Agate de Sousa brilhou no último dia dos Campeonatos Europeus conquistando o terceiro lugar no salto em comprimento. Foi a terceira medalha conquistada por Portugal nesta edição dos campeonatos que terminaram na quarta-feira. Numa mini-entrevista ao JPN, Luís Lopes analisa o desempenho dos atletas portugueses.
Agate de Sousa no pódio dos campeonatos de Roma após ter ganho o bronze Foto: FPA/Sportmedia
O dia final dos Campeonatos Europeus de Atletismo (12) terminou com a conquista de mais uma medalha para Portugal. Agate de Sousa conquistou o bronze na prova de salto em comprimento, com 6,91 metros. Na primeira grande prova internacional por Portugal, a atleta de origem são tomense conseguiu também em Roma o apuramento para os Jogos Olímpicos de Paris, aumentando as expectativas olímpicas para Portugal.
Portugal terminou assim a sua participação nos Europeus de Atletismo na 21.ª posição com oito lugares de finalista, cinco recordes nacionais e três medalhas. À medalha de Agate de Sousa juntam-se a prata conquistada por Pedro Pichardo com 18,04 metros e o bronze no lançamento do disco de Liliana Cá (64,53 metros).
O especialista Luís Lopes, comentador na RTP, que esteve a acompanhar as provas na estação pública – coisa que faz, aliás, desde os anos 80 -, considera, ao JPN, que esta foi uma “prestação francamente positiva” da comitiva portuguesa. Destaca Agate de Sousa como a grande revelação e como uma “atleta de largo futuro” e enaltece também a prestação de Liliana Cá que, aos 37 anos, continua “extremamente competitiva”. De um modo geral, avalia que o campeonato foi positivo, para Portugal, também porque se quebraram vários recordes nacionais.
Relativamente a Pedro Pablo Pichardo, afirma que a medalha de prata conquistada por ele com um salto de mais de 18 metros é “extraordinário”. Questionado sobre a publicação feita pelo atleta nas redes sociais diz que foi um caso de “reação um bocado a quente”.
JPN – Quem é que considera que tenha sido a maior revelação da comitiva portuguesa e também a maior desilusão?
Luís Lopes (LL) – A revelação, não tenho dúvida, que foi uma atleta chamada Agate de Sousa, que é são-tomense de nascimento, mas que é portuguesa desde 16 de maio. Já se sabia ser boa atleta, mas confirmou este nível de competição e ser de facto muito fiável. Ela consegue a medalha de bronze, esteve muito tempo na medalha de prata no salto em comprimento e é uma atleta de largo futuro. Ainda é muito nova e, portanto, confirma-se, de facto, que é uma mais-valia para o atletismo português. A desilusão… Eu não gosto muito do termo. O Samuel Barata passou a ser o sexto melhor semi-maratonista europeu, desde o final do ano passado quando fez 59 minutos e 40 segundos na meia maratona. [Em Roma] ele acabou por desistir, numa prova em que seria um candidato para um lugar cimeiro e, portanto, não conseguiu estar a um nível próximo daquilo que valia. Nesse aspeto, foi uma desilusão.
JPN – Como avalia a prestação portuguesa, globalmente, neste campeonato europeu em Roma?
LL – Foi uma boa prestação da parte de Portugal. Portugal não é um país de topo. Vive muito de atletas que vêm de fora, portanto, desde estrangeiros naturalizados, e alguns deles não estiveram presentes, e também com o reservatório de atletas que vieram das antigas colónias portuguesas. Mas tendo em conta as realidades, tendo em conta que somos um país com 10 milhões de habitantes, uma base de recrutamento relativamente curta, acho que a prestação foi boa. Três medalhas foi um bom resultado. Mesmo a medalha do [Pedro Pablo] Pichardo, que é um atleta cubano de origem, fazer mais de 18 metros é um resultado extraordinário. Não ganhou, mas é um resultado extraordinário. E também a Liliana Cá, com o terceiro lugar no lançamento do disco é uma atleta que continua a mostrar-se nesta parte da carreira já adiantada como extremamente competitiva. E depois foi a medalha da Agate de Sousa, que é a revelação portuguesa. Houve uma ou outra prestação abaixo daquilo que se esperava, mas acho que o resultado global é francamente positivo, até porque se quebraram bastantes recordes nacionais e alguns com grande novidade, como nos 4×400 metros masculinos.
JPN – Já agora, e ainda sobre a comitiva portuguesa, ontem foi notícia uma publicação de Pedro Pichardo nas redes sociais. O atleta questionou o porquê de a régua eletrónica não ter funcionado no momento em que o saltador espanhol efetuou o salto que lhe valeu o ouro. Como olha para esta queixa do atleta? Acha que lhe assiste alguma razão ou não?
LL – Não posso ter a certeza em relação à questão da régua eletrónica ou não. Durante a transmissão que fiz em direto para a RTP, vi de facto que o salto do espanhol foi muitíssimo bom. Não houve repetição na parte em que ele pisa a zona da tábua para ver se, de facto, o salto é válido ou não. Penso, no entanto, que se tivesse havido aqui dúvidas reais da federação portuguesa, deveriam ter agido em conformidade. Aquilo é uma reação um bocado a quente face a um atleta que também era cubano e que agora representa a Espanha e, portanto, é uma situação um bocado de conflito entre origens e depois destinos diferentes. Penso que a situação, de facto, foi, não digo hiperbolada, foi agarrada pela comunicação para fazer um bocadinho de polémica à volta dos saltos, o que é normal hoje em dia. Não creio que tenha havido manipulação, apesar de no passado já ter havido manipulação nos Campeonatos do Mundo disputados em Roma em 1987. Mas não creio que tenha sido o caso aqui.
JPN – De uma perspetiva mais geral, qual é que considera que foi o momento mais marcante das provas?
JPN – Há aqui realmente alguns resultados sensacionais. É difícil escolher de tantas provas e que, por vezes, são diferentes, mas foi mesmo o triplo salto do Jordan Díaz, o espanhol a fazer 18,18 metros que é a terceira melhor marca de todos os tempos. É realmente uma marca fantástica e um atleta que parece destinado ao recorde do mundo. Também queria realçar um atleta belga chamado Alexander Doom que faz 44 segundos e 15 centésimos nos 400 metros planos. Isso parece um atleta destinado a tornar-se o primeiro europeu a entrar na casa dos 43 segundos.
JPN – A título de curiosidade, para fechar. A RTP terminou a transmissão antes de se conseguir visualizar se Armand Duplantis conseguiria bater o recorde do mundo no salto com vara. Por que razão isso aconteceu?
LL – Isso aconteceu porque a prova já estava decidida e há constrangimentos de programação que, por vezes, são muito importantes. Não tornando isto nacionalmente bacoco, mas não havendo um atleta português envolvido e estando a prova decidida acabou se por reduzir, porque havia uma programação que se iria efetivar logo a seguir. Portanto não houve, digamos, negação do resultado da prova. Apenas se atingiu aqui um recorde e acabou por não ficar incluída no resto da programação, até porque o recorde do mundo não caiu por parte do Armand Duplantis. Este [o recordo dos Campeonato Europeus, com 6,10 metros] foi um de muitos que ele já conseguiu.
Editado por Filipa Silva