Vários investigadores reuniram-se à porta da Biblioteca Almeida Garrett, no Porto, onde foi realizada a conferência "Caminhos do Conhecimento", para entregar um manifesto à atual secretária de Estado da Ciência, Ana Paiva. Pedem o fim da precariedade no setor científico e a integração permanente nas carreiras.
“Felicidade era acabar com a precariedade“. Este é o nome do manifesto entregue esta quinta-feira (16) por vários investigadores científicos à secretária de Estado da Ciência, Ana Paiva. Os investigadores, de várias organizações, reclamam uma integração permanente nas carreiras.
A entrega do manifesto à secretária de Estado da Ciência ocorreu à entrada da conferência “Caminhos do Conhecimento” que decorreu na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto, no âmbito do Dia Nacional do Cientista, este ano dedicado à “indústria e a ciência da felicidade” . À porta da biblioteca estiveram vários cientistas, doutorandos e investigadores das mais diversas áreas científicas, que lutam pelo fim da precariedade na área.
Em declarações ao JPN, Romeu Videira, da direção do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESUP) e porta-voz dos manifestantes, afirmou que “a precariedade é um indicador de discriminação negativa do setor, porque é o único setor onde é permitido haver contratos com mais de quatro anos que não dão acesso à carreira“.
A precariedade no trabalho engloba vários problemas. No setor da investigação e da ciência, segundo Romeu Videira, “ainda temos muita gente que nem sequer uma relação laboral efetiva tem, porque trabalha sob um regime de contratado, ao abrigo do bolseiros de investigação científica, que não é uma relação laboral.”
A falta de uma carreira estável acarreta consigo outro problema. Muitos dos investigadores não conseguem desenvolver o seu trabalho a médio e longo prazo e “acabam sempre por centrar-se naquilo que são os indicadores de curto prazo, porque necessitam de estar a competir novamente no ano seguinte, dois anos depois” por bolsas que suportem a investigação.
Com a entrega do manifesto, os investigadores e professores do ensino superior pretendem ver resolvido um problema que os coloca “há mais de duas décadas na precariedade”, garante Romeu Videira.
Na declaração entregue a Ana Paiva constam sete problemáticas principais, com várias reivindicações associadas. Os investigadores querem “garantia de que o dinheiro hoje alocado ao emprego científico continue a financiar emprego de doutorados” e “ultrapassar o regime contratual inadequado”.
Exigem, ainda, a definição de um “mecanismo permanente e continuado de financiamento para a integração na carreira de investigação científica com necessária dotação orçamental em sede de OE”, e a “valorização funcional e salarial dos trabalhadores que exercem funções de carácter permanente”.
Os investigadores pretendem, também “responder ao envelhecimento acelerado e próximas aposentações de muitos docentes permanentes” e “valorizar a investigação livre em qualquer domínio científico e não exclusivamente dependente de concursos competitivos”.
Ao JPN, a secretária de Estado da Ciência, Ana Paiva, não quis prestar declarações sobre o manifesto antes de o analisar, mas garante que a investigação científica é um setor fundamental para a sociedade e que, por isso, vai merecer a sua “total atenção”.
A conferência “Caminhos do Conhecimento”, realiza-se todos os anos no dia 16 de maio, no âmbito do Dia Nacional do Cientista, em homenagem ao professor José Mariano Gago. A data é a do nascimento do antigo ministro da Ciência e do Ensino Superior, responsável por grandes reformas destes setores no final dos anos 90 e na primeira década dos anos 2000. O cientista morreu de doença súbita em 2015.
Além do SNESUP estiveram representados na manifestação a FENPROF, ABIC, FNSTFPS, STARQ, OTC, Universidade Comum, Precários Inflexíveis, Núcleo de Investigadores da NOVA-FCT, Núcleo Bolseiros Investigadores Gestores de Ciência NOVA FCSH, e Núcleo de Investigadores NinTec.
Editado por Filipa Silva