Os dados são do Reuters Digital News Report 2024, que apontam para uma quebra da confiança dos portugueses de 13 pontos percentuais em comparação com 2015. No estudo, verificou-se ainda um aumento na proporção de pessoas que diz sentir saturação em relação à "quantidade de notícias que há hoje em dia".

O Global Media Group apresentou perdas de quase 9 milhões de euros em 2016/2017.

Os dados são do 13.º relatório anual do Reuters Institute for the Study of Journalism. Foto: Pixabay/Pexels

A confiança nas notícias consumidas por parte dos cidadãos portugueses sofreu uma quebra de 13 pontos percentuais em relação a 2015. Os dados foram divulgados esta segunda-feira (17) no Reuters Digital News Report 2024, o 13.º relatório anual do Reuters Institute for the Study of Journalism (RISJ).

“Considerando os níveis de confiança em notícias em geral e nas notícias consumidas, entre 2015 e 2024, regista-se uma quebra de dez pontos percentuais na confiança em notícias em geral e de 13 pontos percentuais nas notícias consumidas”, pode ler-se no nono relatório da série em Portugal, desenvolvido pela OberCom – Observatório da Comunicação, colaborador do RISJ desde 2016, responsável pela conceção do questionário em Portugal, bem como a análise e interpretação final dos dados.

Apesar de mais de metade dos cidadãos (56%) terem afirmado “confiar em notícias em geral”, Portugal, que até aqui ocupava “o segundo/terceiro país em 46 estudados onde mais se confia em notícias”, caiu este ano para “o sexto lugar“, ficando apenas atrás de países como a Finlândia (69%), Quénia (64%) e Nigéria (61%).

De acordo com o estudo, “transparência dos media é o aspeto que os portugueses mais dizem ser importante para a definição da sua confiança em notícias”.

Por comparação com o valor de 56%, também se aponta que “os portugueses mais jovens, menos escolarizados e com menores rendimentos apresentam níveis menores de confiança em notícias em geral“.

Entre os destaques abordados no estudo, estão a perceção dos consumidores sobre desinformação, a relação dos consumidores com as notícias e a perceção dos consumidores sobre o papel da Inteligência Artificial (IA) no jornalismo, um fator que começou a ser avaliado apenas este ano.

Portugueses saturados com a quantidade de notícias

Em resposta à afirmação “Estou saturado com a quantidade de notícias que há hoje em dia”, verificou-se um “aumento considerável na proporção de pessoas que concordam ou concordam totalmente”. Este cansaço mediático sentido pelos portugueses (51%) aumentou nove pontos percentuais em relação a 2019 (42%).

Estes dados coincidem “com o evitar ativo de notícias, cuja frequência aumentou em Portugal“, aponta o estudo. Contudo, o fenómeno “não é exclusivo” do país, já que se regista um “consistente aumento do mesmo em praticamente todos os países do centro e sul europeu”, incluindo o Reino Unido (46%), Irlanda (44%) e França (39%). Portugal surge em quarto lugar.

Produção noticiosa e utilização da Inteligência Artificial

O estudo refere que “os portugueses mostram-se mais preocupados com o que é real ou falso na Internet (72%) que a média global dos países analisados (59%), embora a tendência deste indicador seja de crescimento em ambos os casos”. De acordo com o estudo, a preocupação dos leitores com que notícias online são reais ou falsas aumentou três pontos percentuais, em comparação com os dados de 2023.

“Em Portugal, o tema sobre o qual os respondentes mais dizem ter encontrado desinformação é a política (28%)”, pode ler-se no estudo. No conjunto de temas apontados, surgem também os assuntos relacionados com a economia, inflação e custo de vida, os conflitos em Gaza e na Ucrânia e a imigração.

No que diz respeito à perceção dos consumidores portugueses sobre a Inteligência Artificial, o Digital News Report 2024 dá conta de que metade dos inquiridos declaram “ter bastante ou moderado conhecimento sobra a IA”, 38% dizem “saber pouco” e 7% “nada sobre tecnologia”.

Quanto às notícias produzidas por IA com “alguma supervisão humana”, o estudo indica que 19% dos inquiridos dizem estar “confortáveis ou muito confortáveis” com essa forma de produção noticiosa, e 43% dizem sentir-se “desconfortáveis ou muito desconfortáveis”.

Já relativamente às notícias escritas por jornalistas humanos com “alguma ajuda da IA”, as respostas dos inquiridos são mais positivas: 35% dos consumidores portugueses dizem estar “confortáveis ou muito confortáveis” com esta abordagem e 24% “desconfortáveis ou muito desconfortáveis”.

De acordo com o relatório, cerca de 30% escolheram a opção “nem confortáveis nem desconfortáveis”, quando questionadas sobre como se sentem em relação a cada uma das abordagens já enunciadas. A OberCom refere que o facto de a IA ser uma tecnologia recente, “e não se conhecerem os seus impactos, pode motivar ainda um considerável desconhecimento por parte das audiências face ao jornalismo produzido com maior ou menor intervenção de IA”.

“Os portugueses estão mais abertos a notícias produzidas por IA, com alguma supervisão humana, nos temas ciência e tecnologia, arte e cultura, desporto ou locais/regionais, e mais apreensivos quanto à utilização desta tecnologia nos temas política ou crime“, pode ainda ler-se.

O trabalho de campo, a cargo da YouGov, foi realizado entre 11 e 31 de janeiro deste ano. No relatório de 2024, 95 mil indivíduos de 47 países participaram no estudo. Em Portugal, o estudo envolveu uma amostra de 2.012 indivíduos representativos da população.

Editado por Inês Pinto Pereira