Papa Francisco participou no G7 pela primeira vez. Pacote de apoio à Ucrânia será financiado pelos ativos russos congelados, após Moscovo ameaçar o Ocidente com medidas “extremamente dolorosas”.
A estreia do Papa Francisco na Cimeira do G7 aconteceu esta sexta-feira (14), naquele que foi o segundo dia do evento político. O Papa encerrou o penúltimo dia com um discurso centrado nos perigos e nas promessas da Inteligência Artificial.
O Papa dirigiu-se diretamente aos líderes mundiais, desafiando-os a pôr a dignidade humana em primeiro lugar, perante o desenvolvimento e a evolução da Inteligência Artificial. “Perante as maravilhas das máquinas, que parecem saber escolher de forma autónoma, devemos ter bem claro que a tomada de decisões, mesmo quando somos confrontados com os seus aspetos por vezes dramáticos e urgentes, deve ser sempre deixada à pessoa humana”, afirmou.
O pontífice também apontou que os políticos deviam garantir que a Inteligência Artificial permanece centrada no ser humano, para que as decisões sobre quando usar armas, ou até ferramentas menos letais, se mantenham sempre tomadas por um ser humano, e não pelas máquinas. No mesmo tópico, adicionou uma crítica às armas autónomas letais, apelando à proibição da sua utilização: “Permitam-me que insista que, à luz da tragédia que são os conflitos armados, é urgente reconsiderar o desenvolvimento e a utilização de dispositivos como as chamadas ‘armas letais autónomas’ e, em última análise, proibir a sua utilização.”
To speak of technology is to speak of what it means to be human and thus of our unique status as beings who possess both freedom and responsibility. This involves a discussion of ethics. #IA #G7 https://t.co/S3HwiGorfj
— Pope Francis (@Pontifex) June 14, 2024
Ao usar a sua autoridade moral, o Papa ofereceu uma visão ética sobre um tema que está cada vez mais presente nas cimeiras internacionais, nas políticas governamentais e nos conselhos de administração das empresas. A presença do Papa Francisco na Cimeira do G7 deste ano foi assegurada pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, anfitriã da cimeira.
A declaração final dos líderes do G7, que refletiu as preocupações do Papa, destacou a coordenação da governação e os quadros regulamentares em torno da IA – com a promessa de a manter “centrada no ser humano”: “Procuraremos uma transformação digital inclusiva, centrada no ser humano, que apoie o crescimento económico e o desenvolvimento sustentável, maximize os benefícios e faça a gestão dos riscos, em linha com os nossos valores democráticos partilhados e o respeito pelos direitos humanos”.
Ucrânia assegurou ajuda monetária significativa na Cimeira
Os 7 líderes das maiores economias mundiais anunciaram, na quinta-feira (13), uma nova proposta de ajuda monetária à Ucrânia. A intenção dos líderes do G7, que se considera ainda um “esboço”, afirma a Reuters, é angariar nos mercados internacionais 50 mil milhões de euros (cerca de 46,3 mil milhões de euros) para serem cedidos a título de empréstimo à Ucrânia até ao final deste ano.
Segundo o plano da proposta – e essa é a sua grande inovação – os lucros gerados pelos ativos russos congelados nos países do G7 servirão quer para abater a dívida quer para cobrir os juros resultantes destes empréstimos. Com isso, dizem os países do G7, procura-se compensar as centenas de milhões de euros de prejuízo causado pela Rússia à Ucrânia. Mas os próprios também admitem que será preciso “obter aprovação nestas jurisdições [onde os ativos estão retidos] para usar futuros fluxos destas receitas extraordinárias para cobrir o serviço e amortização dos empréstimos”.
A BBC avança que a maior parte destes ativos, que somam um valor total de 325 mil milhões de dólares, estão bloqueados na União Europeia. E refere também que este conjunto de ativos russos está a gerar qualquer coisa como 3 mil milhões de euros ao ano em juros. A Rússia, claro, não gostou.
G7 Summit. Clear support for Ukraine, international law, and a just peace.
Every day we strengthen our positions and our defense of life.
Every meeting serves the purpose of giving Ukraine new opportunities for victory. I am grateful to all of our partners.
— Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) June 13, 2024
Horas antes dos líderes mundiais anunciarem a proposta de ajuda ucraniana, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharvova, prometeu que haveria medidas “extremamente dolorosas” de retaliação contra a União Europeia. O aviso veio do possível uso de rendimentos dos bens congelados de Moscovo, que se veio a confirmar na Cimeira. A Rússia considera o ato “criminoso”, segundo a Reuters.
Numa conferência de imprensa conjunta dada após a reunião, Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos, declarou que o uso dos ativos congelados de Moscovo foi outro “lembrete” a Vladimir Putin, Presidente da Rússia, que “não irão desistir” no Ocidente de apoiar a Ucrânia. O chefe de Estado norte-americano também assinou um acordo de segurança bilateral de 10 anos com o Presidente ucraniano que Zelensky considerou “histórico”.
Today is a truly historic day. We signed the strongest agreement between Ukraine and the United States since our independence. pic.twitter.com/z0JM9qEzrh
— Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) June 13, 2024
Além dos EUA, também o Japão celebrou um acordo de defesa com os ucranianos por um prazo de dez anos.
A Cimeira, que está a ter lugar em Borgo Egnazia, Apúlia (Itália), começou na quinta-feira (13) e termina este sábado (15). A edição deste ano reúne os líderes dos Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Canadá e Japão. Também contou com a presença de outras dez nações, incluindo o primeiro-ministro da Índia e os presidentes da Turquia e do Quénia, convidados pela primeira-ministra italiana.
Editado por Filipa Silva