Pedro Fidalgo Marques é o cabeça de lista do PAN às eleições europeias. Em entrevista ao JPN, falou sobre o Pacto Ecológico Europeu, a criação do Estatuto do Refugiado Climático, as políticas de migração da União Europeia, a guerra na Ucrânia e sobre as recentes manifestações de agricultores e de luta pelo clima.

Pedro Fidalgo Marques, natural de Oeiras, é o cabeça de lista do PAN às eleições europeias. Licenciado em Dança e pós-graduado em Ciência Política, o membro do PAN foi, em 2013, candidato independente à União de Freguesias de Oeiras e São Julião da Barra, Paço de Arcos e Caxias, mas só em 2017 foi eleito para a Assembleia dessa freguesia. Foi também vogal, vice-presidente e tesoureiro da direção nacional da Liga para a Proteção da Natureza, entre 2013 e 2018.

Em entrevista ao JPN, o cabeça de lista do PAN, de 39 anos, garantiu estar comprometido com o partido, descartando a possibilidade de o abandonar, tal como fez, no mandato que agora termina, o anterior representante do PAN no Parlamento Europeu, Francisco Guerreiro. “Se numa situação limite saísse do PAN – não vejo isso a acontecer -, entregaria o mandato ao partido, porque, sendo o eurodeputado eleito com um determinado programa e um determinado partido, faz sentido que seja alguém que represente o partido a assegurar os mandatos“, acrescentou.

Pedro Fidalgo Marques defende que a meta para a neutralidade carbónica da União Europeia (UE) deve ser “antecipada” para 2040, ou seja, dez anos antes do que está previsto. O cabeça de lista diz que é necessário incluir o Direito ao Ambiente na Carta dos Direitos Fundamentais da UE para dar resposta à emergência climática, acrescentando que, no final destes cinco anos de mandato, estaremos naquele ponto em que já não conseguiremos reverter de forma séria as alterações climáticas”.

O partido defende também a criação do Estatuto do Refugiado Climático, que deverá ser aplicado a todas as pessoas que têm de abandonar as suas casas, em resultado das alterações climáticas. Pedro Fidalgo Marques defende ainda uma reestruturação da Política Agrícola Comum para uma “política alimentar comum“, em que se privilegie “a segurança e autonomia alimentar”, e que beneficie também os agricultores.

O cabeça de lista do PAN disse ainda que o partido defende a criação de um comissário do bem-estar animal e a redução do IVA da ração e cuidados médicos veterinários. Sobre a Guerra na Ucrânia, fala sobre a “necessidade de reconstruir” e da “recuperação da biodiversidade” do território ucraniano, bem como da necessidade de se criar “uma contribuição extraordinária sobre os lucros excessivos da indústria da guerra” que seria canalizada para ajuda humanitária.

Nas eleições de 2019, o PAN ficou em sexto lugar, com 5,08% dos votos, e elegeu um deputado para o Parlamento Europeu. “O bom resultado que queremos será eleger no dia 9 de junho“, concluiu.

JPN – É licenciado em dança e está a fazer um doutoramento nessa área. O que é que a dança e a política têm em comum?

Pedro Fidalgo Marques (PFM) – Comecei, desde o tempo da escola básica e secundária, na associação de estudantes nesta parte de cidadania e de participação cívica e sempre foi um fator bastante importante para mim. Em 2013, fundei uma associação local em Oeiras, de onde sou, que tinha como objetivo a promoção da literacia política e cidadã. Por isso, sempre tive esta veia de que se queremos mudar algo, devemos ser ativistas, arregaçar as mangas e meter mãos à obra.

A dança foi uma paixão. Sempre fui grande fã, mas quando estava nos meus 15, 16 anos, de forma um bocadinho mais séria.

Quando terminei o secundário, queria ir para Engenharia Eletrotécnica e Computadores, no Instituto Superior Técnico, mas depois percebi que não seria o caminho e acabei por ir para a licenciatura em dança. Depois, fiz a pós-graduação em Ciência Política, para juntar os dois, e agora estou no doutoramento para poder conjugar e estudar políticas culturais em dança.

Se numa situação limite saísse do PAN – não vejo isso a acontecer -, entregaria o mandato ao partido, porque, sendo o eurodeputado eleito com um determinado programa e um determinado partido, faz sentido que seja alguém que represente o partido a assegurar os mandatos.

