A noite de sexta-feira, que ao início se prometia chuvosa, teve o céu limpo para The Script. A banda irlandesa, que juntou fãs ainda antes da abertura de portas, esgotou a bilheteira da penúltima noite de Queima e emocionou o público com um banho de confetis.
Já com uma plateia lotada, os The Script entraram no palco Academia esta sexta-feira à noite ao som de “Superheroes”, acompanhados por um espetáculo de confetis que deixou o público ao rubro. Seguiram-se os temas “The Man Who Can´t Be Moved” e “Rain”. “Não há uma nuvem no céu, mas nós vamos trazer a chuva”, brincou o vocalista.
O tema “Nothing” contou com um momento inesperado. Danny O’Donoghue explicou que costumava ligar à ex-namorada de madrugada ao som da música, e, por isso, fez o mesmo com o telemóvel de um fã da plateia, “Gabi”. O artista ligou ao ex-namorado da fã, tendo-lhe cantado em direto, por chamada, e no final citou as palavras de Taylor Swift “We are never, ever, ever/ Getting back together”.
Durante o concerto, The Script fizeram uma homenagem a Mark Sheehan, guitarrista da banda que faleceu em 2023, ao som de “If You Could See Me Now”. Também tocaram o tema “Before The Worst”, muito importante para a banda irlandesa por ser a primeira música que escreveram como grupo, e que remete para a terra natal, Dublin.
Com o tema “I Wanna Feel Something Real” vieram os agradecimentos do vocalista às 45 mil pessoas que assistiram ao concerto, seguido por “For The First Time” que terminou com o público a cantar a capella, enquanto esperou pela banda que abandonou o palco por breves minutos.
Quase a chegar ao fim, dá-se início a parte final do concerto, que contou com “Breakeven” e “Galaxy of Stars”, dedicada pela banda à cidade do Porto e que fez surgir uma multidão de lanternas. Neste último tema, Danny O’Donoghue discursou para a multidão e lembrou que “todos viemos cá por diferentes razões” mas o mais importante é que “a música está cá para sempre”. Para fechar o concerto, ouviram-se os primeiros acordes de “Hall Of Fame” e o público ficou ao rubro com aquela que foi a música mais esperada da noite.
Hip hop tuga a abrir
O rapper português Nuno Lopes, mais conhecido por Regula, abriu o palco Academia na noite de 10 de maio, com pontualidade britânica. Ao longo do concerto, o nevoeiro que se tinha posto começou a desaparecer e a música do artista atraiu o público, que começou a formar uma multidão.
O rapper, que interpretou temas marcantes da sua discografia como “Mêmo A Veres” e “Casanova”, fez referências constantes às condições meteorológicas da noite que estava “fria e quente ao mesmo tempo”, referindo que foi a “primeira vez” que que tirou um casaco num concerto e voltou a “pô-lo”.
Regula, que ingressou no mundo do hip hop na década de 90, pode ser considerado da velha guarda, mas os jovens também idolatram o trabalho do artista. Para Joel Marinho, jovem trabalhador, Regula é “o melhor rapper em Portugal”. Porquê? Por causa da “lírica”, diz ao JPN, que “não há em mais nenhum”. Joel aponta que o facto de o concerto ser tão cedo dificultou a experiência do público que não estava “tão envolvido”, mas, ainda assim, “foi incrível”. O jovem, que conheceu Regula através do irmão mais velho, aponta que a vinda do rapper à Queima das Fitas do Porto “oferece cultura” ao nível do “hip hop e da música nacional” pela experiência do artista que “não faz isto há dois dias” e isso “enriquece os jovens”.
Para encerrar o Palco Academia na penúltima noite do evento, à uma e meia da manhã o set de DJ de Mariana Bo manteve os resistentes na plateia. Antes do concerto da artista, grande parte do público dispersou até às barraquinhas ou até ao palco secundário. Ainda assim, a DJ mexicana, conhecida pela música eletrónica, energizou os espectadores que ainda queriam ficar mais tempo junto ao palco principal.
