Vladimir Putin realizou uma visita à Coreia do Norte, onde ele e Kim Jong-un assinaram um novo tratado estratégico para substituir acordos anteriores. A aproximação entre esses países preocupa a comunidade internacional, devido ao possível uso de armas norte-coreana pela Rússia na guerra na Ucrânia.

Os dois líderes já se encontraram em várias ocasiões (a fotografia é de 2019), mas Putin não visitava o país há 24 anos. Alexei Nikolsky, The Presidential Press and Information OfficeCreative Commons Attribution 4.0

O presidente russo, Vladimir Putin, realizou nesta terça-feira (18) uma visita à Coreia do Norte, a primeira em 24 anos, aceitando ao convite do líder norte-coreano Kim Jong-un. A chegada de Putin, que se dá num contexto de crescente aproximação entre Moscovo e Pyongyang, desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, foi marcada por uma receção calorosa na capital norte-coreana, com as ruas enfeitadas com bandeiras russas e cartazes a celebrar a visita.

Durante a sua estadia, Putin e Kim Jong-un assinaram um novo tratado de parceria estratégica, destinado a substituir os acordos anteriores firmados entre os dois países em 1961, 2000 e 2001. “O alargado acordo de parceria assinado hoje [terça-feira] inclui, entre outras coisas, o fornecimento de assistência mútua em caso de agressão contra alguma das partes do acordo”, afirmou Vladimir Putin à saída da reunião, de acordo com a CNN Internacional.

O acordo envolve, entre outras, as dimensões “política, de negócio, investimento, culturais e de segurança”, acrescentou o líder russo sobre este “documento verdadeiramente inovador”. A “aliança” constitui, nas palavras do ditador coreano, um momento decisivo no desenvolvimento das relações bilaterais” entre os dois países, refere a mesma fonte.

A visita de Putin à Coreia do Norte foi recebida com grande preocupação pela comunidade internacional, especialmente pelos Estados Unidos. As autoridades americanas temem que o fortalecimento das relações entre Moscovo e Pyongyang possam resultar em violações das resoluções do Conselho de Segurança da ONU, particularmente no que diz respeito à venda de armas. De acordo com a “BBC”, existem indícios de que mísseis e munições norte-coreanas tenham sido usados pela Rússia na guerra na Ucrânia, o que constituiria uma violação das sanções internacionais impostas a ambos os países.

John Kirby, porta-voz da segurança nacional dos EUA, expressou preocupações sobre o aprofundamento das relações entre a Rússia e a Coreia do Norte, destacando os riscos potenciais para a estabilidade regional. Enquanto isso, o vice-ministro das Relações Exteriores da Coreia do Sul, Kim Hong-kyun, discutiu a situação com Kurt Campbell, vice-secretário de Estado dos EUA, prometendo cooperação para enfrentar os desafios emergentes

A visita de Putin também evidenciou os interesses estratégicos mútuos entre a Rússia e a Coreia do Norte. A Rússia, pressionada pelas sanções internacionais e a precisar de equipamentos militares para a guerra na Ucrânia, encontra em Pyongyang um fornecedor vital de munições e armamentos. Em troca, a Coreia do Norte, isolada economicamente, pode encontrar apoio russo em termos de petróleo, alimentos, moeda estrangeira e, potencialmente, tecnologia espacial, refere a BBC.

Esta aproximação pode ter implicações significativas para a geopolítica global. Alguns especialistas alertam que a Rússia poderá fornecer à Coreia do Norte não apenas recursos económicos, mas também apoio técnico para o desenvolvimento de seu programa nuclear, representando uma ameaça não apenas para a estabilidade regional, mas também para o regime de sanções internacionais que visa conter a produção de armas de destruição em massa. Yang Uk, investigador do Instituto Asiático de Estudos Políticos, sugere que o apoio russo pode revitalizar a economia norte-coreana e fortalecer o seu sistema de armas, desafiando diretamente as sanções e a ordem internacional.

A visita de Vladimir Putin à Coreia do Norte e o fortalecimento dos laços bilaterais com Pyongyang demonstram um realinhamento estratégico significativo face a um cenário global instável. Com as sanções internacionais a pressionarem os dois países, a aliança entre Rússia e Coreia do Norte surge como uma resposta desafiadora às tentativas ocidentais de isolamento dos dois países, o que pode trazer novas dinâmicas e riscos para a segurança global.

Depois da Coreia do Norte, Vladimir Putin segue para o Vietname.

Editado por Filipa Silva