Tomada de posse do 32.º presidente do FC Porto marcada por promessas de empenho, respeito pelo passado e urgência em tomar decisões perante situação “muito sensível” do FC Porto. Agilizar o processo de entrada de novos sócios é uma das ideias em cima da mesa.
André-Villas Boas apelou ao “bom senso” dos membros do Conselho de Administração da SAD do FC Porto e pediu-lhes para que renunciem aos cargos. O repto marcou o discurso de tomada de posse do novo presidente dos dragões que decorreu ao final da manhã de terça-feira (07/05), no Estádio do Dragão.
Villas-Boas já iniciou funções no clube, mas deverá ter de esperar pelo final do mês de maio para poder assumir também o comando da Sociedade Anónima Desportiva (SAD). A SAD é quem controla o futebol profissional e é liderada ainda por Jorge Nuno Pinto da Costa.
“Apelo ao bom senso da administração da SAD do FC Porto. A vossa renúncia jamais seria considerada como um ato de fuga, mas sim como um ato nobre que vos elevaria. Um clube não tem dois presidentes”, afirmou o agora 32.º presidente do FC Porto no final de uma cerimónia tranquila, marcada pela boa disposição. Na mesma cerimónia, o novo presidente do FC Porto dirigiu-se a Pinto da Costa, a quem chamou de “o presidente dos presidentes”, com palavras elogiosas.
O ambiente foi de festa, mas o apelo do recém-eleito não encontrou eco. Já depois de terminada a cerimónia, fora do Estádio do Dragão e em declarações exclusivas à SIC, Jorge Nuno Pinto da Costa desvalorizou o pedido. Lembrou que os estatutos permitem que a direção da SAD se mantenha até à próxima Assembleia Geral – que estatutariamente só pode acontecer dentro de 21 dias – e garantiu que o motivo que o faz manter no lugar é do foro desportivo: “Estou convencido que a minha presença junto da equipa na final da Taça de Portugal pode ser uma ajuda para que ela vença”, afirmou. “Eu penso, o treinador pensa e os jogadores também”, disse ainda, dando a entender que a decisão é apoiada também por Sérgio Conceição.
“A partir da Taça de Portugal, que espero ganhar, a partir daí demito-me, porque não estou agarrado ao lugar”, completou. À reportagem da SIC, garantiu ainda que não há qualquer animosidade com a nova direção à qual tem sido dado acesso a todos os dossiês.
Pinto da Costa anunciou também que vai, simbolicamente, marcar presença no banco, na final do Jamor a 26 de maio.
“É lamentável”, diz Villas-Boas
Numa conferência de imprensa que se seguiu à tomada de posse, André Villas-Boas teve a oportunidade de responder. Garantiu que a presença de Pinto da Costa na final da Taça “não está em causa, nem nunca estaria”. “Sei muito bem o que ele representa para todos os portistas e a sua presença é um motivo de força para a equipa”, disse.
Contudo, acrescentou, “o tempo urge, porque há decisões fundamentais que têm de ser tomadas”, pelo que a entrada da nova equipa na SAD já “facilitaria processos de decisão” e seria também positivo para os funcionários do clube “que se encontram, de alguma forma, entre um presidente de um clube e um presidente da SAD com a importância histórica que tem o presidente Jorge Nuno Pinto da Costa”.
“É lamentável”, concluiu, “que o FC Porto não seja o exemplo que foram outros clubes de Portugal, nomeadamente os nossos rivais mais diretos, que asseguram transições no próprio dia, tanto no clube como na SAD.”
Villas-Boas disse ainda que a sua equipa recusa a cooptação de José Pedro Pereira da Costa pela atual SAD, porque só o aceitaria se o administrador entrasse com poder de veto.
Perante este cenário, o novo presidente fez o que os estatutos preveem: “hoje [terça-feira] irei dar ordem à Mesa da Assembleia Geral da SAD para que se inicie a convocação para deliberação dos novos órgãos sociais”.
Visita ao Olival na quinta-feira
O 32.º presidente do FC Porto tem em mãos muitas decisões para tomar e falou sobre algumas delas com os jornalistas na manhã desta terça-feira.
Um dos assuntos bordados foi a continuidade de Sérgio Conceição. André Villas-Boas aproveitou para dizer que nem o técnico do FC Porto nem o capitão de equipa estiveram presentes na cerimónia – ao contrário do que aconteceu com os treinadores e capitães de todas as outras modalidades – porque a tomada de posse decorreu ao mesmo tempo que havia treino no Olival. “É essa a razão”, disse o presidente.
“Em breve”, afirmou, Villas-Boas vai ao centro de treinos da equipa principal do FC Porto para se apresentar, a si e ao seu projeto, “e dar início às conversas de construção do futuro do FC Porto.” Entretanto ficou confirmada a visita para esta quinta-feira (09/05).
