Arranca esta quinta-feira no Parque da Cidade do Porto mais uma edição do Primavera Sound Porto. Há 48 concertos em cartaz e sempre muita coisa nova para descobrir. A equipa do JPN destaca alguns dos que vai querer acompanhar nos próximos três dias.
Ana Lua Caiano
Quando? 6 de junho, às 16h45
Onde? Palco Super Bock
Ana Lua Caiano é uma jovem compositora portuguesa que junta sonoridades da música tradicional à música eletrónica. Aos 24 anos, já conta com dois EP – “Cheguei Tarde a Ontem”, lançado em 2022, e “Se Dançar É Só Depois”, editado no ano seguinte, cada um com seis músicas. Em março deste ano, lançou o álbum de estreia, intitulado de “Vou ficar neste Quadrado”, que conta com 12 músicas.
Com a teoria musical na bagagem e a diversidade no pensamento, a lisboeta Ana Lua Caiano junta a ruralidade com a contemporaneidade, homenageando as origens portuguesas ao mesmo tempo que as eleva em modernidade fazendo uso da tecnologia. Zeca Afonso, Sérgio Godinho e Fausto estão entre as suas influências.
Músicas como “Não deixem o morto morrer”, “Mão na Mão”, “Se dançar é só depois” ou “O bicho anda por aí” são alguns dos maiores êxitos, que todos os amantes de uma boa dose de tradição e irreverência esperam ouvir no seu concerto no Primavera Sound Porto. Por Bruna Pinheiro
Royel Otis
Quando? 6 de junho, às 17h40
Onde? Palco Vodafone
Tornaram-se virais com o engenhoso cover de “Murder on The Dancefloor”, na altura em que estreou o filme “Saltburn”, que trouxe novamente a música de Sophie Ellis-Bextor às estações de rádio. A partir dessa altura, foram aliando outras interpretações de músicas conhecidas com alguns dos seus temas mais antigos e, claro, novos trabalhos.
A dupla australiana de indie pop, que não dispensa um rock amador quando necessário, está no ativo desde 2019. Para além de três EP, já têm também um álbum de estúdio publicado – “Pratts & Pain”.
As faixas mais conhecidas do seu repertório são “Oysters In My Pocket”, “Sofa King” e “Kool Aid”, para além das aclamadas interpretações de “Linger” dos The Cranberries e “Murder On The Dancefloor”, já mencionada. A despreocupação, à vontade e espírito indie do grupo certamente casará bem com o público e o sol que se espera sentir junto ao palco Vodafone. Por João Jesus
PJ Harvey
Quando? Dia 6 de junho, às 20h50
Onde? Palco Porto
Nascida a 9 de outubro de 1969, PJ Harvey é uma cantora, compositora e multi-instrumentista inglesa com mais de três décadas de carreira. A cantora destacou-se desde o seu primeiro álbum em 1992, “Dry”, pelo seu estilo musical inovador que combina elementos do rock, punk, blues e folk.
Harvey foi a única artista a vencer o Mercury Prize duas vezes, com os álbuns “Stories from the City, Stories from the Sea” (2000) e “Let England Shake” (2011). O seu trabalho também foi reconhecido com oito nomeações para os Brit Awards e seis indicações ao Grammy.
De acordo com o site oficial do Primavera Sound, “PJ Harvey é tão incrível que até mesmo a usar uma frase já maximalista como ‘a artista feminina mais importante do rock nos últimos 30 anos’ é uma subavaliação”. Por Luizi Duarte
Mitski
Quando? 6 de junho, às 22h05
Onde? Palco Vodafone
Mitsuki Laycock, conhecida como Mitski, é uma cantora norte-americana que nasceu no Japão, em 1990. Filha de pai americano e mãe japonesa, a artista inscreveu-se na “Hunter College” para estudar cinema, tendo depois decidido enveredar pela carreira musical. Lançou o primeiro álbum “Lush” em 2012, tendo já lançado mais seis discos. “The Land Is Inhospitable and So Are We” é o seu mais recente projeto, lançado em 2023.
