A guerra no Médio Oriente impediu a presença da companhia libanesa que faria a abertura, mas a programação do FIMP manteve-se firme e tem muito para oferecer até 20 de outubro. O JPN falou com Igor Gandra, diretor artístico, sobre a edição deste ano que inclui estreias como a de "Capital Canibal" e reposições do "Jardineiro Imaginário" e "Dura Dita Dura".
“Capital Canibal”, proposta da Sonoscopia e do Teatro de Ferro, é um dos destaques do fim de semana de abertura. Foto: Fernanda Lima/ JPN
Arrancou esta sexta-feira, 11 de outubro, mais uma edição do Festival Internacional de Marionetas do Porto (FIMP). Com uma programação que conta com 13 companhias, nacionais e internacionais, o festival estende-se até ao dia 20 de outubro nas cidades do Porto e de Matosinhos.
A abertura deste ano ficou marcada pelo silêncio de uma ausência: a da companhia libanesa Collectif Kahraba, que vinha ao Porto apresentar “Géologie d’une Fable“, e que não pôde vir devido à escalada do conflito no Médio Oriente e apesar de toda a sua cenografia já estar na Invicta: “O material deles está todo connosco. Portanto, só faltam eles. Em português existe uma palavra que é ‘oxalá’, que é uma palavra de origem árabe, quer dizer ‘Deus queira’. Portanto, ‘oxalá’ nós conseguimos trazê-los o mais depressa possível”, comenta Igor Gandra ao JPN.
O fim de semana inaugural do FIMP fica assim marcado por outros destaques, nomeadamente pelas estreias de “Capital Canibal”, da Sonoscopia e do Teatro de Ferro que acontece este sábado (12) às 23h00 e domingo (13) às 18h30 – com língua gestual portuguesa – e 21h00, no Rivoli – Teatro Municipal (Sala de Ensaios).
Em conversa com o JPN, o co-criador da peça e um dos responsáveis pela música, Gustavo Costa, conta que o espetáculo aborda “o capitalismo, a guerra, o fascismo” que classifica como uma “trilogia diabólica”. “Quando nos propusemos a trabalhar em conjunto, mais uma vez, voltamos a este tema do capitalismo e da forma como nos consome”, concluiu.
O FIMP conta também com “Aruna e a Arte de Bordar Inícios”, do estúdio ETC, que além de sessões escolares terá uma exposição compacta no Teatro Municipal do Porto Campo Alegre, numa mesa colocada no átrio, para nos incitar a pensar sobre os processos de reconstrução após desastres.
Neste primeiro fim de semana, nota ainda para a reposição de “Jardineiro Imaginário”, peça de 2022 do Teatro de Marionetas do Porto, que sobe ao palco no domingo (13) às 17h00, no Rivoli – Teatro Municipal do Porto (Auditório Isabel Alves Costa). Inspirado pelo universo literário, em particular por alguns poemas da antologia “Sonhador Definitivo” e “Perpétua Insónia”— uma coleção de poesia surrealista em francês traduzida por Regina Guimarães —, o texto desvincula-se da realidade, impulsionado pela experimentação com diversos materiais, e embarca num voo onírico.
Ainda ao nível da programação, destaque para a exposição Fimpografias que poderá ser visitada até 10 de novembro, no Teatro Carlos Alberto. A fotógrafa Susana Neves, que acompanhou o FIMP entre 2010 e 2020, apresenta uma visão única de momentos marcantes da última década do festival.
No espetáculo “Dura Dita Dura”, a companhia Teatro de Ferro traz nos dias 16 (11h00 e 15h00) e no dia 17 (15h00 e 19h00), para o Teatro Carlos Alberto, um espetáculo de marionetas para todas as idades, que explora a opressiva atmosfera de medo silencioso que dominou, por décadas, um país onde até as paredes pareciam ouvir tudo.
Já no workshop “Fimpalitos’24”, o FIMP mostra como as marionetas podem ser também um caminho ecologico, transformando o que seria lixo em arte. A primeira sessão decorreu este sábado de manhã no Mosteiro de São Bento da Vitória. A próxima vai ser no Teatro Constantino Nery, sábado, dia 19, entre 10h30 e 12h30 .
Um tema sempre atual
Fundado em 1989 por Isabel Alves Costa e João Paulo Seara Cardoso, o FIMP chega à sua 35.ª edição sob a direção de Igor Gandra. Este ano, o lema “Existir. Resistir! Desistir…” convida à reflexão sobre a complexidade das relações humanas e a resiliência necessária para enfrentar tempos desafiadores.
“Estas ideias estão presentes de maneiras diferentes em cada uma das propostas. Também há aqui uma espécie de sinal destes tempos, em que se continua a equacionar, por um lado, modos de existência e de coexistência, a procurar formas de resistência àquilo que são situações opressivas ou injustiças e também alguns casos de desistência, que também é desistir de um certo caminho”, observa Igor Gandra em declarações ao JPN.
O FIMP é um festival histórico que já recebeu diversas gerações, algumas das quais encontraram nas marionetas uma missão de vida. Igor Gandra, em conversa com o JPN, ressalta que A sua trajetória artística está profundamente ligada ao festival: “Eu comecei a interessar-me por marionetas graças a este festival. Quando era muito novo, trabalhei como voluntário, e foi a partir daí que decidi que queria ser marionetista”, conta.
Igor Gandra e Gustavo Costa à margem dos ensaios finais de “Capital Canibal”, peça que dirigem em conjunto. Foto: Fernanda Lima/ JPN
“As marionetas têm uma suposta ligeireza que torna possível abordarmos temas super densos e pesados de uma forma aparentemente mais leve. Nós podemos ter uma carga de ironia, de sarcasmo e ir bastante ao fundo de algumas questões e tornar estes assuntos acessíveis para muito mais gente”, completa Gustavo Costa, da Sonoscopia.
Sobre a extensão do festival a Aveiro, que ocorreu no ano passado, Igor Gandra esclareceu que, devido à intensa programação da cidade, que é capital nacional da cultura este ano, não foi possível repetir a iniciativa este ano.
O FIMP tem espetáculos que passam por diversos espaços entre Porto e Matosinhos, nomeadamente: Teatro Municipal do Porto Rivoli, Teatro Carlos Alberto, Mosteiro São Bento da Vitória, Teatro de Ferro, Teatro Municipal do Porto Campo Alegre, Jardim de São Lázaro, Círculo Católico de Operários do Porto, Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery, Teatro de Belomonte, Palácio do Bolhão, Casa da Arquitectura, além da Estação de Metro da Trindade e dos ecrãs das estações da Metro do Porto.
Editado por Filipa Silva