JPN – Em 2019, o PAN conseguiu eleger um eurodeputado, que um ano mais tarde abandonou o partido. Quem votar no PAN nestas eleições, pode ter a garantia de que, se for eleito, se vai manter alinhado com o partido durante os cinco anos do mandato?

PFM – Estou fortemente comprometido com as causas do PAN e, como digo, já era ativista antes do PAN. Continuo a ser ativista e irei continuar a ser. Costumo brincar que respiro estas causas que o PAN representa e, por isso, não me vejo a estar desalinhado. Acho que temos que respeitar este compromisso dos eleitores e do programa que elegemos. Por isso mesmo é que digo que, se numa situação limite saísse do PAN – não vejo isso a acontecer -, entregaria o mandato ao partido, porque, sendo o eurodeputado eleito com um determinado programa e um determinado partido, faz sentido que seja alguém que represente o partido a assegurar os mandatos.

JPN – O PAN, no seu manifesto, diz que o Pacto Ecológico Europeu precisa de ser mais ambicioso. Em que medida?

PFM – Normalmente, quando falamos nisto, falamos também na questão da neutralidade carbónica. O pacto prevê que se atinja a neutralidade carbónica na Europa em 2050 e o PAN defende que essa meta deve ser antecipada para 2040. Ou seja, [defende] que temos de garantir, até na estratégia que já existe, a redução de 55% de emissões até 2030 para depois avançarmos para a neutralidade carbónica, no limite, até 2040, mas quanto mais cedo, melhor. Nessa ótica, temos de ser muito mais ambiciosos. Mesmo na transição energética, no investimento nas energias 100% renováveis, na questão do restauro da natureza, temos que implementar todas essas medidas.

JPN – No vosso programa, dizem também querer inserir o Direito ao Ambiente na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Em que é que isto seria vantajoso?

PFM – Para salvaguardar os vários valores naturais que temos na Europa. Sem ambiente e natureza, não temos vida humana, não temos animais. O PAN tem esta visão, desta política integrada, que equilibra os nossos três pilares, porque os três são interdependentes. A garantia deste ambiente é a garantia de que temos um futuro. Temos a emergência climática. No final destes cinco anos de mandato, que vai iniciar agora em julho, estaremos no ponto de não retorno, que, no fundo, é aquele ponto em que já não conseguiremos reverter ou mitigar de forma séria as alterações climáticas e, por isso, este é o momento em que temos que atuar.

Até para dar um exemplo: neste momento, 80% das populações europeias das zonas costeiras, estão muito mais sujeitas a fenómenos extremos como furacões, inundações, ventos extremos, marés extremas, do que estavam anteriormente. É isto que temos que fazer. Uma biodiversidade mais forte vai também salvaguardar e proteger as pessoas. Isso deve ser algo que podemos garantir: o direito ao clima estável.

No final destes cinco anos de mandato, que vai iniciar agora em julho, estaremos no ponto de não retorno.

JPN – Mencionam também a criação do Estatuto do Refugiado Climático. O que é o refugiado climático? No seio da política de migrações atual, isto seria viável? 

PFM – Alguns dos motivos para as pessoas fugirem do seu país e pedirem asilo acabam por ser as guerras, questões ligadas aos direitos humanos, por exemplo, da comunidade LGBTQIA+, situações contra mulheres e crianças, que são sempre as mais vulneráveis. Mas há também este fator das alterações climáticas, de zonas do mundo que estão a ser afetadas por fenómenos extremos, que estão a ficar desertificadas, sem água, que têm inundações, e as pessoas acabam por ter que fugir das suas casas por estas alterações climáticas.

O PAN defende que, mesmo quando falamos de migrações e refugiados, devemos também encarar a mitigação de alterações climáticas como algo que pode ajudar a prevenir estes movimentos. Quando há essa necessidade, essas pessoas devem ter este estatuto de refugiado climático, porque, no fundo, elas perdem a sua casa por uma questão que é superior a elas, por fatores climáticos.

PAN defende a criação do Estatuto do Refugiado Climático e a inclusão do Direito ao Ambiente na Carta dos Direitos Fundamentais da UE. Foto: D.R.

JPN – Ao nível económico, fala-se muitas vezes que a União Europeia e os países que dela fazem parte andam a várias velocidades. Ao nível ambiental, isto também acontece?

