumiu um lugar de um presidente [falecido em abril de 2021 aos 57 anos] que era muito querido à união de freguesias. Sentiu o peso da responsabilidade em continuar o legado de Nuno Ortigão? 

TM – Pude ser próximo do Nuno que, de facto, era uma pessoa muito especial. Houve um trabalho muito intenso e muito meritório desenvolvido pelo Nuno e pelas suas equipas para conseguir uma efetiva união deste território. 

Neste aspeto, foi muito bem conseguido e esse será um dos fatores de reconhecimento que a própria comunidade vê. Conseguiram realizar esse trabalho num território que, apesar de não ser muito vasto, é bastante heterogéneo em termos sociais, económicos, até comunitários e culturais. 

Ao tomar posse, enquanto presidente aqui da União das Freguesias, a herança que me foi deixada era muito boa, seja em termos de contas, seja em termos de equipas, seja em termos dessas abordagens de inclusão e de união no território. Isso permitiu desenvolver um trabalho muito mais profícuo. Acho que estamos a conseguir fortalecer ainda mais essa capacidade de coesão e proximidade no território.

Há sempre uma estratégia contínua destes investimentos estruturantes, mas também o investimento no dia a dia, que pode não ser visível, mas que é contínuo.

JPN – Quais eram as principais preocupações e objetivos quando assumiu a presidência? 

TM – Há sempre um desafio para qualquer político, que é fazer obra. E nós tínhamos algumas obras que queríamos desenvolver nesta União das Freguesias. 

Uma tem o nome do saudoso presidente, que é o Centro Nuno Ortigão, que podemos, finalmente, inaugurar. É um projeto já trazido anteriormente e que é não só um edifício, um novo edifício, belíssimo, aqui no nosso território, mas também um espaço que potencia ainda mais os nossos projetos, nomeadamente o projeto Trajetórias, que trabalha mais com os seniores no território e é, também, um espaço polivalente para desenvolver mais trabalho no território.  

Para além disso, continuamos a fazer muito investimento no nosso património e desenvolvimento. Outro exemplo é no Mercado da Foz, que conseguimos expandir para o espaço do lavadouro da Ervilha. Planeamos investir ainda mais nessa matéria e, portanto, estamos a tentar desenvolver uma estratégia da envolvente comercial e comunitária no território. 

Também em termos de desenvolvimento de política cultural, estamos a avançar também com investimentos associados ao Teatro da Vilarinha, que é um equipamento nosso e que pretendemos devolver à cidade, porque tem estado, infelizmente, encerrado. 

Há sempre uma estratégia contínua destes investimentos estruturantes, mas também o investimento no dia a dia, que pode não ser visível, mas que é contínuo. Por exemplo, investimentos nas manutenções dos cemitérios e também a expansão da oferta da prestação de serviços à comunidade nessas matérias e o investimento nos nossos espaços de concessionários na área da Praia do Molhe.  

JPN – Do programa que apresentou no início da candidatura, se pudesse destacar apenas alguns projetos, alguma obra que já tenha sido feita, o que é que destacaria para além do que já referiu?  

TM – O investimento nas festividades de São Bartolomeu e o nosso trabalho na ação social, que tem sido um trabalho muito intenso, naturalmente, e já trazido de executivos anteriores. Fortalecemo-lo ainda mais através do reforço, por exemplo, da nossa Comissão Social de Freguesias, que é o nosso fórum aqui no território e congrega todo um conjunto de entidades: IPSS, associações e outras entidades que trabalham a ação social e a vertente social no território.  

E temos, de facto – acho que me posso orgulhar e afirmar isto – dentro das freguesias da Cidade do Porto, a Comissão Social de Freguesias mais ativa e mais participada e com mais capacidade de desenvolver projetos próprios.  

Gostaria de destacar também algum trabalho que temos desenvolvido, inovador, nomeadamente com alguns parceiros, como a Fundação Aga Khan, que são trabalhos também com uma vertente social. 