Noite esgotada na Queima
Ainda não tinham batido as 20 horas, quando vários fãs dos The Script, cabeças de cartaz de 10 de maio, já faziam fila à porta do Queimódromo. Uma plateia que ao início da noite ainda não estava cheia, já era composta por espectadores como Sílvia Cunha, residente no Porto, que chegou ao recinto às 08h30 da manhã, e guardou lugar para o restante grupo que se foi juntando. A fã explica que a motivação para esperar tantas horas deveu-se ao facto de os The Script serem a sua banda favorita e apontou como mais-valias a “visibilidade” que grupos internacionais como o irlandês trazem à Queima.
A banda já atuou em Portugal, no festival Meo Marés Vivas, em 2023, mas Letícia, aluna de Línguas e Relações Internacionais na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, conta que é a “primeira vez” que teve a oportunidade de assistir a um concerto da banda e, por isso, tinha “expectativas elevadas”. A aluna é uma grande fã do grupo irlandês e aponta que o bilhete tem “um preço demasiado bom para ver uma banda destas”. A estudante elogiou a entrada no recinto que foi “super calma” e, no momento em chegou, com “pouquíssima fila”.
Leonor, de 17 anos, é aluna de secundário e também foi à Queima por ser fã de The Script. Apesar de não ser estudante universitária, a jovem explica que uma vez que se deslocou até ao concerto, depois de a banda irlandesa tocar todos temas pretende “aproveitar” o ambiente de Queima.
Já Mariana, alumni de 31 anos, também motivada por The Script para comprar o bilhete da penúltima noite, chegou quinze minutos após a abertura do recinto e aproveitou para jantar e conhecer a zona de restauração, e ainda conseguiu chegar à frente da plateia. Mariana conta já ter visto a banda ao vivo e, por isso mesmo, tinha também expectativas “muito altas”.
“Da Academia para a Europa”
Mas nem só de música se fez o cartaz da Queima nesta sexta-feira. Meia hora após a abertura das portas do recinto da Queima das Fitas do Porto, a plateia do Palco Cultura encheu-se para assistir ao “Da Academia para a Europa”, um debate sobre as eleições europeias que decorrem daqui a menos de um mês.
Moderado por Francisco Porto Fernandes, presidente da Federação Académica do Porto (FAP), o debate contou com representantes de seis dos 17 partidos candidatos às eleições europeias. Estiveram presentes duas intérpretes de linguagem gestual para que fosse compreendido por todos.
Com o intuito de debater o futuro da União Europeia, assim como o lugar dos jovens na comunidade, os temas abordados passaram pelas políticas do Erasmus+, saúde mental, a causa climática e a “economia do conhecimento”. Esta última temática foi a mais abordada ao longo da sessão.
A saúde mental foi abordada como uma das maiores preocupações dos jovens, na atualidade. Inês Guerreiro, do PCP, criticou as “imposições da União Europeia” que resultam, na visão dos comunistas, em contenção de salários, dificuldades no acesso à habitação e em taxas de juro crescentes que “limitam a possibilidade de os jovens poderem emancipar-se”. Para Inês Guerreiro estas são condições que afetam o estado mental dos jovens e que contribuem para dificuldades de acesso ao ensino superior.
Hugo Alexandre Trindade, representante do PAN no painel, sublinhou a “coragem” de discutir política numa “noite de sexta-feira na Queima das Fitas”. Sobre a crise climática, considerou que se “o clima mudou, os partidos também têm de mudar”, mas também destacou a responsabilidade individual, por exemplo, no que diz respeito à opção por alternativas à dieta tradicional, que considerou ser responsável por gastar muito mais recursos em relação ao vegetarianismo, por exemplo.
José Manuel Pureza, do Bloco de Esquerda (BE), discordou do representante do PAN e afirma que “o primeiro passo não é o bife, é o fóssil” e destacou a importância da implementação de políticas dirigidas à ferrovia.