Academia ou CAR? Muitos dossiês em aberto
Há ainda muitos dossiês herdados da anterior direção sobre os quais a nova equipa vai ter de fazer escolhas.
“Pouco a pouco vamo-nos apoderando de toda a documentação para tomar as melhores decisões, seja do ponto de vista da academia, do contrato com a Ithaca, do contrato com a Legends, a reavaliação do estádio, as renovações recentes, tudo isto é sensível. Do ponto de vista jurídico, estamos a tentar construir as melhores soluções”, garantiu.
Questionado sobre a academia da Maia, projeto da anterior direção, e pelo Centro de Alto Rendimento (CAR) de Gaia, opção que defendeu na campanha, o novo líder dos dragões não afastou cenários e informou que passou o dia de segunda-feira em reuniões com os autarcas de Gaia e da Maia bem como com o arquiteto Manuel Salgado, responsável pelo projeto da Maia, para conhecer em detalhe o plano.
“Correram bastante bem as conversas”, segundo Villas-Boas, que encontrou “abertura” nas duas autarquias para a concretização dos projetos, mas sublinhou que “são dois projetos muito diferentes. Um que é e execução mais rápida, mais veloz, eficaz e unitária. Outro é uma obra que bem dignifica o FCP e a sua formação, mas com outro tipo de custos e considerações a ter em conta.”
Quanto a primeiras medidas no mandato de quatro anos que agora começa, André Villas-Boas referiu que quer implementar um sistema que facilite a entrada de novos sócios: “É um momento mágico para o clube em que muitas pessoas se estão a tornar associadas do FC Porto. O processo é lento, em papel e caneta, demora. Fosse o mesmo digital, rápido e eficaz e os números teriam sido muito superiores”, afirmou.
“Será uma responsabilidade do Tiago Madureira e um dos seus principais pontos na ordem de trabalhos é renovar todo o clube na parte digital”, completou.
Compromisso e respeito pelo passado
Numa tribuna VIP com a mesma configuração do dia em que se tornou treinador do FC Porto, em 2010, André Villas-Boas e todos os membros eleitos a 27 de abril, último tomaram posse. Depois do momento protocolar de assinaturas, André Villas-Boas falou aos presentes num discurso breve e assertivo.
No cargo de 23 de abril de 1982 a 7 de maio de 2024, Jorge Nuno Pinto da Costa sai com um palmarés extenso e rico. Segundo o clube, o mais titulado da história do futebol. No total, durante os 42 anos de Pinto da Costa no poder, o clube conquistou 2.591 títulos, 68 dos quais no futebol. Destes, destacam-se duas Taças dos Campeões Europeus/Liga dos Campeões, duas Taças Intercontinentais, duas Taças UEFA/Liga Europa, uma Supertaça Europeia, 23 ligas, 15 Taças de Portugal, 22 Supertaças e uma Taça da Liga.
“Nesta mesma sala do Dragão, aos 32 anos tornei-me treinador do FC Porto. Um ano mágico. E agora tomo posse como 32.º presidente do FC Porto, o que muito me orgulha”, começou por recordar.
Villas-Boas falou do início de uma “nova era” assente em “três pilares”: “um clube dos sócios e para os sócios”, um clube “vencedor” e um clube “transparente e financeiramente sustentável”.
Lembrou também o “amplo apoio” que recebeu nas urnas – foi eleito com 80% dos votos, nas eleições mais participadas da história do clube – e prometeu “empenho, dedicação e amor ao FC Porto.”
O dirigente antecipou ainda que “o caminho será duro” e relembrou que o “FC Porto está numa fase muito sensível da sua sustentabilidade futura”, mas a nova equipa diz-se “pronta” para a tarefa.
No momento mais ovacionado do discurso, dirigiu-se diretamente ao presidente cessante, Jorge Nuno Pinto da Costa, que sai do clube ao cabo de 42 anos de presidência – a carreira mais longa e titulada da história do futebol mundial – com “um sentimento de grande emoção”.
“Não existem palavras para descrever ou até agradecer tudo o que fez pelo FC Porto Jorge Nuno Pinto da Costa. O presidente dos presidentes não é metáfora é memória, é respeito, é gratidão, mas é sobretudo obra, vitória e glória, uma folha de serviço única”, referiu, para prometer adiante: “O seu legado é eterno e será sempre respeitado.”
Além de André Villas-Boas tomaram posse, esta terça-feira, António Tavares, como presidente da Mesa da Assembleia Geral, Angelino Ferreira, como presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar, e Fernando Freire de Sousa que presidirá ao Conselho Superior, órgão do qual fará parte, por inerência, o presidente cessante, Jorge Nuno Pinto da Costa, a convite da atual direção.