Mitski conta com uma nomeação ao Óscar de Melhor Canção Original por ter co-escrito a música “This Is a Life”, tema do filme “Everything Everywhere All at Once”, de 2022.
A canção “My Love Mine All Mine” é, provavelmente, o tema mais conhecido de Mitski. A rápida ascensão da música nos charts globais, em parte, deu-se graças à rede social TikTok. Não foi o primeiro sucesso da cantora nesta plataforma, já que a sua canção “Nobody”, de 2018, também se tornou popular no TikTok dois anos após ter sido lançada.
No Palco Vodafone e no primeiro dia do festival, 6 de junho, o concerto de Mitski promete envolver o público numa energia musical característica das suas músicas e dos seus sons. Nesta que não é a primeira vez da artista em Portugal, “Heaven”, “Happy” e “I Love Me After You” são temas que devem marcar o alinhamento do concerto. Por Tiago Lima
Obongjayar
Quando? 6 de junho, às 23h40
Onde? Palco Super Bock
Obongjayar é um artista nigeriano estabelecido em Londres, que combina vários estilos, com especial foco no afrobeat, soul e eletrónica. Em 2016, o EP “Home” marcou a sua estreia no mundo da música, seguido de EP como “Bassey”e “Sweetness” nos anos seguintes.
A música de Obongjayar é marcada pelo uso da palavra como forma de denunciar problemas da atualidade, assim como pela versatilidade da voz do artista, que transmite energia e emoção a quem o ouve.
Portugal já pôde experienciar a criatividade e versatilidade do artista no Super Bock em Stock, em 2022.
O primeiro álbum de Obongjayar, “Some Nights I Dream of Doors”, foi lançado em 2022, e tem como tema principal “Message in a Hammer”.
O artista já fez colaborações com outros músicos como Little Simz, Richard Russel e, mais recentemente, com Fred Again em “adore u”, lançado no ano passado.
No dia 6 de junho, vão-se fazer ouvir os ritmos africanos de Obongjayar no Palco Super Bock para todos os que queiram fugir à confusão do festival e entrar numa onda energética de introspeção. Por Margarida Meneses
SZA
Quando? 6 de junho, às 23h40
Onde? Palco Porto
Solána Imani Rowe, mais conhecida pelo nome artístico SZA, é uma cantora e compositora norte-americana com um estilo musical assente no R&B alternativo e no Neo Soul. Nos primeiros anos de carreira, iniciada em 2011, SZA lançou várias mixtapes e foi co-escritora de algumas músicas de artistas renomados, como a “Feeling Myself” com a Nicki Minaj e Beyoncé, tendo se destacado também na música “Consideration”, da Rihanna.
Mas foi em 2017 que SZA ganhou maior visibilidade artística, com o lançamento do seu primeiro álbum “Ctrl”. Este disco valeu-lhe uma grande aclamação dos críticos por músicas como “The Weekend” ou “Love Galore”, que conta com a participação do rapper Travis Scott.
O segundo álbum de SZA, “SOS”, lançado em 2022, alcançou o número um na Billboard 200, quebrando o recorde de maior semana de streaming de todos os tempos para um álbum de R&B, tornando-se o álbum feminino número um mais longo da década e o primeiro álbum de R&B a passar as suas primeiras sete semanas no topo, desde Whitney Houston.
Se com o álbum “Ctrl”, SZA já tinha alcançado algum reconhecimento artístico, com singles como “Kill Bill” ou “Nobody Gets Me”, essa visibilidade aumentou ainda mais a nível mundial.
