O portal Infocursos tem, desde 20 de junho, dados atualizados que podem ser úteis aos futuros candidatos ao Ensino Superior. Que cursos têm maiores e menores taxas de abandono? Quais terminam com melhores e piores médias? Outro dado tradicionalmente destacado é o do desemprego, mas esse indicador, este ano, não foi atualizado.

Em 2022, estavam inscritos no ensino superior mais de 430 mil estudantes. Foto: Ângela Rodrigues Pereira

Já falta pouco para o arranque do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior e toda a informação é útil na hora de tomar decisões. A pensar nisso, a plataforma Infocursos, criada em 2014 pelo Ministério da Educação, é atualizada anualmente com informações estatísticas sobre milhares de cursos oferecidos no ensino superior português.

As estatísticas oficiais da plataforma foram atualizadas a 20 de junho, com indicadores renovados sobre desistência, médias à saída dos cursos, inscritos por sexo, nacionalidade ou idade ou ainda a taxa de desemprego de todas as licenciaturas e mestrados integrados do país.

Este último indicador é, aliás, um dos mais destacados todos os anos. Mas, atenção, as taxas de desemprego apresentadas no Infocursos deste ano não foram atualizadas, pelo que, a informação disponibilizada é a mesma do ano passado e diz respeito a diplomados entre os anos 2017/2018 e 2020/2021.

Questionado pelo JPN, o Ministério da Educação esclareceu que “não há erro”. De acordo com o gabinete de imprensa do organismo, isto acontece porque “não foi possível ao IEFP [Instituto do Emprego e da Formação Profissional] reportar dados mais atualizados, pelo que foram utilizados os valores para o mesmo período de referência” de há um ano. Ainda de acordo com o Ministério, não está prevista uma atualização deste indicador.

Neste artigo, o JPN analisa alguns dos indicadores nacionais do Infocursos fornecidos pelo Ministério da Educação, bem como dados relativos às 1.624 licenciaturas e mestrados integrados do país.

Falta dizer que o ano letivo de 2022/2023 é o ano de referência da maioria dos indicadores do Inforcursos 2024.

Um em cada quatro alunos desiste nos Cursos Profissionais

O número de inscritos em todos os níveis de ensino superior em Portugal tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. Basta dizer que rondavam os 350 mil em 2015 e ultrapassavam os 430 mil em 2022.

Com mais gente no sistema, têm também aumentado os níveis de abandono nos primeiros graus de formação, mas se nas licenciaturas o aumento é pouco expressivo (11,1% contra 10,7%, há um ano), nos Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP) a percentagem de alunos que ao fim do primeiro ano não é encontrada em nenhum curso atingiu, em 2022/2023, os 26,9%. Dito de outro modo, mais de um em cada quatro estudantes dos CTeSP desiste do curso no período de um ano.

É nos mestrados integrados que os níveis de desistência são mais baixos (3,6%), tendo este indicador recuado também nos mestrados de segundo ciclo.

Filtrando a informação por cursos em concreto, e considerando, como se referiu acima, só licenciaturas e mestrados integrados com mais de 30 inscritos, os dados da plataforma mostram que o curso de Engenharia Civil do Instituto Politécnico de Castelo Branco lidera com taxas de abandono que chegam a 65%, seguido pelo curso de Enfermagem da Escola Superior de Saúde de Santa Maria, do Porto, com 50%.

Do outro lado da moeda, estão cursos sem qualquer desistência. Casos de Medicina na Universidade da Beira Interior ou Engenharia e Gestão Industrial na Universidade de Coimbra.

Medicina Dentária lidera cursos com mais estrangeiros

Os dados do Infocursos revelam também uma presença cada vez maior de estudantes estrangeiros no ensino superior em Portugal. A percentagem de inscritos de outras nacionalidades subiu em todos os níveis de ensino.

Nos CTeSP, passou de apenas 4% em 2015 para 20% em 2022; nas licenciaturas, é agora de 13,5%, mais 0,9 pontos percentuais do que há um ano; nos mestrados integrados, é de 16,8% e nos mestrados de 2.º ciclo, o peso é ainda mais significativo: os estudantes estrangeiros representam já mais de um quarto do total (26,2%).

Por cursos, considerando ensino público e privado, destaca-se o curso de Medicina Dentária da Universidade Fernando Pessoa onde 70% dos inscritos não são de nacionalidade portuguesa: 1.027 dos inscritos são estrangeiros e 424 são portugueses. Na mesma linha, também no Instituto Universitário de Ciências da Saúde – CESPU, o curso de Medicina Dentária tem 515 estrangeiros (63%) ao lado de 298 estudantes portugueses (37%). 

Nas universidades públicas, são os cursos de Direito, das universidades de Coimbra e de Lisboa, que estão inscritos um maior número de estrangeiros, sendo também estes os cursos com mais inscritos no total.

Médias mais altas à saída rondam 16 valores

Para entrar nos cursos mais concorridos dos Ensino Superior exigem-se médias que podem chegar perto dos 19 valores, mas à saída as classificações são outras. Os cursos com melhores médias finais apresentam valores que rondam os 16

Neste capítulo do desempenho académico, o curso de Fisioterapia da Escola Superior de Saúde do Alcoitão destaca-se com uma média final de 16,7. Seguem-se cursos como Educação Social na Escola Superior de Educação de Fafe (16,6) e Enfermagem na Universidade da Madeira (16,4).

Já na tabela daqueles que apresentam médias finais mais baixas – tabelas onde se consideraram apenas licenciaturas e mestrados integrados com mais de 30 inscritos – estão cursos como Engenharia Civil no Instituto Politécnico do Porto (11,9) e na Universidade de Coimbra, com 12,2 valores, a mesma média à saída dos alunos do curso de Engenharia do Ambiente na mesma universidade.

Os cursos com mais e menos desemprego

Como se referiu na introdução, este parâmetro não foi atualizado este ano. Temos assim, como há um ano, que a percentagem de estudantes formados entre 2017/2018 e 2020/2021 inscritos nos centros de emprego até junho de 2022 era de 3,1% no caso dos recém-formados do público e de 3,7% no caso dos do privado. Percentagens abaixo, refira-se, da taxa de desemprego a nível nacional (6,5% em 2022), o que sugere que o mercado continua a beneficiar quem tem uma formação de nível superior.

Entre os cursos com maiores taxas de desemprego, destacam-se Turismo na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (12,9%) e Comunicação Multimédia no Instituto Politécnico da Guarda, que tem uma taxa de desemprego de 11,5%. 

Por outro lado, existem 45 cursos no ensino superior com taxa de desemprego zero, entre os quais estão os cursos de Medicina ou Enfermagem que apresentam índices praticamente nulos de desemprego. A título de exemplo, veja-se que dos 1.418 diplomados pela Universidade de Lisboa em Medicina nenhum foi encontrado num centro de emprego. O mesmo acontece com os graduados de Medicina das universidades da Nova de Lisboa, do Porto e da Beira Interior, bem como de vários cursos de Enfermagem do ensino público. Esses cursos continuam a demonstrar alta empregabilidade e procura no mercado de trabalho português.