A representante do Livre, Ana Vale, afirmou que a urgência climática surge com a “urgência de nos tornarmos políticos no nosso dia a dia” e que parte muito do ensino superior a capacitação de empregos do futuro “bem remunerados e acessíveis, não só para pessoas que frequentem o ensino superior” que contribuam em áreas tecnológicas como a Inteligência Artificial e a Robótica. Segundo Ana Vale, a União Europeia deve fazer uma ponte com as universidades para que os “empregos não se percam para a automação”, mas sim melhorem a todos os níveis, face ao “mau cenário que enfrentamos.”
No que diz respeito à economia do conhecimento, Paulo Alcarva, referiu que a Iniciativa Liberal (IL) olha para a “construção europeia” como um processo que já está bastante adiantado, mas apontou que faltam fatores essenciais para a obra no que diz respeito ao conhecimento. O representante da IL elogiou o programa Erasmus+, que “movimenta cerca de 30 mil milhões de euros”, e que é um “pilar fundamental” do ensino superior, mas refere que para a IL falta um quinto pilar “ambicioso” do Ato Único Europeu, que se foque na “circulação de conhecimento”.
Para Lídia Pereira, do Partido Social Democrata (PSD), apesar das dificuldades que o Parlamento Europeu encontra face a partidos menos moderados, discordou do pensamento de Ana Vale e considerou importante estarmos orgulhosos do que foi feito até aos dias de hoje na Europa, em matéria climática, dando nota dos compromissos assumidos e dos que foram cumpridos.
Ainda numa perspetiva de responsabilidade social, Francisco Assis, do Partido Socialista (PS), reconheceu que a questão climática se coloque a “várias gerações”, mas as questões “centrais da liberdade e da igualdade”, “estruturantes” no projeto europeu, precisam de mais atenção e conciliação com as restantes problemáticas.
Durante a sessão, Francisco Porto Fernandes abordou a importância dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) naquela que é a ação da União Europeia, e lembrou que também a FAP os tenta implementar. O debate acabou com questões sucintas dirigidas a todos os presentes no painel sobre aqueles que são os limites e ambições da União Europeia.
Como sobreviver a uma semana de Queima?
Na semana académica, as noites são longas e as horas de descanso escassas. Em dias de agenda completa os estudantes adotam diferentes estratégias para acompanhar todos os eventos.
Para Vítor Pinto é “muito fácil”. O estudante de Contabilidade no ISCAP conta o segredo para sobreviver a todas as noites de Queima: “ir dormir às oito da manhã e acordar por volta das cinco”, fazer uma pausa e, depois, comer.
Com a abertura do recinto marcada para às 20h00, os trabalhadores das barraquinhas veem-se obrigados a adotar uma rotina pouco convencional. Leandro Gonçalves, estudante de Gestão e Negócios, trabalha durante esta semana na barraca “AE ESTG” e chega a casa “sempre às 8 da manhã”. O que faz é ir dormir de imediato. Quanto a alimentar-se, afirma não ser problema: “Fome? Não tenho fome”. Já Carlos Ferreira diz que a solução é beber “água todas as manhãs”. É a hidratar-se que o estudante do 5.º ano de Engenharia Mecânica no Instituto Superior de Engenharia do Porto compensa as “quatro ou cinco horas” de sono diárias.
A Queima das Fitas é frequentada também por trabalhadores. Marta Fontes, licenciada em Contabilidade e Gestão, admite ser “um bocado difícil acompanhar estas noites todas”, até porque como trabalhadora considera as horas de sono essenciais. Nessa lógica, opta por não esperar pelo fim da noite e vai embora “por volta das quatro horas”. É o ambiente diferente que acontece “uma vez por ano” e “encontrar os amigos” num “ambiente académico diferente” que fazem a, agora, trabalhadora continuar a ir a Queima.
A edição de 2024 da Semana Académica do Porto, aguardam-se as atuações Bárbara Bandeira, Ivandro e Hybrid Theory.
Editado por Filipa Silva