No primeiro dia do Primavera Sound Porto (6), SZA sobe ao Palco Porto para encantar os fãs de um estilo musical R&B alternativo, com elementos de soul e hip-hop. Por Bruna Pinheiro
Ana Frango Elétrico
Quando? 6 de junho, às 00h55
Onde? Palco Vodafone
Ana Frango Elétrico, pseudónimo adotado por Ana Faria Fainguelernt, é uma artista completa, nascida a 19 de dezembro de 1997, oriunda do efervescente cenário cultural do Rio de Janeiro. Com uma carreira marcada por três lançamentos, estabeleceu-se como uma das vozes mais distintas e promissoras da música contemporânea brasileira.
O álbum de estreia, “Mormaço Queima” (2018), rendeu-lhe o título de Revelação do Ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Em seguida, lançou “Little Electric Chicken Heart” (2019), uma obra que abraçou vários estilos, desde o indie rock à bossa-nova, e a levou a concorrer ao Grammy Latino. Agora, com seu terceiro álbum, “Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua” (2023), o concerto de Ana Frango Elétrico promete dar aso à formação de pistas de dança dos anos 80 e baladas carregadas de um lirismo noir. Por Luizi Duarte
The Last Dinner Party
Quando? 7 de junho, 20h50
Onde? Palco Porto
The Last Dinner Party ganharam reconhecimento graças à energia dos concertos ao vivo no ano passado. O quinteto britânico, composto por Abigail Morris, Lizzie Mayland, Emily Roberts, Georgia Davies e Aurora Nishevci, surgiu em 2020 e formou-se durante o período de confinamento do COVID-19.
Ainda antes de lançarem o primeiro single “Nothing Matters”, em abril de 2023, o grupo assinou contrato com a Island Records. Em junho e outubro do mesmo ano surgiram o segundo e o terceiro single da banda, “Sinner” e “My Lady of Mercy”, respetivamente.
Em 2024, foram galardoados com o prémio BRITs Rising Star nos Brit Awards.
O grupo identifica-se com uma fusão de estilos entre o indie rock e o pop barroco e contaram à “The Rolling Stone” que a combinação do grotesco e do bonito faz parte da “ética” do grupo.
O álbum de estreia da banda, “Prelude to Ecstasy”, a ser apresentado no Primavera Sound Porto, foi lançado em fevereiro deste ano e conta com uma identidade distinta para a qual contribuíram todos os membros do quinteto. A junção dos aclamados outfits que contribuem para a performance visual e das faixas intensas de The Last Dinner Party constroem o tom arrojado e feminino do grupo e podem-se ver e ouvir no Palco Porto, no dia 7 de junho, horas antes de atuar a cabeça de cartaz Lana del Rey. Por Margarida Meneses
Lana Del Rey
Quando? 7 de junho, às 23h15
Onde? Palco Porto
Já foi Lizzy Grant, May Jailer e Sparkle Jump Rope Queen… Lana Del Rey, nome pelo qual Elizabeth Grant é conhecida, atua pela primeira vez no Porto esta sexta-feira e é, sem dúvida, o grande destaque desta edição do Primavera Sound.
Uma contratação difícil, a mais difícil por sinal, mas acertada e até justa depois de a pandemia ter obrigado ao cancelamento da edição de 2020, de cujo cartaz Lana Del Rey fazia parte.
Nessa altura, chegaria no rescaldo de um dos seus melhores álbuns de estúdio, “Norman Fucking Rockwell”. Agora, vem um ano depois do lançamento de “Did You Know That There’s a Tunnel Under Ocean Blvd”, e com um décimo álbum a caminho – “Lasso”, que será lançado em setembro de 2024 e que a cantora afirma que será um projeto country.
Lana e as suas músicas, marcadas pela melancolia, foram responsáveis por esgotar o segundo dia deste festival muito antes de ele acontecer. Tendo em conta a setlist dos últimos concertos da cantora, nomeadamente o alinhamento do seu concerto no Primavera Sound Barcelona, os fãs podem esperar ouvir temas como “West Coast”, “Doin’ Time” e “Ride”. Não devem também faltar clássicos como “Born to Die”, “Video Games” e “Young and Beautiful”.
