A escritora sul-coreana Han Kang foi laureada com o Prémio Nobel da Literatura. O comité da Fundação Nobel destaca "a sua intensa prosa poética", "sensibilidade única" e "estilo experimental inovador".

Han Kang tem quatro romances editado em Portugal pela Dom Quixote. Foto: wisdo. me/Wikimedia CommonsCC 3.0

A vencedora do Prémio Nobel da Literatura foi conhecida no início da tarde desta quinta-feira, 10 de outubro, na Suécia. Por volta das 13h00 locais, Mats Malm, secretário permanente da Academia Sueca, anunciou o nome da sul-coreana Han Kang, a quem o prémio foi atribuído pela sua “intensa prosa poética, que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana”.

O Presidente do Comité do Prémio Nobel, Anders Olssen, escreve que Han Kang “tem uma sensibilidade única das conexões entre o corpo e a alma, o vivo e o morto, e a sua poesia e estilo experimental são inovadores na prosa contemporânea.”

A escritora sul-coreana era desconhecida no Ocidente até 2015, quando o livro “A Vegetariana” retirou o seu nome do anonimato fora da Coreia do Sul. Em Portugal, os seus livros são publicados pela editora Dom Quixote, que anunciou a publicação do mais recente romance da autora, “Despedidas Impossíveis”, vencedor Prémio Médicis do último ano.

Quem é Han Kang?

Han Kang nasceu em 1970 na cidade sul-coreana de Gwangju, e é filha do romancista coreano Han Seung-won. Mudou-se com a família para Seoul, aos nove anos de idade, quatro meses antes de o exército coreano disparar mortalmente contra 165 civis, que protestavam contra a ditadura de Chun Doohwan, na sua cidade natal. Apesar de não presenciar o massacre de Gwangju, o episódio tornou-se uma metáfora de brutalidade que a autora utiliza como cenário do seu romance “Atos Humanos”, que lançou em 2014 na Coreia do Sul (chegou em 2017 a Portugal).

A carreira da escritora sul coreana começou em 1993, com a publicação de uma série de poemas na revista “Literatura e Sociedade”. A sua estreia em prosa aconteceu com a coleção de contos “Amor de Yeosu”, em 1995. O seu primeiro romance foi “Your Cold Hands” (sem tradução em Portugal), publicado na Coreia do Sul em 2002.

Em 2007, Han Kang escreveu “A Vegetariana”, publicado na Coreia do Sul, mas que apenas foi editado no Reino Unido em 2015. A história de uma mulher que se transformou numa planta para sobreviver à violência criou um culto mundial e tirou o nome da escritora do anonimato, valendo-lhe o Man Booker International Prize de 2015.

Em Portugal, além de “A Vegetariana”, a editora Dom Quixote publicou também os livros “Lições de Grego” e “O Livro Branco” da agora vencedora do Prémio Nobel da Literatura, além do já referido “Atos Humanos”.

Prémio volta a sair da Europa

Estabelecido em 1901, o Prémio Nobel da Literatura é atribuído anualmente a escritores que tenham produzido obras de destaque e promovam uma contribuição significativa para literatura mundial.

Ao longo dos anos, o prémio foi atribuído a escritores de diferentes continentes, mas com uma distribuição que reflete a predominância de escritores do Velho Continente. Dos 127 laureados com o Prémio – em quatro ocasiões, o diploma foi entregue a dois autores -, cerca de 80 vencedores são europeus.

Han Kang torna-se a primeira sul-coreana a vencer o prémio, sendo a nona vez que o Prémio é atribuído a um escritor do continente asiático.

O Nobel da Literatura volta assim a sair do Velho Continente, depois de ter sido entregue ao norueguês Jon Fosse, em 2023, e à francesa Annie Ernaux, em 2022. Antes disso, em 2021, o laureado com o Prémio foi Abdulrazak Gurnah, da Tanzânia, e em 2020, a escritora norte-americana Louise Gluck, falecida em outubro do ano passado.

Editado por Filipa Silva