PFM – Ao nível ambiental, tem havido um travão, porque, nos últimos anos, no Parlamento Europeu e na Comissão Europeia, os partidos de centro-direita e de direita, a começar pelo PPE (Partido Popular Europeu), os conservadores, os liberais, têm sempre tentando travar os vários progressos que tínhamos na área ambiental e isso vai repercutir-se em todos os países.

Há países que podem isentar o investimento que fazem em termos ambientais da sua dívida. Outros países, como Portugal, que não podem investir no combate às alterações climáticas, mesmo sabendo que isso iria fazer crescer a economia, que iria proteger as pessoas, a natureza e os animais, mas que, pelas regras da União Europeia, não podem usar esse recurso, porque está a contabilizar para a dívida. Os governos vão fazer escolhas, que nós podemos questionar se são as corretas, mas que acabam sempre por deixar o ambiente em segundo plano. Nesta ótica de países que podem investir na transição verde e até recorrer a créditos, sem contar esse valor para a sua dívida, temos, a Irlanda, a Dinamarca e a Suécia.

JPN –  Temos assistido a bastantes manifestações de agricultores. No programa, têm uma medida que se refere à redução do investimento no setor pecuário e a aposta na produção de carne em laboratório. Há muitas pessoas, não só em Portugal, mas em toda a Europa, que vivem deste setor. Que medidas têm para os agricultores para, por um lado, continuar a ajudar o ambiente e, por outro, ajudar as famílias que vivem da pecuária?

PFM – O PAN defende que devemos rever estruturalmente a Política Agrícola Comum, transformando-a numa política alimentar comum, em que vamos privilegiar a segurança e a autonomia alimentar, uma alimentação saudável e que, inclusive, vai ajudar a proteger os agricultores. Porque, neste momento, o que existe na Política Agrícola Comum é que os apoios são dados conforme a área de exploração, ou seja, quanto maiores os agricultores, maiores são os apoios. Isso vai prejudicar os pequenos e médios agricultores. 

Há, inclusive, medidas que vão ser estabelecidas, como, por exemplo, se aprovarmos o acordo do Mercosul, que vão desproteger os agricultores. Vai fazer com que agricultores fora da União Europeia não necessitem de cumprir com as regras ambientais e fazer com que estes países acabem por ter, se calhar, até custos de produção mais baixos do que os nossos agricultores. Isto não faz sentido.

Um exemplo que tenho dado: todos nos lembramos que os brinquedos, quando vinham de outros países, tinham que ter o selo da Comunidade Europeia para garantir que tinham segurança para estas crianças. Na importação, é igual. Ou seja, qualquer produto que seja importado deve cumprir as mesmas regras ambientais que são aplicadas na Europa. Isto vai garantir uma igualdade de tratamento para os agricultores para não serem discriminados. Por outro lado, vai garantir a nossa segurança alimentar, garantir a qualquer pessoa que consome estes produtos que eles não vão ter químicos, que sabemos que são nocivos e que são proibidos na Europa, mas que são usados fora.

Nesta questão do investimento, o que o PAN também defende é que se deve privilegiar os apoios à agricultura de boas práticas, agricultura orgânica, de precisão, uma agricultura que preserve os ecossistemas, ao invés de agricultura de grande área. Ou seja, dirigir os apoios de forma mais justa, garantindo que são apoiados os pequenos e médios agricultores.

Na pecuária, o PAN defende que deve haver apoios para a reconversão do setor para nenhuma pessoa ficar para trás e haver esta reconversão gradual. Quando falamos de investir na proteína vegetal, mesmo sem entrar na carne de laboratório, ou seja, das leguminosas, podemos falar das ervilhas, do grão, do feijão. Portugal tem solos extremamente fortes para isso. Existem apenas 2% de apoios para esta área e, inclusive, os estudos económicos dizem que será uma área muito mais rentável, por exemplo, do que a pecuária. A questão é que, como os apoios são todos direcionados para aí, se retirarmos esses apoios, os agricultores provavelmente vão perceber que deixa de ser rentável sem apoios.

Qualquer produto que seja importado deve cumprir as mesmas regras ambientais que são aplicadas na Europa. Isto vai garantir uma igualdade de tratamento para os agricultores para não serem discriminados.

JPN – Falemos, por exemplo, de uma Dona Maria que viveu a vida toda a produzir um determinado tipo de animal ou a vendê-lo. Não acha que é normal que, se ela vir os apoios a acabarem ou a diminuírem, fique descontente?