Não sabemos o suficiente para prever que marcas vai este século deixar no futuro, mas, quase um quarto volvido, parece-nos seguro afirmar que este tempo ficará irremediavelmente marcado por vozes femininas. Vozes poderosas, insinuantes, envolventes, vozes que mais do que encher um palco criam paisagens para as quais não podemos deixar de olhar. A de Lana é assim. Tem a beleza do que é triste, a profundidade do que é genuíno e a luz do que é fecundo, porque provoca algo de novo em nós. Uma voz melodiosa onde as letras perdem arestas e fluem na cadência perfeita para seduzir o ouvido. Venha de lá o concerto. Afinal, o “Summertime Sadness” também pode acontecer na primavera. Por Tiago Lima e Filipa Silva
Ethel Cain
Quando? Dia 8 de junho, às 20h50
Onde? Palco Porto
A artista norte-americana já não é nova em Portugal, uma vez que pisou o palco do Kalorama na última edição. Desta vez, é altura de visitar o norte do país e dar música no palco principal do Primavera Sound Porto.
Responsável por um dos trabalhos mais “fora da caixa” e marcantes de 2022, Ethel Cain é um alter-ego da artista Hayden Silas Horner. No ano passado, publicou o seu terceiro álbum, o mais desafiante e detalhado da sua discografia – “Preacher’s Daughter”. É neste disco que o ouvinte mergulha ainda mais fundo na história da sua personagem: Ethel Cain é uma jovem rapariga do sul norte-americano, filha de um pastor e que se sente aprisionada num meio fanaticamente religioso e que a obriga a ser “certinha”, quando tudo o que quer é ser uma verdadeira adolescente americana. A história segue um rumo inesperado e que é desenvolvido em todas as músicas da compilação, para além de outros temas como o fanatismo, o abuso sexual, a violência e a liberdade.
É uma artista multifacetada e também das mais esperadas desta edição. Temas como “American Teenager”, “Sun Bleached Flies” e “A House in Nebraska” não devem faltar no seu espetáculo. Por João Jesus
Conjunto Corona
Quando? 8 de junho, às 23h15
Onde? Palco Super Bock,
Conjunto Corona ou The National? Os concertos começam à mesma hora, mas, aparentemente, não andará pelo Parque da Cidade uma alma que se sinta dividida sobre a escolha a fazer. Convenhamos que num diagrama de venn, os fãs das duas bandas não ficam em zona sobreposta. Mas a verdade é que vacilaria.
Houve um tempo, que bem recordo, em que inventava caminhadas porque o “Boxer” pedia estrada. É até possível que tenha fantasiado um dia com uma cerimónia de casamento só para criar uma situação em que a “England” do “High Violet” fosse ouvida em comunhão. Felizmente, nunca aconteceu. Bom, mas depois veio tudo o resto – mais cinco álbuns de longa duração – e tudo o resto não sendo o mesmo parece mais aborrecido. E duas horas de concerto – será o mais longo do festival – podem não ser fáceis de acompanhar.
Recordo que no Primavera de 2014 deixei contrariada o concerto dos The National – e, pasmem-se, logo quando estava a dar a “England” – para ir ver Charles Bradley e, no final, esteve ali uma das atuações mais marcantes desse festival.
Pensando nisso, e não só, tenho para mim que vai valer a pena ir, à hora dos The National, ir ao palco Super Bock onde os inimitáveis Conjunto Corona prometem “jardar forte & feio e meter o parque da cidade a gritar GON DO MAR”. Eu, que sou do concelho, acho que valerá a pena lá ir, porque os Corona estão nos antípodas dos que se levam demasiado a sério e não têm paciência para grandes introspeções. Qualquer jornalista gosta de uma boa crónica, e é assim que vejo o duo formado por Edgar Correia (Logos) e o já mais famoso David Bruno: cronistas mordazes de um mundo suburbano onde há gunas, hipsters e gente atraída pelo oculto assim fixada, para a eternidade, em letras originais e boa música. Por Filipa Silva
Editado por Filipa Silva