Num dia marcado pelo cancelamento do concerto de Justice, Lana Del Rey conseguiu afastar a chuva e fez do Palco Porto um santuário melancólico e paradisíaco.

As previsões antecipavam uma noite de chuva e mau tempo no segundo dia de Primavera Sound (7), mas foram a voz e as músicas de Lana Del Rey que marcaram por completo o clima para as dezenas de milhares de pessoas que esgotaram este dia de festival.

Com concerto marcado para as 23h15, Elizabeth Grant, ou Lana Del Rey, subiu ao palco, com cerca de dez minutos de atraso, para cantar o primeiro tema da noite, “Without You”. A artista tem um repertório musical e uma voz que, por si só, já enchem o palco. Ainda assim, a cantora apostou num cenário elaborado e numa equipa que transformaram ainda mais a experiência do concerto.

Com um set cinematográfico e teatral, aliado também à natureza, Lana transportou o público para o universo da sua obra musical. O cenário incluía até varandas, de onde a artista cantou, por exemplo, “On the balcony and I’m singin”, verso da letra da música “West Coast”. Para além do cenário, o concerto contou com uma forte presença da equipa de Lana Del Rey, desde os dançarinos até às background singers, com quem a deu os holofotes do palco no tema “The Grants”.

Durante quase uma hora e meia, a cantora norte-americana, com um alinhamento praticamente idêntico ao do seu espetáculo no Primavera Sound Barcelona, cantou alguns dos seus maiores êxitos e revisitou quase todos os seus álbuns. Acompanhada de milhares de vozes, Lana cantou temas como “Summertime Sadness”, “Doin’ Time” e “Norman Fucking Rockwell”.

A artista está sempre associada a uma imagem e a uma estética angelicais, que a fazem até parecer uma autêntica boneca de porcelana. Um momento marcante do concerto, que contribuiu para esta aura de Lana Del Rey, foi o momento em que a norte-americana surgiu em palco sob a forma de um holograma, para cantar a música Hope is a dangerous thing for a woman like me to have – but I have it. Lana já tinha utilizado a mesma tecnologia na sua atuação no festival Coachella, em abril deste ano.

Autógrafos e selfies com a primeira fila

O regresso de Lana Del Rey aos palcos portugueses e a sua estreia na cidade do Porto fizeram esgotar o segundo dia de Primavera Sound, esta sexta-feira, e levaram milhares de pessoas a esperarem horas pelo concerto da cabeça de cartaz.

Inês Fonseca, de 21 anos, esperava para ver a artista desde as 6 horas da manhã. A jovem, natural do Porto, contou ao JPN que chegou tão cedo ao recinto para “ver a Lana na primeira fila” e que era “um sonho” poder assistir ao espetáculo. 

Foi enquanto cantava “Born To Die”, sensivelmente a meio do espetáculo, que Lana Del Rey desceu do palco para estar perto dos fãs que estavam na primeira fila. Cumprimentou, abraçou, tirou selfies e BeReal´s e até recebeu algumas prendas. Quando a cantora voltou a subir ao palco, usava uns óculos de sol com lentes em forma de coração que um fã lhe tinha dado. O momento em que Lana Del Rey se aproximou da frontline foi marcante e  era esperado pelo público.

Já depois do concerto terminar, Constança e Ema, de 15 e 16 anos respetivamente, ainda se encontravam nas grades em frente do palco, visivelmente emocionadas. Naturais de Lisboa, as jovens estiveram na fila da frente durante o concerto e Ema revelou que o espetáculo foi “maravilhoso, muito bom” e que a artista “foi incrível, interagiu com o público e supera sempre” as expectativas. Ema já tinha visto Lana Del Rey no Primavera Sound na cidade de Barcelona. Constança resumiu o dia com: “eu amo-a”

Constança e Ema, vieram da capital para assistir ao concerto de Lana Del Rey. Foto: Margarida Meneses/JPN

Maria Andrade, natural do Porto, também assistiu ao concerto, mas a uma maior distância do palco. A jovem afirmou que o espetáculo de Lana Del Rey “foi lindo” e que “não estava à espera de menos”. “É impossível ouvir músicas como estas ao vivo e não ser incrível”, completou.

Lana terminou o seu espetáculo “Young and Beautiful”. Dizendo-se profundamente “agradecida” pela emocionada receção de que foi alvo, a artista adaptou um dos últimos versos da música – Will you still love me when I’m no longer beautiful? -, para dizer à maré de gente que tinha à sua frente: “Will you still love me when I’m no longer in Portugal?”. A resposta parece óbvia. A saída do palco, já em clima de cabaré, fez-se a dançar ao som de um instrumental, juntamente com os restantes elementos da sua equipa.