PFM – A pergunta é: será que a Dona Maria tem acesso a esses apoios como uma pequena produtora? Provavelmente não terá, desde logo pela burocracia que é necessária para ter os apoios, que limita o acesso aos pequenos e médios agricultores, porque ou a pessoa tem já uma grande capacidade de formação e apoios, ou gasta muito dinheiro em consultoria externa, ou não vai conseguir ter acesso a esses apoios. Por isso, é que se diz que 80% dos apoios da Política Agrícola Comum são apenas para 20% dos produtores agrícolas, precisamente porque estão concentrados nos maiores produtores.

Por isso, é que quando falamos com a Dona Maria, como dizia, temos que dizer que esta alteração que o PAN propõe é precisamente para, primeiro, garantir que estamos a apoiar as boas práticas. Por isso, estes pequenos agricultores como a Dona Maria, também serão apoiados e terão acesso a estes fundos. E [garantir] que existirá esta reconversão. Como é óbvio, isto não passará por uma obrigação e dizer “a partir de amanhã já não há”. O que vamos dizer é: vamos fazer esta transição, vão haver estes apoios para esta reconversão até para negócios e para áreas de agricultura que possam se mais rentáveis para a Dona Maria. 

JPN – No âmbito do bem-estar animal, quais são, na ótica do PAN, as medidas que são mais urgentes de se ver resolvidas? 

PFM – Vou dizer quatro, uma é chapéu. O chapéu é o comissário do bem-estar animal, porque é o que vai permitir dar uma importância a este tema. Os animais de companhia existem em mais de metade das habitações, em Portugal. Temos, também, por exemplo, a questão dos animais de produção da pecuária, em que estamos a falar de dez milhões de animais que são produzidos e mortos todos os anos. Além disso, temos ainda que considerar a nossa biodiversidade, as nossas espécies em Portugal: o lobo ibérico, o lince ibérico, a águia imperial, várias espécies. Por isso, este comissário do bem-estar animal vai ser fundamental para garantirmos que as medidas sejam aplicadas e tenham atenção.

Na área animal, o que destacamos é podermos rever a diretiva do IVA para deixarmos de considerar a ração e os cuidados médicos veterinários dos animais como um bem de luxo, de forma a que se possa baixar para o IVA mínimo e aliviar as famílias. Todos concordamos que a alimentação dos nossos animais, ao mesmo tempo que temos de os levar ao veterinário, não é um bem de luxo, é uma necessidade das famílias.

Temos, também, a questão de acabar com o transporte dos animais vivos. Principalmente em países terceiros, os animais são transportados em condições totalmente indignas e de salubridade. Isto, muitas vezes, além do bem-estar animal, põe em causa a segurança das pessoas, porque os animais chegam doentes. São animais que vão ser consumidos e, por isso, isto não faz sentido até para a própria alimentação humana e segurança alimentar. Pretendemos terminar com esse transporte de animais vivos.

A última que destacamos é terminar todos os apoios públicos, em dinheiro, para as touradas para podermos também eliminar as touradas na Europa. Porque, como dizemos, tortura não é cultura, e por isso, não faz sentido continuarmos com estas atividades bárbaras no século XXI.

O que destacamos é podermos rever a diretiva do IVA para deixarmos de considerar a ração e os cuidados médicos veterinários dos animais como um bem de luxo, de forma a que se possa baixar para o IVA mínimo e aliviar as famílias

JPN – No manifesto, dizem também que querem acabar com a investigação em animais vivos. Mas há investigações onde é necessário ter um organismo vivo para se conseguir chegar a alguma conclusão válida. Na sua opinião, é possível e viável garantir investigações sem animais vivos?

PFM – Tem havido várias investigações que dizem que já não é necessário haver investigação em animais vivos. Até, se me permite, hoje, onde existe o maior uso de testes em animais vivos é, por exemplo, nos produtos domésticos de limpeza. Até os de cosmética têm vindo a ser reduzidos, felizmente.

Faz sentido estar a testar os detergentes nos animais para terem reações adversas? É disso que estamos a falar. Mais até do que a medicina, sendo que também já há alternativas estudadas, é falarmos destes animais, que estão sujeitos a detergentes e lixívias, quando podem haver outras soluções muito melhores e sem sofrimento animal.

