Num encontro em que voltou a não convencer na exibição, a seleção nacional venceu a Eslovénia nas grandes penalidades e está nos quartos de final do Europeu da Alemanha. O guarda-redes do FC Porto foi o herói do jogo. Segue-se a França, com quem Portugal tem encontro marcado para sexta-feira.

Diogo Costa festeja os penáltis que travou na linha de baliza. Foto: Diogo Pinto/FPF

A seleção nacional de futebol apurou-se esta segunda-feira, pela sétima vez na sua história, para os quartos de final de um Europeu de Futebol. Depois de 90 minutos sem golos, e de um prolongamento também sem alterações no marcador, Portugal e Eslovénia decidiram os seus destinos da marca das grandes penalidades. Aí, Diogo Costa, que aos 115 minutos já tinha salvo a seleção com uma defesa enorme, foi o herói de Portugal e fez história em nome próprio: pela primeira vez na competição, um guarda-redes travou três penáltis. Do lado português, Cristiano Ronaldo, Bruno Fernandes e Bernardo Silva concretizaram e colocaram Portugal na fase seguinte. Segue-se a França.

Depois da derrota diante da Geórgia, mas na qualidade de líder do seu grupo, Portugal encontrou na Arena de Frankfurt o terceiro classificado do grupo C, a Eslovénia, que chegou pela primeira vez a esta fase da competição. As duas equipas tinham-se cruzado num jogo de preparação em março, do qual Portugal saiu derrotado. Perante um adversário que não perdia desde novembro – na fase de grupos, a Eslovénia registou três empates em três jogos – o desafio não se perspetivava fácil para a equipa das quinas.

Roberto Martinez apostou em Diogo Costa, Nuno Mendes, Rúben Dias, João Cancelo, Pepe, Vitinha, Bernardo Silva, Palhinha, Bruno Fernandes, Rafael Leão e Cristiano Ronaldo. Portugal teve, como é habitual, a iniciativa do jogo, mas voltou também a ter muitas dificuldades em penetrar nas linhas adversárias, apesar de boas exibições individuais, como as de Vitinha ou de Rafael Leão.

Da primeira parte, há essencialmente dois lances a registar. Um livre marcado por Cristiano Ronaldo à entrada da área da Eslovénia, que quase tirou tinta à trave e uma bola ao poste de Palhinha, num remate forte, também à entrada da área, dando sequência a um passe atrasado de Rafael Leão.

Na segunda parte, manteve-se por cima a seleção portuguesa, num jogo que ficou mais partido depois das primeiras substituições de Martinez – Diogo Jota entrou para o lugar de Vitinha aos 65′ e Francisco Conceição substituiu Rafael Leão aos 76′.

À entrada do segundo tempo, nota para um remate cruzado de Bernardo Silva, na sequência de um bom trabalho de João Cancelo, que passou perto do poste de Oblak, o ex-guarda-redes do Benfica que travou, aos 55′, mais um míssil disparado de livre por Ronaldo. Aos 62′, foi Sesko quem esteve perto de marcar para a Eslovénia, mas a bola saiu ao lado também. E ao cair do pano, foi o guarda-redes esloveno a servir outra vez de barreira à vontade de marcar de um cada vez mais ansioso Ronaldo.

Dois momentos (e Diogo Costa) decidem o jogo

Com 0-0 no marcador, as duas equipas seguiram para o prolongamento e aqui há dois momentos-chave. Dois momentos separados por dez minutos, em que Portugal foi das lágrimas à exaltação.

Primeiro momento: minuto 105. O capitão português encarrega-se da marcação de uma grande penalidade, assinalada por falta de Drkusic sobre Diogo Jota. Portugal podia chegar à vantagem e Ronaldo tornar-se o jogador mais velho a marcar numa fase final de um Europeu. Oblak estragou a festa ao português. Fez uma enorme defesa e Ronaldo não conteve a emoção. Chorou como se aquela falha tivesse eliminado Portugal. Foi calorosamente apoiado pelos colegas até porque, como se veria, o jogo não tinha terminado. Mas a seleção ressentiu-se.

Segundo momento: minuto 115′. No centro do terreno, a meio caminho entre o meio-campo e a baliza portuguesa, Pepe escorrega, perde a bola e vê Sesko fugir isolado em direção a Diogo Costa. Mas o guardião do FC Porto saiu destemido e, qual guarda-redes de andebol, defendeu com o pé esquerdo o remate colocado do avançado esloveno. Portugal não caiu, Diogo Costa segurou-o e a moral voltou a subir

Martinez ainda meteu Nélson Semedo e Rúben Neves, mas já sem qualquer efeito prático. O jogo seria decidido nas grandes penalidades. 

Coube ao experiente Ilicic a marcação do primeiro penálti, mas Diogo Costa voltou a brilhar. Esticou-se todo para a esquerda e defendeu. A bancada dos adeptos portugueses nas suas costas foi ao delírio. Seguiu-se Ronaldo. Depois do colapso emocional do penálti falhado, o capitão português voltou a encontrar Oblak na marca dos 11 metros, mas desta vez o guarda-redes esloveno não foi capaz de travar o remate colocado do camisola 7. O jogo parecia ter virado em definitivo de feição para a seleção portuguesa.

