A vigésima edição do festival arranca já na segunda-feira, em Espinho. Este ano, o festival tem um programa “um pouco diferente do habitual”, com o futuro e o passado na base do alinhamento. Um dos grandes destaques vai para a programação “feita no feminino”, entre outros temas contemporâneos. Há mais de 250 filmes em exibição nesta edição do festival.

“Melk”, realizado por Stefanie Kolk, é um dos filmes a concurso na competição de Lince de Ouro de Ficção Internacional, com foco em “histórias no feminino”. Foto: FEST New Directors | New Filmes Festival

O FEST – Festival Novos Realizadores | Novo Cinema celebra o seu vigésimo aniversário de 24 de junho a 1 de julho, no Cineclube de Espinho. O festival, que junta cinema português e cinema internacional, preparou um programa especial que “olha para o futuro e para o passado”, com vários convidados de diferentes áreas do cinema e temas para todos os gostos.

“Tem sido uma caminhada surpreendente. Não estávamos à espera de ter uma resposta tão rápida ao evento, acima de tudo, a nível internacional. Normalmente, para um evento português conseguir encontrar o seu espaço na cena internacional são precisas muitas décadas e para o FEST foi algo relativamente rápido”, contou Fernando Vasquez, diretor do festival, ao JPN.

Apesar dos “obstáculos habituais de um evento cultural em Portugal”, Fernando Vasquez acredita que foram “20 anos surpreendentes”, com um aumento de participantes, principalmente internacionais. “Para além do festival, o trabalho que vamos fazendo ao longo do ano, através do nosso cineclube, também ampliou o alcance da população, que desenvolveu hábitos de consumo de cinema”, acrescentou.

Ainda assim, a organização tem sentido “várias dificuldades a vários níveis”. De acordo com o diretor, há “poucas alternativas” de alojamento, necessário para acolher os cinéfilos que visitam a cidade, e as que existem estão disponíveis a “preços muito altos”, tal como os preços das viagens. Desta forma, esperam menos visitantes nesta edição – “por volta dos 500 ou 600”. “No ano passado, batemos o recorde, com 800 acreditados presentes. Este ano há um pequeno decréscimo, mas o FEST continua a ser um dos poucos festivais de cinema em Portugal em ascensão”, disse o diretor.

Edição deste ano conta com um programa “um pouco diferente do habitual”

De forma a agradar curiosos do cinema e novatos na indústria cinematográfica, o FEST organizou um programa “um pouco diferente do habitual”, com o futuro e o passado como bases do alinhamento. A programação conta com mais de 250 filmes. Para além de ligarem o projeto a “novas tendências do cinema”, o festival criou um “pequeno espaço de reflexão sobre o passado”. O FEST continua a privilegiar produções de novos talentos, mas também recorda “trabalhos de autores que já passaram pelo radar do FEST nas últimas duas décadas”.

Fernando Vasquez sublinha que a programação “feita no feminino” é um dos grandes destaques desta edição. “Temos vindo a reparar que há cada vez mais mulheres a estudar cinema. Por exemplo, na nossa competição de longas-metragens, seja de ficção ou documentário, é praticamente só mulheres. E quando não são mulheres, são homens a fazer filmes com temas femininos. É, seguramente, um dos grandes temas e uma tendência que temos vindo a acompanhar”, assegura.

O alinhamento continua com “algumas das ansiedades da nova geração de cineastas”, como as mudanças climáticas e o crescimento da extrema-direita, por exemplo. Para além disso, o diretor do festival sublinha que o diálogo sobre “o futuro dos festivais de cinema”, “as relações entre atores e realizadores” e “questões de coordenação de intimidade” são alguns dos temas indispensáveis para os debates deste ano.

David Thackeray, Kenneth Lonergan e Mark Coulier são os grandes convidados desta edição

Durante oito dias, há atividades para todos os gostos, desde um programa de cinema infantojuvenil, produção de bandas sonoras, experiências com sonoplastia até à possibilidade de participar em vários workshops e masterclasses. Fernando Vasquez conta que a organização teve o cuidado de trazer “convidados de grande relevo que saem um bocado da linha do que têm vindo a fazer nos últimos anos”. Ao todo, são 12 convidados de honra, de várias nacionalidades.

Este ano, o FEST recebe Kenneth Lonergan, vencedor do Óscar de Melhor Argumento Original, em 2017, com “Manchester By The Sea”, protagonizado por Casey Affleck. O argumentista e realizador, que também auxiliou no argumento de “Gangues de Nova Iorque”, de Martin Scorsese, é um dos mentores de uma das masterclasses do festival. Também Mark Coulier, vencedor de vários Óscares de Maquilhagem com, por exemplo, “Pobres Criaturas” e “A Dama de Ferro”, vai estar presente.

Outro dos convidados “que tem chamado mais à atenção” é David Thackeray, coordenador de intimidade em produções como “The Crown”, “Sex Education” e “It’s a Sin”. “É uma questão ainda muito invulgar e recente”, explicou Fernando Vasquez. Um coordenador de intimidade é “alguém que está especializado em desenvolver condições seguras e ideias para a filmagem de cenas íntimas”, mantendo um diálogo claro entre atores e a produção.

Apesar de não estarem presentes em todos os sets de filmagem por questões de capacidade financeira, a profissão começou a ganhar destaque na reta final das gravações da série “A Guerra dos Tronos” e tem gerado debate. “A verdade é que esta é uma nova função que, até certo ponto, vem interromper um bocado a dinâmica de uma filmagem. É um ponto intermédio entre as necessidades do ator e da produção”, explicou o diretor do FEST.

O festival vai atribuir, como acontece habitualmente, os prémios na Competição Lince de Ouro de Ficção, de Documentário e o Grande Prémio Nacional. Para além disso, há ainda o BE KIND REWIND, uma seleção dos melhores projetos que já passaram pelo FEST.

Editado por Inês Pinto Pereira