O primeiro dia do Primavera Sound Porto foi marcado por uma programação diversificada que incluiu performances de artistas como SZA, Mitski e PJ Harvey. O festival atraiu um público vasto e engajado, que participou ativamente nos concertos e manteve a energia elevada ao longo de todo o dia.

A artista mais esperada do dia de abertura do Primavera Sound Porto, que abriu as portas ao público esta quinta-feira (6), foi a última a subir ao palco principal: SZA apareceu pelas 23h40. Muito antes, já o público chamava por ela, ansioso para se perder nos sons do R&B alternativo e neo soul que definem o seu estilo.
Com dançarinos no palco, e um cenário onde se viram ondas do mar, jardins e fogo – viu quem esteve, porque à comunicação social não foi autorizada a captura de imagens do espetáculo -, SZA ofereceu, a partir do Palco Porto, um grande espetáculo visual e sonoro. Joana, que estava com um grupo de amigas, partilhou com o JPN o seu entusiasmo com a atuação: “A SZA tem uma voz incrível e é uma grande presença no palco”.

A meio do concerto, a atmosfera ficou ainda mais intensa quando a balada “Nobody Gets Me” serviu de mote a vários casais, entre o público, a dedicarem o tema uns aos outros. Mais para o fim, a artista animou as hostes com “Rich Baby Daddy”. Uma hora e 20 de espetáculo que culminou com “Good Days”, antes de oferecer “20 Something” no encore. A fã Francisca afirmou que foi tudo incrível, só gostaria de estar mais a perto do palco: “Adorei, quero outro, via tudo outra vez, foi muito bom!”

Antes de SZA, Mitski trouxe energia ao Palco Vodafone. A cantora, conhecida pela sua expressividade teatral, fez parte da sua performance em cima de uma cadeira, acentuando o tom dramático da apresentação. O público que cantou junto os grandes sucessos “My Love Mine All Mine” e “Nobody”, deixou-se levar pela setlist escolhida, e foi envolvido pela presença de palco, que contava com momentos mais suaves, e outros um pouco mais animados.

“Um show super imersivo, super apaixonante, estava a abraçar-me a mim próprio, a sentir a música”, comentou o fã Nuno ao JPN. Mitski, a dado momento, cantou mesmo deitada no palco, reforçando o caráter intimista do concerto mesmo perante uma multidão. No final, a cantora agradeceu a todos, incluindo aos que ficaram ao fundo na plateia. Roberto que estava afastado do palco não podia estar mais satisfeito: “Eu realmente não tenho palavras. Estamos aqui no fundo e conseguimos escutá-la muito bem, vê-la nos telões. A performance que ela está a fazer é mesmo fora do comum”. 

Numa noite dominada por mulheres e atuações fortes, foi com o sol a pôr-se que PJ Harvey, uma das figuras mais icónicas do rock, subiu ao Palco Porto. Com mais de três décadas de carreira, a artista entregou um espetáculo que misturou clássicos e novas canções. Harvey fez a plateia dançar e cantar em uníssono, e recebeu aplausos e ovações a cada música.

O show foi uma mistura de música, teatro e um excelente jogo de câmaras nos ecrãs que intensificava a experiência visual. Teresa, que veio de Espanha para ver especificamente a cantora inglesa, referiu ao JPN que assistiu a  um concerto “hipnótico, um ritual, super teatral”. Mesmo com alguns erros técnicos com a guitarra, a artista não perdeu o ritmo, manteve a energia e a conexão com o público. Uma pessoa da plateia, que não quis se identificar, teve uma opinião diferente da maioria: “acho que não está coeso o espetáculo, o disco anterior que ela trouxe ao Primavera era muito coeso, mas eu adoro-a”, afirmou.

Sonoridades lusas a abrir

A maratona musical começou no Parque da Cidade do Porto com a apresentação de Ana Lua Caiano no Palco Super Bock, às 16h45. Apesar do horário, o concerto contou com muito público. Com uma performance que combinou sonoridades tradicionais portuguesas com música eletrónica, a cantora que é conhecida por usar instrumentos não convencionais, encantou o público com sua criatividade.