Temos também um projeto que foi lançado já o ano passado, também em parceria e com a dinamização da Fundação Aga Khan e de outros parceiros, que é a escola Bytes4Future, que dá uma resposta muito direta a uma necessidade que sentimos no território, a todos aqueles que já não estão a estudar, mas também não têm formação e não estão a trabalhar.  

Portanto, é uma escola particularmente direcionada para oferecer uma resposta a esta geração e que, no fundo, potencia o desenvolvimento de soft skills, capacidades sociais e internacionais e o envolvimento de empresas parceiras neste projeto, que são desde logo empregadoras destes jovens.  

Por último, apontar que também tomámos uma decisão estratégica de expandir a nossa ação e intervenção junto da população sénior, através de um projeto que já existia com a Trajetórias. É o desenvolvimento do projeto Exercício Físico nos Lares, que lançámos também no ano passado. Será algo onde iremos investir mais e que, no fundo, visa trazer a capacidade que já era desenvolvida no Trajetórias, portanto, de exercício físico e de trabalho holístico das pessoas, trazê-lo aos lares e tentando atingir públicos que, por variadíssimas razões, teriam a incapacidade de vir ter connosco.  

Contamos, no final deste ano, fazer um ponto de situação sobre este projeto que será muito positivo e que garantirá que o vamos desenvolver como um vetor estratégico da ação desta União de Freguesias para o futuro. 

Nós, enquanto União de Freguesias, temos de ter essa percepção geral e temos uma atenção contínua a todo o território e a todas as necessidades dos fregueses, que são variadas, dependendo do território. 

JPN – Durante esta semana ouvimos algumas pessoas da união de freguesias. A coisa que mais retivemos é que Aldoar e Nevogilde estarão “esquecidas” por comparação com a Foz. Reconhece nestas queixas o reflexo do seu mandato? 

TM – O investimento desta União de Freguesias, nas coletividades, na comunidade, na atenção dada aos problemas reportados pelos cidadãos, é transversal a todo o território e, portanto, não sei em concreto o que é que cada pessoa dirá sobre.  

Naturalmente, cada um terá um entendimento sobre as suas próprias necessidades, e não terá uma perceção geral. Nós, enquanto União de Freguesias, temos de ter essa perceção geral e temos uma atenção contínua a todo o território e a todas as necessidades dos fregueses, que são variadas, dependendo do território. 

JPN – Até ao fim do mandato, dos projetos que a junta tem previstos, pode dar exemplo de alguns que sejam para estas zonas?  

TM – Como lhe disse, estamos a desenvolver um projeto de reabilitação do Teatro da Vilarinha. A primeira fase de investimento já está lançada a concurso e será a aquisição de alguns equipamentos necessários, mas haverá ainda uma segunda fase, que também iremos lançar ainda este ano e será um investimento direto em património da União de Freguesias. 

Também vai haver mais investimento no Mercado da Foz, de forma a potenciar ali um espaço mais comunitário. Temos ainda, mas para já só em fase conceptual, a intenção de fazer também um investimento muito concreto no Cemitério de Aldoar. Outro ponto que posso apontar é o investimento na zona do campus da Universidade Lusíada e também na estrutura viária.

No que diz respeito às coletividades, queremos reforçar o orçamento colaborativo e o fundo de apoio ao associativismo. Nas festividades de São Bartolomeu, queremos reforçar o apoio direto às coletividades para a sua participação e vamos conseguir, por exemplo, ainda este ano, envolver mais coletividades, nomeadamente do território de Aldoar e de Nevogilde, que já tínhamos, e da Foz. 

JPN – Fomos ao Mercado da Foz e ouvimos que a obra ainda não foi concluída e que existem problemas que prevalecem – o saneamento e o estacionamento. Até ao fim do mandato pretende resolver estes problemas? 

TM – A questão do estacionamento já tem muitos anos. O município tem procurado soluções, mas a característica do espaço não é benéfica. Não está na capacidade da Junta de Freguesia determinar e resolver esse aspeto diretamente, mas temos tentado encontrar soluções. Por exemplo, reformular a praça de táxis que está ali presente.  

