Com as eleições legislativas à porta, a esquerda organizou várias manifestações ao longo do país contra a ascensão da extrema-direita. O Presidente francês convocou eleições antecipadas, depois da vitória do partido de Marine Le Pen nas eleições europeias.
Centenas de milhares de manifestantes saíram este sábado (15) à rua em França para protestar contra a extrema-direita. A mobilização passou por mais de 150 cidades, como Paris, Marselha, Toulouse, Lyon e Lille. Os protestos acontecem depois de o Presidente francês ter convocado eleições antecipadas, na sequência da vitória do partido de extrema-direita, Reunião Nacional (Rassemblement National, RN na sigla em francês), nas eleições europeias.
O Ministério do Interior francês declarou, de acordo com a Associated Press (AP), que aproximadamente 250 mil pessoas juntaram-se aos protestos e que cerca de 21 mil agentes da polícia foram mobilizados para os vários pontos do país.
A maior concentração teve lugar na capital francesa. Os manifestantes reuniram-se junto à Praça da República e seguiram em direção à Praça da Nação, passando pela Praça da Bastilha – locais de protesto simbólicos em França. Segundo a AP, a polícia de Paris reportou “várias tentativas de danos” por parte dos manifestantes e disse ter detido nove deles. A mesma fonte adiantou que três polícias ficaram feridos.
Segundo a Reuters, que cita uma fonte da polícia, estiveram em Paris cerca de 75 mil pessoas. Já a Confederação Geral do Trabalho (CGT) disse que os números foram superiores: um total de 640 mil manifestantes marcaram presença nos protestos em todo o território, sendo que desses 250 mil estiveram em Paris.
As concentrações foram convocadas por cinco confederações sindicais, depois de o Presidente francês, Emmanuel Macron, ter convocado eleições antecipadas. A antecipação “surpresa” das legislativas foi anunciada a 9 de junho, após o partido de extrema-direita, União Nacional (RN, na sigla em francês), ter vencido as eleições europeias com 31,4% dos votos, mais quase 17 pontos percentuais que o partido de Macron.
Em declarações ao jornalistas, a líder sindical da CGT, Sophie Binet, expressou preocupação em relação ao futuro do país. “Estamos a marchar, porque estamos extremamente preocupados com o facto de Jordan Bardella [atual presidente do RN] poder tornar-se o próximo primeiro-ministro. Queremos evitar este desastre”, declarou.
Raz de marée populaire aujourd’hui en France !
640 000 personnes ont manifesté partout en France contre l’extrême droite et pour un sursaut populaire ✊
On recommence cette semaine au travail et dimanche prochain avec les manifestations féministes contre l’extrême-droite ! pic.twitter.com/XzAk0EiTNP
— Sophie Binet (@BinetSophie) June 15, 2024
Ponto de situação: coligações para as legislativas
A esquerda francesa chegou a um consenso esta quinta-feira (13) e confirmou a criação de uma coligação contra a extrema-direita. A Nova Frente Popular é formada pelo Partido Socialista, o ecologista EELV, França Insubmissa (LFI, na sigla em francês) e o Partido Comunista Francês, que tinham manifestado a intenção de formar uma aliança, poucas horas depois de o Presidente francês ter convocado eleições antecipadas.
Nous sommes le Nouveau Front Populaire.
✅️ Et nous allons écrire l’Histoire.#NouveauFrontPopulaire pic.twitter.com/BfTmXXMnYT
— La France insoumise #NouveauFrontPopulaire (@FranceInsoumise) June 14, 2024
Já à direita, a confusão instalou-se. A comissão executiva do partido Os Republicanos (LR) convocou uma reunião para discutir a destituição do presidente do partido, Eric Ciotti, depois deste ter proposto uma aliança com a Reunião Nacional. A decisão, tomada “por unanimidade”, resultou na expulsão, ainda que temporária, de Ciotti do cargo.
Contudo, o partido acabou por não reconhecer a decisão da comissão executiva, de acordo com um comunicado divulgado na quarta-feira à noite (12) nas redes sociais.
Les Républicains appellent à l’apaisement et au respect des statuts.
Éric Ciotti exprime toute sa confiance dans la Justice.
Retrouvez le communiqué de presse officiel @lesRepublicains ⬇️⬇️ pic.twitter.com/LEbBj7wMt0
— Eric Ciotti (@ECiotti) June 13, 2024
Segundo o comunicado de imprensa, a reunião “realizou-se em flagrante violação” dos estatutos, já que “ninguém tem o poder de convocar a comissão executiva sem a intervenção do presidente”. Ciotti afirmou, mais tarde, continuar na liderança do partido e, dirigindo-se à comissão, disse que a reunião poderia ter “consequências criminais”, uma vez que “não tem valor juridíco”.
Até ao momento, o partido de Ciotti recusou sempre formar uma coligação com o partido de extrema-direita. Numa entrevista à CNews, o presidente do partido de direita republicano afirmou que a maioria dos eleitores é a favor da aliança com a Reunião Nacional, defendendo a proposta como um “passo necessário para a sobrevivência do partido”.
Segundo uma sondagem do Politico, a Reunião Nacional, partido de Marine Le Pen, deverá ficar à frente na primeira volta das eleições legislativas com 33% dos votos. A Nova Frente Popular (NFP), uma coligação dos partidos de esquerda, surge em segundo lugar, com 30%. O partido de Macron, La République En Marche! (LREM), deverá ser a quarta força política mais votada, com 19%, menos cinco pontos percentuais que o partido Nova União Popular Ecologista e Social (NUPES).
As eleições legislativas, que se vão realizar em duas voltas, estão agendadas para 30 de junho e 7 de julho.
Editado por Inês Pinto Pereira