Num momento de conversa com a plateia, a artista explicou que, com o auxílio de uma mesa de mistura, estava a construir os sons das músicas mesmo na hora. Sobre isso, Ana Paula, uma fã da jovem cantora, comentou: “ela é uma artista que nos prende bué pelos sons, pelas batidas e é uma das características que eu mais gosto nela. Vê-la a criar a música ao vivo foi uma experiência interessante”.

Ana Lua Caiano aproveitou para convidar os espectadores a participarem de uma “experiência”: pediu então para que batessem os pés e fizessem barulho num determinado ritmo, gravou os sons, e incorporou-os na sua canção em tempo real, criando um momento de interação intenso com o público. Já para o fim do concerto, a última música escolhida foi “Mão na Mão, Mão no Pé”, que fez a plateia dançar e aplaudir com entusiasmo.

Sem tanta comoção por parte do público, o Palco Super Bock recebeu, por volta das 18h30, a banda Blonde Redhead. A banda norte-americana, formada por Kazu Makino e os irmãos gémeos Amedeo e Simone Pace, apesar de ter atraído tanto fãs antigos quanto novos, entregou um concerto que, mesmo agradando a quem assistiu, foi morno e teve pouca interação com o público. Marina, por exemplo, gostou “de assistir ao concerto”, mas do que estava à espera era mesmo de “Mitiski”.

 

O encerramento da noite ficou por conta de Ana Frango Elétrico no Palco Vodafone. “Gostei muito. É sempre fixe ver música brasileira nos festivais como Primavera, e ela é uma artista super genuína e acho que as pessoas gostam muito disso”, disse Sara Nogueira ao JPN no fim do concerto. Concerto que começou com a artista carioca a entrar de forma misteriosa, com um boné na cabeça a cobrir o rosto para logo conquistar o público, apesar de confessar que havia chorado muito naquele dia.

Lidando com problemas técnicos de forma bem-humorada, Ana Frango Elétrico construiu gradualmente a animação da plateia. Mesmo anunciando a última música três vezes, continuou a fazer todos dançar e cantar em conjunto. No final, a artista brasileira desceu até à grade para ouvir os fãs, tirando fotos e dando autógrafos, fechando a noite de forma íntima e memorável para seguidores como Iara Ferreira: “Gostei muito, já tinha ido num show dela em Lisboa e, esse daqui, gostei muito… Eu chorei muito, eu amo”, sublinhou ao JPN.

Para além dos concertos

O Primavera Sound não se resume aos concertos. No recinto, algures entre o palco Plenitude e o palco principal, há uma zona de stands onde se encontram coisas tão diversas quanto uma réplica de uma banca histórica do Mercado do Bolhão. “O objetivo é dar a conhecer ainda mais a marca do Mercado do Bolhão, principalmente, depois das obras, e fazer com que as pessoas voltem a comprar aos locais”, explicou ao JPN uma funcionária do stand. No local, a empresa municipal GO Porto organizou uma roda da sorte com prémios como vouchers de desconto em restaurantes do Bolhão a produtos frescos do mercado, incentivando os visitantes a frequentarem e comprarem no local.

O festival também conta com a participação de empresas e instituições que buscam aproximar-se do público jovem e diversificado do evento. A agência de viagens Abreu, que já esteve no festival no último ano, voltou este ano para sortear experiências e viagens. De acordo com Pedro Quintela, diretor-geral de vendas e marketing da agência, estar no evento é interessante: “Toda gente adora viajar e aqui temos nossos cliente e potenciais clientes”. O público que vem de fora – e que representará mais de metade do total – também é interessante para a empresa: “há aqui muitos estrangeiros, o cartaz deste ano traz outro tipo de público”, afirmou ao JPN.

Já a Quinta do Fojo, na sua estreia no festival, promove o golfe, procurando quebrar estereótipos e convidando todos os visitantes a experimentarem a modalidade. “As pessoas quase que têm medo de entrar num clube de golfe, porque acham que não é para eles e a ideia é massificar o golfe”, diz um representante da empresa ao JPN. 

O Primavera Sound prolonga-se até sábado no Parque da Cidade do Porto. Esta sexta-feira, Lana Del Rey é o grande destaque do cartaz, mas há também Justice e The Last Dinner Party para assistir, entre muitos outros artistas.

Editado por Filipa Silva