Em 2019, o PAN elegeu um deputado. Foto: Fábio Pinto/PAN

JPN – Relativamente às migrações, qual é a vossa avaliação global, por exemplo, do atual Pacto de Migrações da União Europeia?

PFM – Temos várias reservas em relação ao pacote de migrações, principalmente nas questões humanitárias. Ou seja, quando dizemos que pode haver detenção de crianças separadas da família à entrada na Europa, quando dizemos que os barcos que são intercetados no Mediterrâneo são denunciados às autoridades senão podem fugir. Aquelas mulheres e crianças, que são sempre o elo mais fraco, estão a fugir de situações muitas vezes de vida ou de morte e são denunciadas na mesma às autoridades. É este tipo de situações que não podem acontecer.

Apesar deste clima de medo e de ódio que se tem tentado incutir, a verdade é que a Europa não está com as portas escancaradas. Temos regras bem definidas para entrar na Europa, até quando se tenta associar criminalidade à imigração, isso é um erro. Fomos ver os dados de criminalidade e isso não se comprova. É, por isso, que temos que ter uma política de integração, como temos [em Portugal], por exemplo no Fundão, que tem 64 nacionalidades a conviver e contribuíram positivamente para o rejuvenescer da região e salvar a própria região, isto dito pelos próprios moradores. Isso é que tem que ser o caminho das migrações e não, por exemplo, dar um valor a um refugiado para, se não o quisermos receber, podermos enviá-lo para outro país, que no fundo é estar a dar um valor para a vida humana. Isso não é aceitável.

JPN – Na parte económica, também no manifesto, dizem que querem estabelecer um salário mínimo na União Europeia. Recentemente foi lançada uma diretiva de salário mínimo. A vossa proposta de salário mínimo coincide com isto ou é diferente?

PFM – A nossa proposta é apresentada no âmbito europeu, na ótica de que há países que ainda não estão a implementar a sua diretiva e que ainda não há o mínimo de garantia. O que a diretiva diz é que o salário mínimo deve garantir, pelo menos, o limiar da pobreza e isso ainda não é garantido em todos os estados-membros. A partir daí, e sempre aliado ao crescimento económico, podemos caminhar para uma maior harmonização e um crescimento dos salários mínimos na Europa.

JPN- Esta medida seria para equilibrar a balança em todos os países?

PFM – Exatamente. Ou seja, garantir que todos tenham, pelo menos, o mínimo do limiar de pobreza e depois ir equilibrando essa balança. Sabemos que é um processo de médio e longo prazo, mas a Europa tem que ser pensada a longo prazo e não apenas em medidas eleitoralistas para os próximos um ou dois anos.

Isso é que tem que ser o caminho das migrações e não, por exemplo, dar um valor a um refugiado para, se não o quisermos receber, podermos enviá-lo para outro país, que no fundo é estar a dar um valor para a vida humana. Isso não é aceitável.

JPN- No vosso manifesto, fazem também referência à guerra na Ucrânia e dizem que o apoio dado deve ser um apoio coeso. Quando dizem isso, estão a referir-se a gastar mais dinheiro da Europa em defesa ou acham que há outras formas que devem ser privilegiadas?

PFM – O PAN defende que se deve continuar a dar apoio militar à Ucrânia. Estamos a falar do direito à defesa e autodeterminação dos povos, de crianças, mulheres, homens, que continuam a morrer numa guerra feita por uma invasão de um ditador autocrático, que se não o travarmos vai querer continuar pela Europa fora. Mas tem que ser mais do que isso.

Tem de ser garantido um apoio humanitário, tem que ser garantido até o apoio à reconstrução. O próprio Presidente Zelensky já referiu que necessita da construção de instalações com saneamento básico, algo que damos por garantido e que lá há a necessidade de reconstruir. Os próprios solos estão contaminados e é necessário, por exemplo, trabalhar nesta recuperação da biodiversidade da natureza. Isto é algo que não é o PAN que diz, o próprio Presidente Zelensky já pediu essa ajuda, que é importante.

Nessa linha, quando se fala de aumentar o investimento na defesa e aumentar a indústria do armamento, o PAN tem proposto a criação de uma contribuição extraordinária sobre os lucros excessivos da indústria da guerra, que seja também canalizado para a ajuda humanitária e para este apoio à revitalização e proteção da biodiversidade, que também vai permitir que não se caia na tentação de se ganhar ou de enriquecer à custa do sofrimento e da miséria de outras pessoas. 

