Estudo de Impacto Ambiental previa o abate de apenas 38 árvores. Empresa justifica necessidade de abate com ajustes no projeto. Rui Moreira acusou a Metro do Porto de impor a política do "tem que ser". Quanto ao Metrobus da Boavista fez um ponto de situação aos vereadores: "Vamos ter o 'aeroporto', faltam os aviões."

É provavelmente o único motivo que pode tornar prazeroso fazer a Via Panorâmica, no Porto, de carro, em dias de trânsito. Da saída da VCI até à Faculdade de Letras, o caminho faz-se pelo meio de árvores frondosas e altas, as quais, de acordo com a informação levada esta segunda-feira à Câmara pelo presidente da autarquia, Rui Moreira, podem desaparecer em larga medida. Motivo: a construção da Linha Rubi, do Metro do Porto, que vai ligar a Casa da Música a Santo Ovídio, em Vila Nova de Gaia.

O jornal “Público” de sábado avançou a informação e Rui Moreira confirmou-a esta segunda-feira na reunião pública do Executivo: o município foi contactado pela empresa Metro do Porto com um pedido de abate de 99 árvores na zona do Campo Alegre, onde vai ser construída uma das estações da linha e onde “encaixa” a ponte que vai ligar Porto e Gaia.

O número é mais do dobro do previsto no Estudo de Impacto Ambiental da nova via, no qual se previa o abate de 38 árvores.

“Basicamente, todas as árvores que vemos quando entramos pela Ponte da Arrábida na Via Panorâmica até ao Campo Alegre desaparecem quase todas”, comentou o autarca em resposta a um pedido de esclarecimento colocado pela vereadora do PSD, Mariana Ferreira Macedo.

“O que diz a Metro é que [o motivo desse desfasamento] foram os projetistas. Foi o projeto”, deixando novas críticas à empresa que acusa de tentar fazer a política do “tem que ser”, por força da urgência imposta pelos investimentos financiados através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

“Mas vai ficar tudo muito bonito”, acrescentou de forma sarcástica o edil do Porto, que aproveitou para relembrar que considera o projeto escolhido para a nova ponte “desajustado, inadequado, com graves consequências para a cidade”.

Por sua parte, a Metro do Porto, na justificação que deu ao “Público”, acaba por corresponsabilizar a autarquia na questão. Diz a empresa que o parecer de impacte ambiental foi feito na fase de estudo prévio. Já na fase de execução, “agora em implementação, foram incorporadas alterações relativas aos desvios de trânsito que asseguram a fluidez de trânsito e evitam o encerramento temporário de vias rodoviárias no túnel do Campo Alegre, como acordado com a Câmara Municipal do Porto”. Recorde-se que a autarquia recusou liminarmente a opção de fecho do túnel do Campo Alegre para a realização das obras da Linha Rubi.

Aos vereadores da Câmara do Porto, Rui Moreira disse ainda que ia levar o assunto esta segunda-feira à tarde ao conhecimento dos deputados municipais que integram o Grupo de Trabalho para Acompanhamento dos Investimentos de Transporte Público, com quem tinha marcada uma reunião. “Vou perguntar aos nossos deputados o que havemos de fazer”, referiu. Só depois a autarquia responderá ao pedido da Metro do Porto.

Ainda ao “Público”, a Metro do Porto garante já ter enviado à autarquia todas as informações adicionais pedidas e garantiu também que “foram estudadas alternativas, tendo-se constatado não existirem medidas exequíveis para evitar esse abate – que é, sempre, a última opção dos projetistas”.

A empresa recorda ainda que vai nascer sobre a estação do Campo Alegre um “grande parque verde” que terá “10,5 mil metros quadrados de área”. É aí, aliás, que ficará instalado o futuro e-learning Café da Universidade do Porto, projetado por Eduardo Souto Moura.

Metrobus da Boavista: “Temos o aeroporto, faltam os aviões”

Na reunião do Executivo, o presidente da Câmara do Porto foi também instado a fazer um ponto de situação sobre outro assunto que envolve a Metro do Porto: o Metrobus da Boavista, outra matéria que o autarca prometeu discutir na reunião desta tarde com o Grupo de Trabalho do Transporte Público.

Como é sabido, a empresa de transportes concluiu em agosto a construção do primeiro troço de Metrobus, que vai ligar a Casa da Música à Praça do Império (a segunda fase passa por uma extensão da via até à Anémona), estando nesta altura a finalizar a instalação de sinalética e de equipamentos necessários ao início da operação. Trabalhos que devem ficar concluídos ainda este mês.

O problema que se coloca, e que já era conhecido pelo menos desde o início do ano, é que não há veículos próprios para fazer o percurso nesta altura. São precisos autocarros cujas portas abram à esquerda – as sete paragens do troço encontram-se na zona central da via – e todos os veículos que a STCP dispõe abrem à direita.

A Metro tinha lançado, por isso, um concurso público para adjudicação de novos veículos, com características ajustadas à via, mas o primeiro concurso teve propostas inválidas, vendo-se a empresa obrigada a lançar um novo, em julho. No total, a empresa quer comprar 12 veículos articulados movidos a hidrogénio. Só para o final do ano é que devem chegar os primeiros.

“Há, portanto, um desfasamento de cronograma entre a obra na via e aquilo que é a chegada dos veículos”, referiu Rui Moreira aos vereadores. “Vamos ter o aeroporto, mas não temos os aviões”, sintetizou o autarca.

Do lado da STCP, informou também o presidente da Câmara, além da questão da abertura de portas, que pode vir a ser contornada com os cruzamento de veículos nas paragens, há outros problemas: é que a empresa de autocarros “não tem veículos a mais”, tendo por isso, para assumir a operação do canal, de recorrer a linhas já existentes. A linha 203 será a única possível, mas não é uma solução fechada.

“O que a STCP esclareceu é que das sete estações previstas [na linha de Metrobus] só pode operar em três e só na Avenida da Boavista, na Marechal Gomes da Costa não pode”, disse Rui Moreira. “Na Avenida, implicaria ou implicará fazer um zigue-zague com algumas consequências”, descreveu o autarca, para concluir: “Se passamos a STCP para o meio [canal de Metrobus] é verdade que os autocarros vão andar mais depressa, porque têm uma via disponível, mas a população passa de sete paragens a ter apenas três”. “Vamos esperar que isto se resolva”, concluiu.