O Mercado do Bolhão volta a organizar uma oficina gratuita para construir a cascata tradicional de São João. A atividade é promovida pela Brâmica e acontece a 7 e 8 de junho. A cascata já conta com mais de duas mil figuras.

As oficinas são gratuitas e de acesso livre. Foto: João Jesus/JPN

Assim que junho começa, a cidade do Porto entra em contagem decrescente para a festa mais aguardada de Invicta: a festa de São João. Para além das decorações de rua, os manjericos e a música popular que se vai fazendo ouvir, é hora de preparar as cascatas de São João, outro dos elementos mais reconhecidos da festa popular. O Mercado do Bolhão volta a acolher uma oficina completamente gratuita e aberta ao público que permite construir uma cascata comunitária. A atividade decorre esta sexta-feira e sábado, dias 7 e 8 de junho.

Esta é uma tradição que acontece todos os anos. A oficina é promovida pela Brâmica, um ateliê de cerâmica da cidade, da ceramista Teresa Branco. Hás duas sessões por dia: das 10h00 às 13h00 e das 15h00 às 17h00, com a presença de vários ceramistas que explicam a história por detrás da tradição e auxiliam no moldar das peças. Não é necessária inscrição prévia e os materiais necessários são “criatividade e curiosidade”.

“É mesmo muito bonito ter estes projetos comunitários em que as pessoas podem participar e ver o seu trabalho, feito com amor, exposto”, conta Luísa Barbosa, de 25 anos, que liderou a sessão inicial. A jovem ceramista faz parte da Brâmica e participa pelo segundo ano consecutivo na experiência, que vê como um “privilégio”. Na cascata, são adicionadas novas figuras às construções de anos anteriores: “Já temos mais de 2 mil figuras e esperamos atingir as 3 mil este ano. A tradição mantém-se e está sempre a crescer, tal como a cidade. É muito bonito de ver”.

Luísa “nasceu no meio do barro” e a cerâmica faz parte do seu dia a dia. Em parceria com Teresa Branco, escolheram dar a conhecer as tradições às pessoas que vão passeando pelo Mercado do Bolhão: “Temos todo o tipo de visitantes. No Bolhão, recebemos principalmente famílias que são estrangeiras, na sua maioria. São pessoas de todas as idades e que ficam muito curiosas”, explica.

Na mesma mesa, Eden Vaknin e Ella S., de Israel, construíam pequenas casas para acrescentar à cascata. Já vivem na cidade há um ano, mas ainda não conhecem com detalhe as tradições de São João. “Este tipo de atividades são muito importantes porque juntam toda a gente à mesa, a fazer arte sem qualquer tipo de preconceito e enquanto se partilham as histórias. É muito bonito construir uma festa em conjunto”, explicou Ella S., de 38 anos. Para as jovens, as cascatas são “uma história de amor ao Porto”, enaltecendo a sua beleza, cultura e traços arquitetónicos. “É uma maneira mais criativa e relaxada para conhecer as tradições. Aliás, acho que é importante para quem visita, mas também para quem é da cidade”, remata.

Teresa Moreira tem 63 anos e é nascida e criada no Porto, na freguesia do Bonfim. “Para um portuense como eu, as cascatas são muito especiais. São a nossa alma, a alma do Porto e é algo até difícil de explicar em palavras”, descreveu ao JPN. As cascatas são “indispensáveis” nas celebrações e acredita que as oficinas abertas são uma boa maneira de participar nas celebrações: “É uma atividade ótima porque dinamiza as festividades através de uma iniciativa cultural gratuita. Acho que as pessoas devem participar porque, tal como eu, só me dá felicidade e conhecimento”, acrescenta.

Humedecendo o barro e moldando-o gentilmente, Teresa cria a sua peça para colocar na cascata. “Decidi fazer um chafariz porque há imensos no Porto. Aqui, no Bonfim, há o Parque das Águas, que é um museu ao ar livre com vários chafarizes, fontes e arcas de água. Decidi representar esse aspeto, que me diz tanto”, conta. A cascata é decorada pelos traços identitários do Porto como as casas que decoram a Ribeira, as pontes, a Torre dos Clérigos e o próprio Mercado do Bolhão.

A construção da cascata teve, este ano, uma espécie de warm-up. Foi a 1 de junho, no âmbito das celebrações do dia da Criança. O resultado foi animador: “Ultrapassamos as peças que esperávamos fazer. O foco atual é criar figuras diferenciadas e queremos muito representar o rio Douro”, explicou Helena Ribeiro, ceramista que acompanhava a construção de Teresa Moreira. Depois da moldagem, o trabalho recai sobre os ceramistas que têm a função de aperfeiçoar, pintar e cozer as peças criadas na oficina: “É um grande trabalho de equipa e que será exposto de 12 a 30 de junho, no Mercado do Bolhão”.

Por enquanto, a cascata comunitária de São João continua a crescer. É possível participar na oficina durante esta sexta-feira (07) e sábado (08), sem necessidade de inscrição prévia. A noite de São João acontece a 23 de junho com a festa espalhada pela cidade e com nomes como Ana Moura, Augusto Canário & Amigos e a Orquestra Bamba Social Roda de Samba.

Editado por Filipa Silva