Papa Francisco participou no G7 pela primeira vez. Pacote de apoio à Ucrânia será financiado pelos ativos russos congelados, após Moscovo ameaçar o Ocidente com medidas “extremamente dolorosas”.

A estreia do Papa Francisco na Cimeira do G7 aconteceu esta sexta-feira (14), naquele que foi o segundo dia do evento político. O Papa encerrou o penúltimo dia com um discurso centrado nos perigos e nas promessas da Inteligência Artificial.

O Papa dirigiu-se diretamente aos líderes mundiais, desafiando-os a pôr a dignidade humana em primeiro lugar, perante o desenvolvimento e a evolução da Inteligência Artificial. “Perante as maravilhas das máquinas, que parecem saber escolher de forma autónoma, devemos ter bem claro que a tomada de decisões, mesmo quando somos confrontados com os seus aspetos por vezes dramáticos e urgentes, deve ser sempre deixada à pessoa humana”, afirmou.

O pontífice também apontou que os políticos deviam garantir que a Inteligência Artificial permanece centrada no ser humano, para que as decisões sobre quando usar armas, ou até ferramentas menos letais, se mantenham sempre tomadas por um ser humano, e não pelas máquinas. No mesmo tópico, adicionou uma crítica às armas autónomas letais, apelando à proibição da sua utilização: “Permitam-me que insista que, à luz da tragédia que são os conflitos armados, é urgente reconsiderar o desenvolvimento e a utilização de dispositivos como as chamadas ‘armas letais autónomas’ e, em última análise, proibir a sua utilização.”

Ao usar a sua autoridade moral, o Papa ofereceu uma visão ética sobre um tema que está cada vez mais presente nas cimeiras internacionais, nas políticas governamentais e nos conselhos de administração das empresas. A presença do Papa Francisco na Cimeira do G7 deste ano foi assegurada pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, anfitriã da cimeira.

A declaração final dos líderes do G7, que refletiu as preocupações do Papa, destacou a coordenação da governação e os quadros regulamentares em torno da IA – com a promessa de a manter “centrada no ser humano”: “Procuraremos uma transformação digital inclusiva, centrada no ser humano, que apoie o crescimento económico e o desenvolvimento sustentável, maximize os benefícios e faça a gestão dos riscos, em linha com os nossos valores democráticos partilhados e o respeito pelos direitos humanos”.

Ucrânia assegurou ajuda monetária significativa na Cimeira

Os 7 líderes das maiores economias mundiais anunciaram, na quinta-feira (13), uma nova proposta de ajuda monetária à Ucrânia. A intenção dos líderes do G7, que se considera ainda um “esboço”, afirma a Reuters, é angariar nos mercados internacionais 50 mil milhões de euros (cerca de 46,3 mil milhões de euros) para serem cedidos a título de empréstimo à Ucrânia até ao final deste ano.

Segundo o plano da proposta – e essa é a sua grande inovação – os lucros gerados pelos ativos russos congelados nos países do G7 servirão quer para abater a dívida quer para cobrir os juros resultantes destes empréstimos. Com isso, dizem os países do G7, procura-se compensar as centenas de milhões de euros de prejuízo causado pela Rússia à Ucrânia. Mas os próprios também admitem que será preciso “obter aprovação nestas jurisdições [onde os ativos estão retidos] para usar futuros fluxos destas receitas extraordinárias para cobrir o serviço e amortização dos empréstimos”.

A BBC avança que a maior parte destes ativos, que somam um valor total de 325 mil milhões de dólares, estão bloqueados na União Europeia. E refere também que este conjunto de ativos russos está a gerar qualquer coisa como 3 mil milhões de euros ao ano em juros. A Rússia, claro, não gostou.

Horas antes dos líderes mundiais anunciarem a proposta de ajuda ucraniana, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharvova, prometeu que haveria medidas “extremamente dolorosas” de retaliação contra a União Europeia. O aviso veio do possível uso de rendimentos dos bens congelados de Moscovo, que se veio a confirmar na Cimeira. A Rússia considera o ato “criminoso”, segundo a Reuters.

Numa conferência de imprensa conjunta dada após a reunião, Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos, declarou que o uso dos ativos congelados de Moscovo foi outro “lembrete” a Vladimir Putin, Presidente da Rússia, que “não irão desistir” no Ocidente de apoiar a Ucrânia. O chefe de Estado norte-americano também assinou um acordo de segurança bilateral de 10 anos com o Presidente ucraniano que Zelensky considerou “histórico”.

Além dos EUA, também o Japão celebrou um acordo de defesa com os ucranianos por um prazo de dez anos.

A Cimeira, que está a ter lugar em Borgo Egnazia, Apúlia (Itália), começou na quinta-feira (13) e termina este sábado (15). A edição deste ano reúne os líderes dos Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Canadá e Japão. Também contou com a presença de outras dez nações, incluindo o primeiro-ministro da Índia e os presidentes da Turquia e do Quénia, convidados pela primeira-ministra italiana.

Editado por Filipa Silva