JPN – Na área da cultura, dizem que querem criar um rendimento básico incondicional para artistas. O que é que isto significa ? É só para artistas?

PFM – O rendimento básico incondicional, no fundo, é um valor mínimo de subsistência, que garanta que a pessoa consiga viver ao invés de sobreviver. Há sempre aquele medo de que as pessoas não iriam procurar trabalho, mas isso não é verdade. Falamos nos artistas, porque este é um dos setores que mais foi afetado pela pandemia, é um dos setores mais instáveis, e isto seria até para garantir a liberdade artística, garantirmos que os artistas não estão presos a esses financiamentos que limitam a criatividade e a liberdade artística.

Eventualmente, mais à frente, poder-se-ia continuar os projetos-piloto para perceber a aplicabilidade noutra área ou na sociedade em geral. 

JPN – No vosso manifesto, dizem que querem o reforço do Plano Europeu de Juventude através do combate às alterações climáticas. Em que é que este reforço se relaciona com o ambiente?

PFM – Os jovens, no fundo, acabam por ser o nosso futuro. Sei que é aquele cliché, mas é a verdade. Tem que se trabalhar estas componentes desde cedo e a educação ambiental é um deles. 

Mas, quando falamos de juventude, e na Europa, temos de democratizar o acesso, por exemplo, aos programas Erasmus, porque, muitas vezes, as bolsas não são suficientes e nem todos os alunos têm esse acesso e ele deveria ser para todos, independentemente do poder económico.

Falamos, por exemplo, de uma rede europeia de residências para jovens e estudantes para que possam, realmente, ter essa facilidade de, quando se deslocam, não estarem sujeitos a vir de algumas cidades para outras, onde o preço do alojamento é incomportável. Isto acontece em Portugal e acontece na Europa. Mas temos de se fazer um intercâmbio na área do ambiente, porque existem várias áreas que podem reforçar esta componente. 

Cabeça de lista do PAN à esquerda da porta-voz do partido, Inês Sousa Real. Foto: Fábio Pinto/PAN

JPN – Atualmente, temos assistido a muitas manifestações pelo clima e a muitos protestos climáticos. Por exemplo, o momento em que atiraram tinta verde a Luís Montenegro. Como é que o PAN olha para estes protestos?

PFM – O PAN tem sido claro que não apoia protestos que ponham em causa pessoas ou património. Sempre que temos ataques a pessoas ou a património, isso é uma linha vermelha que não deve ser ultrapassada.

No entanto, temos que reconhecer que existe um fenómeno que já se está a estudar, que é a ansiedade. Estes jovens temem pelo seu futuro e por não terem um planeta onde viver, no futuro. Por isso, tudo o que são protestos pacíficos, em defesa de um clima estável, em defesa do ambiente, o PAN irá sempre apoiar. 

JPN –  O que seria um bom resultado? O que se espera do futuro Parlamento? Que antecipação se consegue fazer, tendo em conta que o partido Verdes está a crescer, mas a extrema-direita também?

PFM – O PAN tem se apresentado como um partido credível, uma alternativa responsável, numa política integrada que equilibra estes três pilares como uma força de centro progressista. Por isso, queremos confiar que os portugueses que, em 2019, votaram no PAN, continuem a confiar e que a eles se juntem até os jovens que entretanto começaram a votar e que se reveem nas causas do PAN.

O PAN é o único partido que irá defender a proteção e bem-estar animal no Parlamento Europeu. Mesmo em termos ambientalistas, é o único partido que conjuga os dois e irá ser o único verdadeiro partido ambientalista no Parlamento Europeu, sem nunca esquecer o pilar das pessoas. Por isso, queremos acreditar e pedir que as pessoas confiem no PAN.

O bom resultado que queremos será eleger no dia 9 de junho. Iremos trabalhar para isso, sempre nesta ótica de que, mesmo quando estamos descontentes, podemos votar em alternativas sérias, responsáveis, construtivas e positivas, porque a consequência de a extrema-direita crescer, seria perdermos progressos, por exemplo, em direitos das mulheres. Já tive num debate recentemente, com o líder do partido populista e antidemocrático a dizer que as mulheres não têm direito ao seu próprio corpo ou a pôr em causa as comunidades LGBTQIA+, a dizer que há imigrantes bons e maus, e isso não pode acontecer.

Editado por Inês Pinto Pereira