Mas devo destacar que, por intervenção da Junta de Freguesia, já arranjámos mais lugares de estacionamento. Exemplo disso é o fim da Rua Côrte Real, que tinha uma faixa de viragem e, do ponto de vista da União de Freguesias, percebemos que não era necessária e que poderia ser revertida para estacionamento, coisa que foi feita há alguns meses. 

Em concreto, quanto ao investimento dentro do mercado e na questão das águas, não é só a rede de saneamento. É, na verdade, as três redes de águas que sempre existiram, que é saneamento, abastecimento e [águas] pluviais. 

Nós temos consciência disso e por isso mesmo investimos num projeto próprio, algo que não existia. Investimos e já temos esse projeto próprio e a segunda fase de investimento que eu lhe transmiti para o Mercado da Foz vai passar por esse investimento, também, que consideramos necessário. Portanto, sim, nós temos uma estratégia de contínuo investimento no nosso património e esses problemas estão identificados e estão a ser tratados de forma consequente.

A nossa estratégia para o Mercado da Foz também não é transformá-lo num centro comercial e explorá-lo comercialmente, mas é claramente garantir um equilíbrio entre custos e despesas.  

JPN – Também nos falaram do aumento das rendas. Porque é que subiram?  

TM – Isso foi, naturalmente, discutido com os lojistas e levado a uma assembleia da freguesia que mereceu o voto pleno de todos. O Mercado da Foz tem uma estrutura de custos permanente que não estava a ser coberta pelas receitas que o mercado criava, ou seja, objetivamente, o orçamento da União de Freguesias tinha que cobrir o défice de exploração do Mercado da Foz.  

Nós concebemos que isto não é correto, tendo em conta que isto é retirar verbas. A nossa estratégia para o Mercado da Foz também não é transformá-lo num centro comercial e explorá-lo comercialmente, mas é claramente garantir um equilíbrio entre custos e despesas.  

Este foi um estudo muito longo e discutido com os lojistas que achámos necessário fazer e essa revisão das taxas aplicadas no Mercado da Foz teve esse orçamento.  

O objetivo é, no fundo, o equilíbrio entre as receitas geradas pelos próprias lojistas e a estrutura de despesas que está, naturalmente, associada àquele mercado e que tem de ser mantida.   

JPN – O que é pretende cumprir até terminar o mandato?   

TM – O desafio do Mercado da Foz e do Teatro Vilarinha é algo que queremos ver desenvolvido.  Se não concluirmos totalmente a obra, queremos pelo menos fazer o lançamento de todos os concursos e os inícios de obra destas duas vertentes.

Esperamos, também, mas aí não vou assumir o compromisso total, que até ao final do mandato, já tenhamos concretizado o investimento no cemitério de Aldoar.

E, naturalmente, também o projeto de São Bartolomeu. Aqui esperamos ter o registo nacional como património imaterial já realizado, que é, no fundo, a primeira fase para depois realizarmos a candidatura a património imaterial da humanidade.   

JPN – Terminando o mandato, o que é que se segue? 

TM – Irei cumprir o meu mandato até ao fim. Assumi este compromisso e, por isso, agora levo-o até ao fim. Depois, não depende só de mim. Depende de decisões políticas tomadas no contexto autárquico, depende de muitas coisas. Também de decisões pessoais minhas, evidentemente, mas acima de tudo do voto dos cidadãos. 

Portanto, aí eu não vou poder opinar nem formular, nem fazer futurologia. 

JPN – Gostava de algum dia chegar a Presidente da Câmara do Porto? É algo que está em mente?  

TM – O que tenho em mente neste momento é esta União de Freguesias. Quero cumprir o meu mandato até ao fim e conseguir desenvolver muito do que tenho vindo a expor e do que estivemos aqui a falar. Para já só penso nisso, com toda a sinceridade, não estou a pensar noutros contextos. 

Editado por Filipa Silva