Justice cancelados e Palco Vodafone suspenso

Se Lana Del Rey foi, definitivamente, a memória mais marcante a guardar deste dia, um outro aspeto marcou o dia, mas pela negativa. Ao final da tarde, num post entretanto apagado, a organização comunicou através da sua página de Instagram que, “por motivos de segurança” relativamente a estruturas do Palco Vodafone, um dos quatro do recinto, poderiam haver alterações nos horários dos concertos.

Mais tarde, a organização confirmou que o Palco Vodafone, onde deviam ter decorrido quatro concertos, incluindo dos segundos cabeças de cartaz do dia, Justice, estaria suspenso.

Os MUTU passariam a atuar no palco Super Bock às 00h55, The Legendary Tigerman passaria a tocar no sábado, último dia de festival, e Classe Crua e Justice já não iriam atuar. Esta notícia surpreendeu muitas pessoas, tendo sido apontadas críticas à forma como a organização lidou com a situação. Entretanto, foi confirmado que The Legendary Tigerman vai subir ao Palco Porto às 20h50 de sábado (8), aproveitando o intervalo deixado em aberto por outro cancelamento – este por motivos de saúde – de Ethel Cain.

Palco Vodafone encerrado no segundo dia do festival Primavera Sound. Foto: Margarida Meneses/JPN

Julien Demaison, de 46 anos, veio de França acompanhado pela esposa para poder assistir aos concertos de Classe Crua e Justice: “Viemos de França para os ver, por isso estamos um pouco chateados com a situação e estamos à espera para ver o que a organização vai fazer”.

Perto de Julien encontrava-se Patrícia Silva, natural de Vila Nova de Gaia, que afirmou que a organização, inicialmente, “não avisou, disse que podia haver alterações, mas não disse que concertos podiam ser cancelados”. Julien, Patrícia e dezenas de pessoas encontravam-se em frente ao Palco Vodafone à espera de informações por parte da organização, pois à hora dos primeiros dois concertos, MUTU e Classe Crua, ainda não existia um comunicado oficial acerca do cancelamento dos concertos do Palco Vodafone.

Em declarações à Blitz, Catarina Soares, responsável pela comunicação do Primavera Sound, revelou que não será possível haver reembolsos relativamente ao cancelamento dos concertos. A responsável afirmou que as condições gerais de acesso ao festival são claras em relação a esta questão. As condições estipulam que o evento só se considera cancelado se for suspensa mais de metade das atuações programadas”.

Na publicação na página de Instagram do Primavera Sound relativa ao Palco Vodafone são muitas as pessoas que defendem que deviam ser reembolsadas, tendo em conta os concertos cancelados. No recinto do festival várias pessoas partilhavam dessa opinião. Caso de Cecília Alves que, com 29 anos, foi de Mirandela ao Porto para ver a dupla francesa Justice: “muita gente veio por Justice, há uma faixa etária que veio só por eles”.

 

Presença feminina domina, mais uma vez, o Palco Porto

O segundo dia de Primavera Sound ficou também marcado pelas artistas que subiram ao Palco Porto, para além de Lana Del Rey. Milhanas deu o primeiro concerto do dia, neste palco. Apesar da chuva e da trovoada, que marcaram o início da tarde, a cantora portuguesa conseguiu conquistar os fãs com a sua presença no palco. Maria Trindade, de 20 anos, afirmou que se deslocou até ao festival com o intuito de, além de Lana Del Rey, ver Milhanas. A jovem confessou que adorou o concerto da artista portuguesa e que “foi pena ter começado a chover”, afirmando que, ainda assim, a meteorologia não a demoveu.

Crumb e The Last Dinner Party foram as outras duas presenças no Palco Porto. Ambas as bandas estrearam-se nos palcos nacionais. Crumb, uma banda norte-americana de Boston, subiu ao palco com uma energia mais sóbria, característica das suas músicas. The Last Dinner Party, um quinteto feminino, foi uma autêntica tempestade em palco. De copos na mão e a falar um pouco de português, as britânicas animaram os milhares de pessoas com a sua energia e as suas músicas. Cantaram temas como “Nothing Matters” e “Sinner”.

 

A tarde e noite que prometiam mau tempo não impediram os fãs dos artistas do segundo dia de aparecer no Parque da Cidade do Porto. As capas de chuva e o espírito otimista devolveram energia ao festival em dia de bilheteira esgotada.

 

Este sábado marca o encerramento desta edição do Primavera Sound de 2024. As pessoas podem contar com nomes como The National, Pulp e ainda The Legendary Tigerman, que devia ter atuado no segundo dia do festival.

Editado por Filipa Silva