Diogo Costa, o homem do jogo, confirmou-o logo a seguir, ao travar também o penálti de Balkovec. Bruno Fernandes fez a sua parte e marcou o segundo para Portugal. Depois, o guarda-redes do FC Porto elevou a fasquia do espanto para níveis ainda não experimentados e com uma segurança impressionante travou o terceiro penálti dos eslovenos, desta feita, marcado por Verbic.

Se ainda hoje os adeptos portugueses recordam o jogo em que o guarda-redes Ricardo – agora treinador de Diogo Costa na seleção – foi protagonista na vitória de Portugal diante da Inglaterra, nos quartos de final do Euro 2004, quando defendeu um penálti e marcou a seguir outro (tudo sem luvas), certamente, a noite de 1 de julho de 2024 ficará também gravada como a noite em que um guarda-redes português fez história

A Bernardo Silva coube o remate imprescindível para selar a vitória e qualificação portuguesas. A seleção nacional defronta agora a França, na sexta-feira, em Hamburgo, nos quartos de final da competição.

A festa final foi portuguesa em Frankfurt. Foto: Diogo Pinto/FPF

Martínez: “Uma vitória do balneário”

No final da partida, Roberto Martínez era naturalmente um homem satisfeito. O selecionador nacional gostou da exibição da equipa e fez referência à relva seca, como um fator que não terá ajudado ao desempenho do coletivo: “A equipa jogou muito bem, defendeu bem, a relva não era fácil”, afirmou aos jornalistas na conferência de imprensa. 

Martínez considerou que a vitória portuguesa foi merecida, num jogo em que Portugal “teve 20 ataques e 11 cantos”. “Seriam detalhes a definir”, disse. Sobre a falha de Ronaldo, o selecionador desvalorizou a quebra emocional e destacou a coesão do grupo. “Ronaldo errou numa grande penalidade, mas foi decisivo a compensar nas grandes penalidades. Foi ele que marcou o caminho” da vitória, assinalou. “Foi uma vitória da união do balneário”, rematou. 

Já sobre o homem do jogo, Diogo Costa, o selecionador considerou incrível a exibição e afirmou que “Diogo Costa é o segredo mais oculto do futebol europeu”. Depois do que fez esta segunda-feira, será caso para dizer: não mais.

Diogo Costa: “Foi o melhor jogo da minha vida”

O prémio de melhor em campo foi entregue no final do jogo a Diogo Costa. Aos 24 anos, o guarda-redes do FC Porto tinha bem presente o significado do jogo que tinha acabado de fazer: “Foi o melhor jogo da minha vida. Foi o jogo em que mais consegui ajudar a equipa. Segui cegamente o meu instinto. Respirei fundo muitas vezes e segui o meu instinto. Estou muito feliz e muito emocionado por ajudar tanto a equipa”, disse aos jornalistas.

Diogo Costa defendeu três penáltis no jogo contra a Eslovénia. Foto: Diogo Pinto/FPF

Cristiano Ronaldo, que depois de marcar o primeiro penálti português pediu desculpa aos adeptos pela falha aos 105 minutos, falou no final da partida sobre as emoções que o atravessaram: “É uma tristeza no início e uma alegria no fim, é o que o futebol dá, momentos inexplicáveis. Tive a oportunidade de dar vantagem à seleção, mas o Oblak defendeu. Não falhei nenhum penálti durante o ano e agora que mais precisavam… Mas agora é desfrutar da passagem“. 

No seu último europeu por Portugal, Ronaldo falou ainda sobre o próximo adversário e sublinhou que ele e a equipa vão à luta: “Vamos ter um jogo difícil contra a França, que é uma das favoritas. Mas vamos para a guerra, a equipa está bem e vou dar sempre o meu melhor. Falhei o penálti, mas quis ser o primeiro a marcar, porque há que assumir a responsabilidade. Não se pode ter medo, nunca tive medo de encarar as coisas de frente. Às vezes acerto, às vezes não acerto, mas desistir é uma coisa que nunca vão ouvir do meu nome”, rematou.

França passa em cima dos 90′

Se a qualidade de jogo da seleção portuguesa tem deixado a desejar, a da França não fica atrás. O desempenho da formação comandada por Didier Deschamps tem sido muito visada na imprensa francesa, considerando o incrível lote de individualidades da equipa de que Kyllian Mbappé é só a cara mais conhecida. Nos oitavos de final, os franceses asseguraram a passagem em cima do apito final diante da Bélgica e graças a um autogolo de Vertonghen.

Agora, os gauleses vão encontrar Portugal na sexta-feira. O histórico de resultados das duas seleções pende muito para o lado francês, mas Portugal levará certamente na memória a vitória por 1-0, no prolongamento, na final do Euro 2016, em França, quando Éder deu a Portugal o troféu mais importante da sua história. As duas seleções já se encontraram três vezes desde então, com uma vitória para a França e dois empates. O último dos quais a 23 de junho de 2021, na fase de grupos do Euro 2020.

As duas seleções jogam na sexta-feira, a partir das 20h00, em Hamburgo. O jogo vai ser transmitido pela TVI. O vencedor vai encontrar nas meias-finais o vencedor do jogo entre a Espanha e a Alemanha.